O desempenho na competição paralela importa, e é por isso que o Inter preocupa



O goleiro Muriel foi um dos poucos jogadores do Internacional que aceitou falar com a imprensa após a derrota para o Flamengo. Entre as suas declarações, fez uma análise correta: o melhor modo de o Inter chegar forte para a semifinal da Libertadores é fazer uma boa campanha no Brasileiro. Pena que, para 2015, já é tarde demais: no período entre o jogo com o Santa Fe e a partida contra o Tigres, o Colorado fez 9 pontos em 27 disputados. Um aproveitamento de rebaixado. E o pior: não recuperou lesionados em tempo hábil de lhes dar ritmo de jogo, não manteve o esquema tático azeitado de antes, perdeu mecânica de jogo e, principalmente, confiança. Um desastre.

Talvez a falta de foco explique mesmo parte do que vem acontecendo. Mas isso não absolve em nada o péssimo trabalho dos últimos 40 dias. Pelo contrário: a história recente mostra que, em competições afastadas ou que sofrem uma parada brusca, é extremamente importante chegar para o confronto decisivo estando em um bom nível. A competição paralela importa bem mais do que parece.

Peguemos o exemplo do próprio Inter, cinco anos atrás. A criticada equipe de Jorge Fossati chegou às semifinais da Libertadores sem convencer a plenitude dos torcedores, ao contrário do time de Diego Aguirre neste ano. A competição continental parou para a Copa do Mundo, e a estratégia do novo técnico Celso Roth foi a de escalar os titulares em todos os quatro jogos do Brasileiro que antecediam a primeira partida das semifinais, contra o São Paulo. O Colorado venceu todas (Guarani, Ceará, Atlético Mineiro e Flamengo foram os adversários), eliminou os paulistas e foi campeão em cima do Chivas. Chegou confiante, em alta, o que facilitou bastante as coisas. Semifinal e final de Libertadores é tiro curto. Estar em bom momento nessa hora é algo decisivo.

No segundo semestre daquele ano, com título continental conquistado, a estratégia foi inversa. Com longos quatro meses entre a final da Libertadores e a estreia no Mundial, Roth só utilizou time completo uma vez: diante do Vitória, na penúltima rodada. Fez rodízio de goleiros, poupou jogadores a rodo. Nos últimos dez jogos daquele campeonato, o Inter só ganhou dois. Deu no que deu. Este é só um exemplo, não pode ser tomado como regra, mas há outros: Grêmio, no Gauchão de 2013, fez algo semelhante e se deu mal na Libertadores. São Paulo e Inter voltaram da Copa de 2006 com tudo no Brasileiro, e chegaram à final da competição.

Isso não significa que o Inter necessariamente será eliminado da Libertadores pelo Tigres. O grupo pode "virar a chave" e ser campeão. Mas deixa claro como a situação das últimas semanas foi mal conduzida. Como Roth em 2010, Aguirre não está sabendo adaptar seu planejamento à realidade da situação, que é diferente da do primeiro semestre. Nada impede que o Colorado ganhe o tricampeonato da América: são jogos em mata-mata, e seus rivais também têm seus problemas. Mas fica claro que a situação, se fosse mais bem trabalhada, seria muito menos tensa. Afinal, é muito melhor chegar para uma decisão com clima positivo, de confiança na medida certa e com boa fase técnica do que com os nervos à flor da pele, torcida impaciente e futebol cada vez menor.

Dominado de novo em casa
Ontem, o Inter jogou ainda menos do que domingo. Se diante do Atlético a equipe chegou a fazer um confronto bem parelho até sofrer o primeiro gol, contra o Flamengo se viu dominada. Claro, o gol em impedimento logo no começo prejudicou a atuação, mas chama a atenção o modo passivo do time de Diego Aguirre em campo. O segundo gol demorou a acontecer, tal o número de chances criadas pelos cariocas no começo do segundo tempo. Talvez a estratégia de botar um time desfigurado de agora em diante no Brasileiro seja mesmo a saída, se o diagnóstico é de que os jogadores estão se poupando. Diante de tudo isso, por mais incrível que pareça, o lanterna Joinville não chega como zebra para o jogo de domingo. Pelo contrário.

Um time organizado parou o Grêmio
De todos os times enfrentados pelo Grêmio sob o comando de Roger, a Chapecoense se mostrou o mais bem montado taticamente. Povoando o meio-campo, os catarinenses jamais foram dominados como Cruzeiro, Atlético Paranaense e Santos, por exemplo. Mais do que as substituições, o principal erro do treinador gremista na Arena Condá foi não ter colocado Edinho como volante pela esquerda, o que ajudaria a frear as subidas constantes de Apodi pelo lado direito. Foi por ali que a Chape mais incomodou e chegou à vitória, resultado ruim se tomado isoladamente, mas aceitável num contexto de 15 pontos ganhos nos últimos 18 disputados. Sábado, diante do pobre Vasco, a obrigação é de vitória.

O fim do selinho do Sport. E o Palmeiras vem aí
Deu Atlético no duelo dos líderes, com Mineirão lotado. O 2 a 1 premiou a equipe que mais buscou o gol. Ainda assim, o Sport de Eduardo Baptista mostrou bom futebol: passou o primeiro tempo todo sem correr riscos e, mesmo dominado na maior parte do segundo, teve boas chances de empatar. O resultado garante a permanência do Grêmio no G-4 ao final desta rodada, mas a concorrência de agora em diante promete ser forte: o São Paulo se recuperou ao aplicar 4 a 0 no Vasco e o Palmeiras enfiou mais uma goleada sob o comando de Marcelo Oliveira. Talvez seja, pelo potencial do elenco e pelo jóquei que o conduz, o time mais preparado a desafiar o Galo na disputa pelo título deste ano.

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