Uma "intrusa" com forza

Com o domínio de Real Madrid, Barcelona e Bayern nos últimos anos, a Juventus era vista como a zebra das semifinais da Liga dos Campeões. Mas isso tratando a questão de uma perspectiva econômica, não levando em conta de se trata de uma das camisas mais pesadas do futebol europeu. E, mesmo sem tantos recursos financeiros e técnicos quanto os milionários madrilenhos, a Juve mostrou muito mais que camisa no Santiago Bernabéu. Mostrou consistência defensiva, organização tática, jogadores que também desequilibram nos momentos decisivos e, acima de tudo, postura de um finalista do maior torneio europeu de clubes.

Melhor na maior parte do jogo de ida, a equipe de Turim foi dominada no primeiro tempo. Contando ainda com o apoio da torcida, o Real Madrid empilhou chances: foram 12 nos primeiros 45 minutos, contra apenas uma dos italianos. E a Juve não foi deliberadamente retranqueira: ao contrário, tentou jogar, mas acabou suplantada pelo ritmo mais forte do time espanhol. Mesmo que James e Isco não estivessem em jornada tão inspirada, o Real Madrid chegava com grande perigo pelos lados. Benzema, de volta, mostrou toda sua importância: como pivô, deu opções a Cristiano Ronaldo e Bale a noite toda.

Ainda assim, embora sendo o 1 a 0 do primeiro tempo um placar merecido a quem teve mais volume de jogo, é preciso dizer que o Real Madrid só chegou ao gol através de um pênalti mal marcado de Chiellini em James. Cristiano Ronaldo converteu aos 22, e o ritmo do jogo não mudou: a Juventus tentava sair, tinha bom número de posse de bola, mas os espanhóis eram muito mais objetivos e perigosos. Pirlo errava muito na saída de jogo e Pogba, de volta, parecia carecer de ritmo, errando além de sua conta normal.

Para o segundo tempo, era previsível que o Real Madrid diminuísse o ritmo frenético da etapa inicial. E aí se abriu o espaço para a Juventus emparelhar de vez o jogo. Com Pogba, Vidal, Marchisio, Tévez e Morata mais próximos, a equipe italiana começou a etapa final atacando, arriscando tomar um gol no contra-ataque, mas nunca se omitindo de tentar o empate. E o conseguiu aos 11 minutos, com Morata, ex-Real Madrid, que mal comemorou o gol decisivo.

Nada, porém, parecia decidido. Faltando 33 minutos, além dos acréscimos, o Real Madrid tinha tempo de sobra para tentar ao menos levar o jogo para a prorrogação. Só que agora já não havia mais o fôlego de antes, e aos 21 Benzema, o melhor do time merengue hoje, saiu, cansado. Chicharito está degraus abaixo. Bale tentou puxar a reação, James cresceu de produção, Marcelo deu trabalho, mas a Juventus se defendeu muito bem. Não apenas nas espanadas competentíssimas de Chiellini e Bonucci, mas nas trocas de passe inteligentes dos meias e nas faltas cavadas por Tévez. Foram da Juve, aliás, duas das principais chances de fazer o 2 a 1 - uma com Marchisio, outra com Pogba, ambas salvas por Casillas.

A Juventus foi melhor em 70% do jogo de Turim e, em Madrid, foi o único time que fez um gol realmente legítimo. Portanto, é inquestionável sua classificação para a final. Os italianos frustram a final com superclássico espanhol e, diante do Barcelona, são ainda mais franco-atiradores que contra o Real Madrid. Será o duelo de uma defesa fortíssima contra o trio de ataque sul-americano imparável dos catalães. Mas a Juve não é só defesa: ela tem um meio de campo no nível dos melhores do mundo e um ataque não tão poderoso como o do Barça, mas de respeito, com Tévez e Morata. E não custa lembrar: Buffon, Pirlo e companhia já fizeram história em Berlim, nove anos atrás.

Em tempo:
- Suárez encontrando Chiellini e Evra na final. Bota pimenta nisso.

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Ficha técnica
Liga dos Campeões da Europa 2014/15 - Semifinal - Jogo de volta
13/maio/2015
REAL MADRID 1 x JUVENTUS 1
Local: Santiago Bernabéu, Madrid (ESP)
Árbitro: Jonas Eriksson (SUE)
Público: 78.153
Renda: não divulgada
Gols: Cristiano Ronaldo (pênalti) 22 do 1º; Morata 11 do 2º
Cartão amarelo: Isco, James Rodríguez, Tévez e Lichtsteiner
REAL MADRID: Casillas (6), Carvajal (5,5), Sergio Ramos (6), Varane (5,5) e Marcelo (6,5); Kroos (6), James Rodríguez (6) e Isco (5,5); Bale (6,5), Benzema (7) (Chicharito, 21 do 2º - 5,5) e Cristiano Ronaldo (6). Técnico: Carlo Ancelotti (6)
JUVENTUS: Buffon (6,5), Lichtsteiner (7), Bonucci (7,5), Chiellini (7) e Evra (6); Pirlo (5,5) (Barzagli, 33 do 2º - 6,5), Marchisio (6,5), Pogba (6) (Pereyra, 43 do 2º - sem nota) e Vidal (7); Tévez (6) e Morata (6,5) (Llorente, 38 do 2º - sem nota). Técnico: Massimiliano Allegri (7)

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