O Brasil perdeu para a Colômbia. E isso é absolutamente normal



Os tempos são outros, e quem ainda não entendeu isso precisa rever seus conceitos. O Brasil é pentacampeão do mundo, sim. Mas, hoje, o fato é que tem menos time que a Colômbia: talvez tenha melhor material humano à disposição, certamente tem mais tradição e obrigatoriamente deveria ter jogado mais - a irritação por ontem precisa se concentrar principalmente neste último ponto, pois a postura em campo, muito mais do que o resultado, é que foi inaceitável. O 1 a 0 foi normal, lógico até: o Brasil é um time menos maduro, e muito longe de estar pronto. Vive uma crise geracional, enquanto sua adversária de ontem está na melhor fase de sua história e conta com um time entrosado, quase idêntico ao que chegou entre os oito melhores da Copa do Mundo do ano passado, e, principalmente, que precisava ganhar o jogo para sobreviver na Copa América. A derrota de ontem, dentro de todo esse contexto, foi normal. O que custa aos brasileiros é aceitar isso.

Mas isso precisa ser aceito. Talvez o Brasil precise passar por seu "processo de humilhação". O termo foi cunhado por Celso Roth em uma entrevista em 2008, quando o Grêmio passava por uma intertemporada em abril, após ser eliminado do estadual pelo Juventude e da Copa do Brasil pelo Atlético Goianiense, que jogava na terceira divisão nacional naquela época. Claro, perder para a forte seleção colombiana, provavelmente a segunda mais forte da América do Sul hoje (e 4ª colocada no Ranking da FIFA), não é nenhum fiasco, mas a questão é outra: depois do fracasso no ano passado, o Brasil ganhou todos os 11 jogos seguintes que disputou. Não houve o "processo de humilhação" após a humilhação propriamente dita. Ou seja: digerir o fracasso na Copa era necessário, e talvez alguns tropeços fossem importantes para que não fôssemos da depressão ao otimismo tão rapidamente. O que ocorreu naquela fatídica tarde no Mineirão não foi um tropeço qualquer, aleatório.

Antes que alguém pense que achei ruim o Brasil ganhar todos os jogos da Era Dunga até ontem, explico. Embora saibamos que são apenas amistosos, e por mais que precisemos colocar os 7 a 1 + 3 a 0 em perspectiva, foi criada uma expectativa sobre esta seleção de que chegaríamos com um time pronto à Copa América, por conta dos bons resultados contra adversários fortes que tivemos de agosto do ano passado para cá - eu mesmo elogiei muito a evolução que o Brasil teve neste período. Perder nunca é bom, mas a derrota de ontem prestou um serviço importante: mostrar que ainda estamos longe de ter uma equipe pronta e confiável vestindo a camisa amarela. Tecnicamente já sabíamos disso, mas coletivamente isso ficou claro também. Precisamos entender que este é um time em formação, e times em formação oscilam. Se a primeira derrota não veio nos amistosos, paciência. Teve de vir na Copa América. E é ela que vai colocar um freio no otimismo, embora também não deva servir de argumento para terra-arrasada a respeito do trabalho que vem sendo (bem) feito.

Muitos poderão argumentar que o Brasil ganhou todos os jogos que não importavam e, quando chegou à primeira competição oficial, só venceu o Peru nos acréscimos e foi incontestavelmente dominado pela Colômbia. Isso não deixa de ser correto, mas é preciso ir além do fator emocional ou de arbitragem, como os jogadores (até mesmo os mais experientes) chegaram a choramingar. Dunga faz um bom trabalho até agora em sua volta à Seleção, mas vem cometendo o mesmo erro de sua passagem anterior: aposta demais na repetição de uma escalação e não testa alternativas. A ausência de Oscar desarticulou completamente o Brasil. Isso não foi visto só ontem, mas diante de México, Honduras e Peru também. É visível que ele tenta encontrar uma solução alternativa e não acha.

Nos oito amistosos realizados antes da convocação para a Copa América, o Brasil atuava num 4-2-3-1 com boa chegada à frente e muita facilidade de recomposição. Por isso se falava muito que a Seleção tinha cara de time, e dos mais entrosados. Só que o principal problema de Dunga como técnico é a dificuldade de trabalhar sem seus homens de estrita confiança. Se ele simplesmente substituísse Oscar por Philippe Coutinho (um jogador de características pessoais diferentes, mas de mesma função em campo), ao menos a mecânica de jogo seria preservada. Contra o Peru, ele colocou Fred, que é um jogador de apoio, mas sem capacidade para comandar uma articulação. Ontem, preferiu manter o ex-colorado, seu homem de confiança desde 2013, e abdicar da figura centralizadora que facilitava a transição ofensiva. O Brasil jogou num 4-4-2 com duas linhas de quatro, com meias abertos, mas sem qualidade criativa, com o vício de afunilar todas as jogadas - o próprio Dunga admitiu isso em sua coletiva.
No 4-2-2-2, Brasil tentou espelhar a Colômbia. Acabou sem criação, viu os atacantes ainda mais isolados e foi dominado
Agora, vem o mais preocupante de tudo: se ao perder Oscar Dunga já parece ter perdido a mão da Seleção, como será sem Neymar? A Venezuela será já um duro teste (em 2011, empatou em 0 a 0 com o Brasil na primeira fase), mas as quartas de final, caso o Brasil passe, serão piores ainda sem ele. A solução não é tão complexa assim: em sua melhor atuação após a Copa do Mundo, no Stade de France, o time canarinho teve Willian pela direita, Oscar centralizado, Neymar pela esquerda e Firmino no comando das ações. A questão é encaixar Diego Tardelli e Philippe Coutinho nos lugares dos que não poderão jogar, para preservar melhor as características do time. Dunga tem ido mal porque abriu mão de suas convicções táticas por conta dos desfalques. E estas convicções são as que não devem ser deixadas de lado, pois, quando dão certo, são as que facilitam a montagem de um time confiável. Para times em formação, então, são vitais.

Comentários

Lique disse…
eu achei essa convocação muito estranha. colocaria ramires e hernanes, no mínimo, no lugar do fred e do éverton ribeiro (quem joga no oriente médio deveria ser proibido de figurar na seleção). acho o ramires muito mais meio-campista do que o elias. oscar faz falta também.
Lique disse…
ah, também chamaria o lucas do psg. o dunga tem esse lance de GRUPO e acaba morrendo abraçado com uns jogadores medíocres. alguém aqui acha que o firmino é mais jogador que o lucas? acho brabo. o firmino tem seu valor, mas o lucas é melhor, mesmo não sendo da mesma posição. podia entrar no lugar do robinho, que fosse.
Vicente Fonseca disse…
Eu também acho que especialmente o Hernanes tinha espaço. Acho Ramires e Elias equivalentes, e o Elias vive uma fase em geral melhor. Sobre o Éverton Ribeiro, acho que, se ele está convocado, deveria estar sendo mais aproveitado, pois falta alguém pra armar jogo nessa seleção.

Sobre o Lucas, eu acho que a paciência com ele na seleção é muito pouca. Acho que ele tem totais condições de jogar, e merecia mais oportunidades. Mas como tu disse, acho que é posição diferente do Firmino - que pra mim é um ótimo jogador, que afundou com o time nos últimos jogos.

O Robinho pro Chile pra tocar pandeiro.