Deixa que eu não chuto
Um dos maiores problemas de construção do elenco do Palmeiras é a falta de um goleador nato. Isso é sabido há tempos, tanto que Alecsandro deve chegar segunda-feira justamente para tentar corrigir a falha. Mas, mais do que isso, o que falta à equipe paulista é alguém que assuma a responsabilidade, que arrisque, que tenha personalidade de finalizar. No empate em 1 a 1 com o Internacional, isso ficou evidente de uma forma gritante. Mas em todos os jogos no Allianz Parque até agora neste Brasileiro a história foi semelhante.
O Palmeiras foi superior ao Inter em, talvez, 80% do tempo. Armado num 4-3-2-1, o time de Diego Aguirre entrou fechado mais do que costuma. Isso o impediu de exercer a marcação adiantada a que nos habituamos a ver na Libertadores, e chamou os paulistas para o ataque. Para piorar as coisas, Alex e Valdívia estiveram em suas jornadas menos inspiradas em toda a temporada. Não havia articulação, Nilmar praticamente não era acionado e a marcação, ainda assim, falhava pelo lado esquerdo, com o limitado Alan Ruschel tendo de cobrir o pavor constante que se abateu sobre o assustado estreante Artur.
Ainda assim, apesar de ter muito mais volume, o Palmeiras criou pouco tempo também no primeiro tempo. Teve quatro oportunidades ao longo da primeira etapa, o que contrasta com seu enorme volume de jogo. Isso se explica pelo baixo poder de conclusão da equipe. As coisas também poderiam ter sido fáceis se Dudu não estivesse mais uma vez em uma noite bastante infeliz. Ele repetiu hoje o que fez na estreia, diante do Atlético-MG: um futebol dispersivo, pouco vertical e cheio de erros de fundamentos. Zé Roberto, por outro lado, deu mais um show de vitalidade e dinamismo.
O segundo tempo começou em ritmo menos intenso, mas na mesma toada: Palmeiras propondo sem de fato concluir, Inter se defendendo sem conseguir ter saída de trás. O gol só poderia vir do mesmo modo manjado de sempre: Zé Roberto levantou escanteio na cabeça de Vítor Hugo, exatamente como diante do Galo, na estreia. Aí, brilhou a estrela de Diego Aguirre mais uma vez: Vitinho e Rafael Moura entraram e, de cara, construíram a jogada do gol de empate, um gol tão sortudo quanto o que o He-Man marcou diante do Santa Fe, desta vez bem mais sem querer. Quando a fase é boa, é boa.
Nos minutos finais, o jogo ficou bastante aberto. O Palmeiras chegou mais vezes, claro, mas o Inter levou mais perigo. O motivo é simples: no Colorado, o medo de bater a gol não existe. Rafael Moura quase fez o segundo em passe de Anderson (entrou bem no jogo), depois de Cleiton Xavier, pelo outro lado, ter duas chances em sequência de fuzilar Alisson e não chutar. Justamente Cleiton Xavier, jogador tão experiente, que tão bem bate na bola, que por causa de uma arriscada marcou um dos gols mais espetaculares da história do clube, em 2009, contra o Colo-Colo.
Isso é questão de ajuste. Claro que o Palmeiras precisa de alguém que tenha o gosto por marcar gols (Alecsandro pode ser este jogador), mas é preciso, mais até do que treino, um bom papo de Oswaldo com seu elenco para que esse tipo de situação não se repita mais. Em casa, o Alviverde já desperdiçou 7 dos 9 pontos que disputou. Pontuação preciosa, que não volta mais. Como precioso é o ponto obtido pelo Inter: mesmo sem jogar bem, contou com a sorte e traz a Porto Alegre um empate mesmo repleto de desfalques. Porém, para que ele seja bom, é obrigação ganhar do Coritiba no domingo de manhã.
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Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2015 - 5ª rodada
4/junho/2015
PALMEIRAS 1 x INTERNACIONAL 1
Local: Allianz Parque, São Paulo (SP)
Árbitro: Rodolpho Marques (PR)
Público: 36.199
Renda: R$ 2.355.343,75
Gols: Vítor Hugo 19 e Rafael Moura 31 do 2º
Cartão amarelo: Lucas, Alex, Anderson, Artur e Alisson
PALMEIRAS: Fernando Prass (5), Lucas (6), Jackson (6), Vítor Hugo (7) e Egídio (6); Gabriel (6), Arouca (6) (Amaral, 42 do 2º - sem nota) e Zé Roberto (7) (Cristaldo, 39 do 2º - sem nota); Kelvin (6) (Cleiton Xavier, 26 do 2º - 4), Rafael Marques (6) e Dudu (4). Técnico: Oswaldo de Oliveira
INTERNACIONAL: Alisson (6), Ernando (6), Paulão (5), Juan (7) e Artur (4) (Vitinho, 31 do 2º - 6); Nico Freitas (5), Nilton (6) (Rafael Moura, 26 do 2º - 6), Alan Ruschel (5), Valdívia (4) e Alex (5) (Anderson, 14 do 2º - 6); Nilmar (5). Técnico: Diego Aguirre
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