Vitória tática deixa Juventus perto da final

A Juventus mereceu a vitória sobre o Real Madrid, e a conquistou porque encarou o jogo do modo certo. Sem Pogba, a equipe italiana dificilmente poderia ser a proponente das ações durante toda a noite em Turim. Ainda assim, isso não virou desculpa para uma atuação covarde: a Juve foi corajosa, mas na medida certa. Impôs seu ritmo na maior parte do tempo, foi dominada apenas por um quarto da partida e saiu com um 2 a 1 que não define o confronto, mas lhe confere uma vantagem importante para o jogo de volta.

Talvez prevendo que os italianos começariam o jogo em cima, Carlo Ancelotti armou o Real Madrid com formação diferente da que bateu o rival Atlético nas quartas de final. Naquele dia, também sem Modric e Benzema, o treinador colocou Chicharito pelo meio, mantendo o 4-3-3. Desta vez, armou um 4-4-1-1 com Cristiano Ronaldo centralizado e Bale fazendo a ligação entre ele e a segunda linha de quatro. Sem tanta gente para entrar na área da Juventus, o esquema chamou os italianos para a pressão no começo do jogo. Antes de Morata fazer 1 a 0, a equipe de Turim já havia tido boas chegadas na área de Casillas.

O ritmo da equipe da casa era intenso. Tévez era quem desequilibrava, tendo em Morata um companheiro muito superior ao tão experimentado Llorente, mas Vidal era o jogador mais importante da equipe, combatendo e armando o jogo com a mesma intensidade e qualidade, compensando uma atuação apenas razoável do gênio Pirlo. Aos poucos, porém, a imensa categoria do time madrilenho foi se impondo. Com Bale em noite burocrática, coube a Isco e James Rodríguez cavar os espaços. O empate veio num golaço de Cristiano Ronaldo: dois passes por cobertura de extremo alto nível, de Carvajal para James, de James para o português.

Depois de chegar ao empate, o Real Madrid não forçou tanto o ritmo. Respeitou a Juventus em demasia, em vez de partir para cima em busca da virada num momento psicológico favorável. Manteve a posse de bola no campo ofensivo quase que o tempo todo, e não sofreu mais com as chegadas cada vez mais esporádicas do time italiano. Poderia e deveria ter ousado mais. Em jogo deste nível, é preciso aproveitar os momentos positivos.

Em vez de postar seu time em cima dos espanhóis novamente na volta do intervalo, Massimiliano Allegri preferiu apostar no que a italianíssima Juve sabe fazer melhor: fechar-se com solidez e explorar os contragolpes. Com cuidado redobrado dos volantes e laterais, a equipe da casa não concedeu mais espaços ao Real Madrid, tornando o jogo morno no começo. No primeiro contragolpe que teve, chegou ao 2 a 1, uma jogada espetacular de Tévez, que terminou em pênalti convertido por ele próprio.

Ancelotti voltou ao 4-3-3 tradicional tirando Isco para a entrada de Chicharito. Na batalha tática, Allegri respondeu um minuto depois posicionando a Juventus num 3-5-2, com Barzagli no posto de Sturaro. Os italianos se deram melhor mais uma vez: a eficiente marcação apartou o Real Madrid em dois. Não eram raros os momentos em que havia quatro ou cinco espanhóis lá na frente, esperando uma bola sem que ninguém a trouxesse para o campo de ataque. Sem criatividade (Kroos ficou sobrecarregado na função, o que ajudou a Juve a ter o contra-ataque sempre), o quase bilionário time merengue tentou chegar ao empate na base do chuveirinho. É muito pouco.

Amordaçado pela boa marcação da Juventus, o Real Madrid passou a impressão de ser um time indolente e apático. Não é isso, embora tenha ido pouco além hoje à noite. Na verdade, a equipe de Ancelotti não teve capacidade coletiva de superar a sólida defesa italiana, dependendo de lances individuais para chegar ao gol que lhe mantém viva na disputa. Para se classificar, basta o 1 a 0 no Santiago Bernabéu, mas não será fácil conquistá-lo. A Juve não tem Pogba, mas teve hoje em Vidal e Tévez dois protagonistas de nível máximo - isso que Pirlo nem jogou tudo o que sabe. É um time que sabe se defender como poucos e conta com um fora de série na frente. Pode até perder, mas venderá certamente muito caro sua vaga na decisão.

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Ficha técnica
Liga dos Campeões da Europa 2014/15 - Semifinal - Jogo de ida
5/maio/2015
JUVENTUS 2 x REAL MADRID 1
Local: Juventus Stadium, Turim (ITA)
Árbitro: Martin Atkinson (ING)
Público: 41.011
Renda: € 3.305.232,00
Gols: Morata 7 e Cristiano Ronaldo 26 do 1º; Tévez (pênalti) 12 do 2º
Cartão amarelo: Bonucci, Tévez, Vidal, Chiellini, Marcelo, Carvajal e James Rodríguez
JUVENTUS: Buffon (6), Lichtsteiner (6), Bonucci (6), Chiellini (7) e Evra (5); Pirlo (6), Marchisio (6,5), Sturaro (5,5) (Barzagli, 19 do 2º - 6) e Vidal (7,5); Tévez (7,5) (Pereyra, 40 do 2º - sem nota) e Morata (6,5) (Llorente, 32 do 2º - 6). Técnico: Massimiliano Allegri (7)
REAL MADRID: Casillas (6,5), Carvajal (5,5), Pepe (6), Varane (5,5) e Marcelo (6); Sergio Ramos (5,5), Kroos (6), James Rodríguez (6,5), Isco (6) (Chicharito, 17 do 2º - 5,5) e Bale (5) (Jesé, 40 do 2º - sem nota); Cristiano Ronaldo (6,5). Técnico: Carlo Ancelotti (5)

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