Um Boca correto, mas não para um superclasico



Assim como Diego Aguirre tem feito no Internacional, Rodolfo "Vasco" Arruabarrena tem por filosofia mexer bastante o elenco do Boca Juniors. Não é uma estratégia errada: exatamente como o Colorado, o treinador xeneize dispõe de um grupo de jogadores repleto de boas opções, e é na verdade um dever buscar as mais adequadas para tipo de jogo. No superclasico de ontem, jogando fora de casa, sem um torcedor azul y oro sequer em Núñez, a estratégia foi clara: fixar dois volantes e, na frente, buscar dois atacantes velozes, que puxassem um contragolpe.

Taticamente, não foi um erro. Para quem visitava um River com fome de vitória, em busca de uma vantagem sólida para administrar na Bombonera, o Boca entrou do modo certo. Porém, um superclasico não deve ser pensado apenas do modo tático, mas também pela experiência. Assim, manter jogadores como Chávez e Carrizo (relativamente, mas mais experientes que Calleri ou Pavón), sem falar em Osvaldo, no banco, revelou-se um erro. O caso do ítalo-argentino é o mais notório: com ele em campo, o time de Marcelo Gallardo jamais se posicionaria tão à frente como em todo o primeiro tempo. Teria mais gente com quem se preocupar atrás, tomaria mais resguardo e dificilmente teria condições de exercer a pressão que exerceu na primeira etapa.

Mesmo com Lodeiro e Pérez em boa noite, o Boca foi dominado no primeiro tempo porque o River ganhou o meio. Faltou a qualidade de ligação de Meli a um meio em que Cubas se viu perdido muitas vezes, devido à blitz do time da casa e ao amarelo recebido logo aos cinco minutos. Kranevitter e Ponzio faziam uma marcação muito eficiente e saíam para o jogo com qualidade. Os ingressos em diagonal de Driussi e Sánchez eram preocupações constantes: com o uruguaio Mora flutuando de um lado para o outro, entre eles e Teo Gutiérrez, os millonarios acharam ali um espaço valioso para criar perigo. Só não abriram o placar porque o colombiano segue devendo em clássicos contra o Boca. Ainda assim, é dever dizer que foi ele, Teo, o homem mais perigoso da primeira etapa. Não tirou o zero do placar porque Orión foi o melhor nome do jogo.

Depois de 45 minutos de pressão e um 0 a 0 já injusto, o Boca voltou com tudo do intervalo. Em 40 segundos, já havia perdido duas chances claras - no primeiro tempo, não criou nenhuma. Ali, a estratégia de seu técnico finalmente começava a dar o resultado esperado. O time visitante recuperou o respeito e deu o aviso: se o River se atirar de novo, pode sofrer trágicas consequências. Calleri e Pavón se aproximavam mais dos meias, e assim finalmente entravam no jogo. A segunda metade da partida foi equilibrada. Mesmo com uma gurizada do meio para a frente, o Boca cozinhava o rival como se estivesse na década passada, com Palacio, Palermo, Cagna, Delgado ou Tévez em cancha. Até que Marín fez a bobagem que fez, cometendo um pênalti esdrúxulo, bem convertido por Carlos Sánchez.

Pelo primeiro tempo, o River mereceu mais o resultado. Foi quem mais buscou o gol, e era normal que realmente fosse assim. Na Bombonera, porém, o 1 a 0 é passível de reversão (domingo, o Boca ganhou por 2 a 0, lembremos). Sem Gutiérrez, infantilmente expulso, Gallardo deve ir de Cavenaghi. O decréscimo técnico existe, mas o veterano tem histórico positivo em clássicos, ao contrário do colombiano. E o técnico adversário deu a dica com os erros de hoje: superclasico se pensa como superclasico, não como um jogo comum.

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Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - Oitavas de final - Jogo de ida
8/maio/2015
RIVER PLATE 1 x BOCA JUNIORS 0
Local: Monumental de Núñez, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Germán Delfino (ARG)
Público: 62.000
Renda: $ 23.137.750,00
Gol: Sánchez (pênalti) 36 do 2º
Cartão amarelo: Vangioni, Funes Mori, Ponzio, Sánchez, Barovero e Cubas
Expulsão: Gutiérrez 44 do 2º
RIVER PLATE: Barovero (6,5), Mammana (6), Maidana (6,5), Funes Mori (6) e Vangioni (6); Ponzio (6,5) (Mayada, 27 do 2º - 6), Kranevitter (7), Sánchez (6,5) e Driussi (6) (Martínez, 26 do 2º - 6,5); Mora (6) e Gutiérrez (4,5). Técnico: Marcelo Gallardo (6,5)
BOCA JUNIORS: Orión (7), Marín (4), Díaz (6) (Burdisso, 34 do 1º - 6), Torsiglieri (6,5) e Colazo (6); Cubas (5), Gago (6), Pérez (6) e Lodeiro (6,5); Calleri (4,5) (Osvaldo, 43 do 2º - sem nota) e Pavón (5) (Carrizo, 31 do 2º - 5,5). Técnico: Rodolfo Arruabarrena (5)

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