Erros do Equador salvam um Chile ainda travado



Desde que Marcelo Bielsa assumiu o Chile, após o fiasco na Copa América de 2007 (é, o Carta já existia naquela época), a variação tática da equipe virou um dos grandes trunfos de La Roja. Marcação adiantada, pressão na saída de bola rival, mudanças de posicionamento constantes... Tudo isso, somado à imensa qualidade técnica da atual geração chilena, atrapalha demais os adversários. Ontem, porém, na estreia da Copa América, parece, a uma primeira vista, ter atrapalhado mais o Chile do que o Equador, que só perdeu o jogo porque cometeu erros bobos - equívocos deste tamanho pesam contra equipes de bom nível. Mas só parece, pois trata-se de uma falácia.

Jorge Sampaoli sabia que o jogo de ontem era essencial para o Chile. Não só porque começar um torneio em casa vencendo é fundamental no aspecto anímico, mas porque todos sabem que o Equador é mesmo o rival mais complicado desta primeira fase. Isso tudo, e mais a frieza do público no Estádio Nacional, tão reclamada por Alexis Sánchez, travou os jogadores chilenos. As variações táticas do treinador argentino, incrivelmente, parecem (mas só parecem, repito) ter jogado contra a própria equipe: como errar não era permitido, cumprir à risca o que dizia a prancheta tirava dos grandes atletas andinos a capacidade de improvisar diante de um adversário que, embora tecnicamente inferior, tinha qualidade e, acima de tudo, jogava com grande organização e simplicidade.

No entanto, dizer que o problema está na variabilidade tática da equipe chilena é um modo simplista de ver o jogo. A questão precisa ser enxergada por outro lado. A versatilidade do grupo de Sampaoli é, talvez, o grande trunfo dos anfitriões (ao lado, claro, do fator local) nesta Copa América, como já foi nas últimas duas eliminatórias. A questão de ontem era visivelmente emocional. Para executar bem e com imposição a estratégia proposta por seu técnico, o Chile precisava de mais concentração. Ontem, tudo o que faltou ao time da casa foi tranquilidade.

A prova disso está no segundo tempo, quando a vitória foi construída, mas em lances isolados. No primeiro tempo, o Chile, apesar de não ter feito um grande jogo, foi superior ao bom time do Equador. Com a bola, o ala Isla virava quase um ponta. Medel fechava como lateral direito recuado, e Beausejour fazia o mesmo pelo lado esquerdo. Vidal e Valdivia alternavam entre a direita e a esquerda o tempo todo, o que, somado aos recuos de Alexis Sánchez, confundia os equatorianos - tentamos explicar isso tudo na prancheta abaixo, mas é complicado. Faltava a tranquilidade e a naturalidade de quem estava antes acostumado a não ser o centro das atenções, o favorito da vez, mas o controle das ações era claro.
Enquanto o Equador jogava no clássico 4-4-2 em linha, o Chile apostou num 3-6-1 que virava 4-2-3-1 dependendo da situação de jogo
Sampaoli avaliou mal o problema da equipe no intervalo, colocando justamente na variação tática a culpa pelo 0 a 0, em vez de olhar para o lado motivacional. O Chile veio num tradicionalíssimo 4-4-2 com poucas variações, tentando simplificar: Vidal jogava mais recuado, Valdivia virava falso nove quando o time tinha a bola e Vargas e Sánchez abriam pelos lados. O Equador passou a controlar o jogo sem maiores problemas. Foi justamente quando Vidal "desobedeceu" a prancheta e subiu como fazia no primeiro tempo, quebrando a monotonia que nada tem a ver com a cara deste Chile, é que a equipe chegou ao pênalti bobo cometido por Miller Bolaños - às vezes, atacante voltar demais para marcar atrapalha mais do que ajuda. Ainda assim, os equatorianos seguiram superiores, colocaram uma bola no travessão, e só não tiveram melhor sorte porque erraram feio de novo, e Sánchez aproveitou para servir Vargas, que matou o jogo.
No segundo tempo, 4-4-2 em losango piorou a equipe de Sampaoli. De primeiro volante, Díaz virou zagueiro; de meia, Vidal recuou à cabeça da área
Técnico de fortes convicções, Jorge Sampaoli dificilmente abdicará do estilo chileno costumeiro na partida de segunda, contra o México. E fará bem se assim fizer, pois a tendência é que, passada a tensão da estreia, o Chile jogue mais solto e a própria torcida se inflame mais (ontem, a tensão era visível nas arquibancadas do Estádio Nacional). A Roja confiante, animada e mais tranquila tem tudo para ser até finalista desta Copa América. O time quadrado do segundo tempo, embora tenha chegado à vitória, não tem nada a ver com que Bielsa e Sampaoli sempre pregaram.

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