O Peru mostrou que dá pra encarar o Chile, mesmo com 10 homens
A cada dia que passa, fica claro que a contratação de Ricardo Gareca pelo Palmeiras ocorreu no momento errado. O cabeludo comandante alviverde da metade de 2014 ganhou no futebol brasileiro uma injusta imagem de "mico do ano". Injusta em termos, na verdade: foram 10 pontos obtidos em 36 disputados, um ridículo aproveitamento de 27,8%, que levaria o time paulista não apenas à segunda divisão, mas à lanterna da competição. Porém, é preciso considerar o contexto: crise forte, meio de temporada e necessidade de resultados imediatos. A aposta, tivesse vindo no começo de 2015, com Paulistão no horizonte e menos imediatismo, poderia ter funcionado muito bem.
Os resultados positivos da carreira de Gareca superam, em muito, os negativos, e desde sempre: técnico campeão da Copa Conmebol com o Talleres em 1999, foi quatro vezes campeão argentino com o Vélez entre 2009 e 2013. Na seleção peruana, ele volta a comprovar sua competência: em quatro meses de trabalho, transformou uma das piores equipes das eliminatórias sul-americanas em semifinalista da Copa América. Antes de o torneio no Chile começar, teve apenas dois amistosos para preparar o time. Superou até o imediatismo desta vez.
Ontem, diante do Chile, o Peru deu uma lição ao Uruguai e uma dica a Argentina e Paraguai: é possível encarar os donos da casa de frente, mesmo no Estádio Nacional. A Celeste veio sem Suárez nas quartas de final, é verdade, mas a seleção peruana completa é inferior à uruguaia sem Luisito. É claro que o fator clássico pesa, mas o Peru nunca abdicou de tentar o gol. Foi o primeiro time que ousou jogar de igual para igual com os anfitriões, e por pouco não saiu premiado por isso. E mais: teve um jogador expulso ainda no primeiro tempo - Cavani foi retirado de campo nas quartas de final aos 15 do segundo. Jogou mais tempo com um a menos.
Posicionado no comando do ataque, Guerrero confundia a defesa chilena com mudanças constantes de posicionamento, abrindo espaços para Farfán, os pontas e os laterais do Peru |
O Peru, com as limitações técnicas evidentes que possui, conseguiu mostrar que, se encarado com postura, o Chile está longe de ser um time imbatível. Ainda assim, paradoxalmente, ficou claro ontem mais que a seleção anfitriã, alem de ser ótima tecnicamente, é muito bem treinada. Para fazer valer sua superioridade numérica, a equipe de Jorge Sampaoli encurtou o campo de forma impressionante: quando atacada, tinha em Vargas e Sánchez dois homens posicionados em sua intermediária defensiva; quando tinha a bola, os zagueiros Medel e Jara faziam o mesmo na ofensiva. Fica difícil se esquivar de ataques e puxar contragolpes quando o adversário se posiciona desta maneira, na qual os 10 jogadores de linha se separam por um intervalo de apenas 20 ou 30 metros. O Peru só conseguia perigo quando os laterais se aproximavam dos pontas e conseguiam o dois-um em cima de algum lateral.
Foi um grande duelo tático, o de Sampaoli e Gareca. Com certeza não é à toa o fato de os quatro treinadores dos semifinalistas serem, todos eles, argentinos.
Com 10, o Peru perde a figura do meia centralizado que se aproximava de Guerrero, mas as jogadas pelos lados seguem fortes, o que causou problemas ao Chile |
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