Parece algo imperceptível a olho nu, mas Gerardo Martino vem fazendo algumas alterações no posicionamento do setor ofensivo da Argentina nesta Copa América. No começo da competição, Biglia e Pastore atuavam praticamente lado a lado. A primeira providência foi recuar o primeiro para jogar ao lado de Mascherano e adiantar Pastore para próximo dos atacantes. Diante da Colômbia, Messi, apático diante da Jamaica, saiu da extrema direita do campo e passou a se infiltrar pelo meio. Era sua melhor atuação na competição até aquele momento. Era.
Ontem, contra do Paraguai, a mudança definitiva, que fez o time encaixar de vez: em vez do 4-3-3 de sempre, Tata posicionou Agüero mais adiantado que os demais homens de frente, formando uma linha de meias com Di María, Pastore e Messi, um 4-2-3-1 de fato e de direito. Foi através deste posicionamento, que proporciona muita aproximação troca de posição entre eles, que a seleção chegou ao massacre de 6 a 1, o qual lhe dá a pinta de favorita ao título da Copa América.
Treinador do Paraguai que mais longe foi em uma Copa do Mundo em todos os tempos, Martino não inventou a roda fazendo isso. A mudança, repito, é muita pequena. No entanto, foi decisiva para que uma temida história não se repetisse: a do jogo da primeira fase. Os argentinos venciam os guaranis por 2 a 0, sofreram com um adiantamento da marcação proposto por Ramón Díaz e cederam o empate. Ontem, esteve próxima de ocorrer outra vez. Foi num erro forçado pelo Paraguai na saída de bola de Otamendi que Barrios descontou, ainda no primeiro tempo.
A jogada do terceiro gol argentino é a que resume o sucesso da mudança de Tata. Ainda empolgado pelo bom fim de etapa inicial, o Paraguai forçou a saída de bola argentina, mas Zabaleta, marcado por dois, achou Biglia. Pressionado pela marcação ferrenha, o volante deu deixadinha para Messi, que abriu o clarão passando de viagem por dois adversários, recuando para Mascherano, também de primeira, ligar o ataque. Assim, na base da qualidade individual, a Argentina inverteu a lógica do jogo: quando Pastore recebeu já na intermediária ofensiva eram apenas três paraguaios que teriam de segurar ele, Di María e Agüero, sem falar nas chegadas de Messi, Biglia e Rojo, um por cada lado do campo. Com uma defesa lenta e fora do lugar, o meia do PSG serviu
Fideo Di María com maestria, e ele fez o 3 a 1. Basta clicar nas imagens abaixo para que elas se ampliem, e a explicação fique mais clara.
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O início do terceiro gol: Zabaleta se livra de dois paraguaios e encontra Biglia, igualmente marcado |
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Biglia toca de costas para Messi e já abre para ser opção pela direita. Messi recua para Mascherano e se projeta para receber na frente |
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Ao receber de Messi, Mascherano liga contra-ataque com quatro opções que, em vez de marcadas, agora estão livres |
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Pastore recebe o passe infiltrado de Mascherano. Enquanto dois estão em cima de Agüero, Di María surge livre por trás de Piris para invadir a área e fazer 3 a 1 |
A estratégia do Paraguai foi corajosa e correta. Seria oportunismo dizer que a equipe de Ramón Díaz errou ao tentar pressionar a Argentina, pois somente arriscando é que conseguiria chegar ao gol, como fez em sua estreia na Copa América. A diferença é que desta vez os argentinos jogaram mais aproximados, graças à pequena mudança promovida por Tata. Todos cresceram com isso: Messi saiu de uma zona morta do campo para ganhar a liberdade de flutuar pelo meio; Pastore, adiantado, dialogou com os companheiros a noite toda; e Di María, saindo de trás, e não preso à ponta esquerda, finalmente teve o protagonismo que dele se espera. E um detalhe: todos marcaram, e muito.
Fideo foi visto marcando as subidas de Bruno Valdez mais de uma vez, quase ao lado de Rojo e Mascherano. O comprometimento tático é grande.
A Copa América tem sua final óbvia confirmada, entre Chile e Argentina. Um jogo que tem tudo para ser espetacular, pois reunirá duas equipes semelhantes em diversos aspectos. Ambas jogam de forma ofensiva e extremamente compactada. São equipes muito técnicas, mas que têm seus problemas defensivos. E, principalmente, chegam babando pelo título. É claro que a pressão sobre os chilenos é imensa, pois nunca ganharam a Copa América, a disputam em casa e têm a seu serviço sua melhor geração em todos os tempos. Porém, os 22 anos sem conquistas com a seleção principal pesam demais sobre os ombros dos jogadores
albicelestes. Alguém vai sair da fila, e pra isso uma coisa é certa: terá de jogar muita bola para ser superior ao adversário. É difícil dizer quem foi melhor até agora.
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