Tudo inusitado



Para um jogo sem grandes atrativos, Grêmio e Ponte Preta fizeram uma partida das mais agradáveis. Duas equipes com limitações podem fazer um bom jogo, e foi o caso da primeira manhã de domingo de Campeonato Brasileiro. E não foi o 3 a 3 estilo pelada: é claro que para haver um placar desses os dois têm de falhar defensivamente bastante, e foi o caso. Mas foi também um jogo bem jogado, com bem menos passes errados, por exemplo, que o bom Palmeiras x Atlético-MG de ontem. Nada que sirva de consolo aos gremistas, claro.

Luiz Felipe mudou o time mais do que deveria. A equipe foi mal no Gre-Nal, mas não precisava de tantas mudanças. A mais surpreendente foi Lincoln na equipe e Douglas no banco, e não funcionou. Giuliano só rendeu bem no Grêmio até hoje atuando pela direita, não centralizado. Como Lincoln e Luan não têm a característica da armação, tudo ficou a cargo do camisa 11, que não soube executar a função como deveria e irritou a torcida.

O primeiro tempo deu uma impressão errada do que seria o segundo. Foram apenas duas chances, ambas de bola parada: um gol anulado de Geromel e um válido de Mamute. Parecia o Grêmio de 2014 em campo: um time sem qualidade para criar, mas com extrema segurança para se defender, que de vez em quando achava um gol e levava os três pontos. Nada a ver com o restante da partida.

Guto Ferreira abriu a Ponte no intervalo com Diego Oliveira no lugar de Paulinho, e o Grêmio passou a achar espaços para articular. E o fez muito bem: Galhardo era uma boa alternativa pela direita, Yuri Mamute saía bem da área para tabelar e Luan, como no primeiro gol, fez a diferença, construindo uma jogada espetacular que terminou com o 2 a 0. O jogo estava totalmente à feição do Tricolor. Até que os problemas começaram a aparecer.

Desta vez, ao contrário do que normalmente, o grande problema gremista foi defensivo, e justamente nos volantes, posição na qual o grupo é mais bem servido. Walace e Maicon não foram tão mal individualmente, mas nenhum dos dois guardou posição como deveria - Walace principalmente, pois era o homem encarregado disso. Em todos os gols da Ponte Preta, havia um buraco imenso no campo gremista, justamente onde eles deveriam estar. Foi por ali que Renato Cajá marcou seu golaço, deu a bomba que resultou no terceiro e criou todas as jogadas perigosas do time de Campinas. Foi por ali também que Biro Biro e Rodinei construíram a jogada do gol de Rildo. Pode-se dizer que Geromel bobeou no segundo gol, que Marcelo Grohe espalmou errado no terceiro, mas a origem dos três lances é a mesma.

A Arena, portanto, viveu um dia completamente inusitado. Jogo às 11:00, empate de 3 a 3 e um bom espetáculo num jogo que pouco convidava a atenção de qualquer espectador. O Grêmio, então, foi o oposto do que tem sido: criou bastante, mas vazou atrás. Teve centroavante fazendo dois gols e zagueiro e goleiros seguros errando. Teve três jogadores que saíram de seu modesto banco e entraram bem na partida. E teve titular badalado, de boa temporada até aqui, saindo vaiado devido a uma má atuação.

Em termos de campeonato, o resultado é obviamente negativo. O Grêmio deixa dois pontos em casa diante de um time que está longe de ser uma das forças da Série A. A atuação também traz motivos para preocupações: o time se desorganizou, se espalhou em campo, perdeu o controle de um jogo ganho. Falávamos hoje cedo que a partida seria difícil, mas não dá para ceder o empate duas vezes num jogo como este, que esteve quase ganho em vários momentos. A necessidade, agora, é recuperar os pontos perdidos no Couto Pereira, contra o Coritiba. O Alto da Glória é cheio de dificuldades, mas a fase do Coxa é ainda pior que a do Tricolor. É ganhar ou começar a ficar para trás já no começo da competição. E se reforçar, pois deste modo não chegará a lugar algum na competição.

Em tempo:
- Além de Luan e Mamute, o principal ponto positivo do Grêmio hoje foi a eficiência da bola parada. Foram três gols (contando o anulado) construídos deste modo - no Gre-Nal ele saiu assim, contra Juventude e Novo Hamburgo também. Para times que têm dificuldades de chegar trabalhando (embora não tenha sido o caso de hoje, o Grêmio tem problemas nesse aspecto), trata-se de uma arma poderosa.

- Lincoln foi bastante discreto atuando pelo lado. Douglas deve recuperar a titularidade em Curitiba.

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Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2015 - 1ª rodada
10/maio/2015
GRÊMIO 3 x PONTE PRETA 3
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Heber Roberto Lopes (SC)
Público: 13.164
Renda: R$ 378.586,00
Gols: Yuri Mamute 24 do 1º; Yuri Mamute 9, Renato Cajá 17, Rildo 19, Matías Rodríguez 33 e Diego Oliveira 46 do 2º
Cartão amarelo: Galhardo, Yuri Mamute, Walace, Biro Biro, Rildo e Renato Cajá
Expulsão: Tiago Alves 43 do 2º
GRÊMIO: Marcelo Grohe (5), Galhardo (6) (Matías Rodríguez, 30 do 2º - 6), Geromel (5), Rhodolfo (6) e Marcelo Oliveira (5,5); Walace (5), Maicon (5), Giuliano (4,5) (Douglas, 32 do 2º - 6), Luan (7) e Lincoln (4,5) (Everton, 26 do 2º - 6). Técnico: Luiz Felipe (5)
PONTE PRETA: Marcelo Lomba (5,5), Rodinei (5,5), Tiago Alves (4), Pablo (5) e Gílson (5,5); Josimar (4,5) (Juninho, 24 do 2º - 5,5), Fernando Bob (5,5), Paulinho (5) (Diego Oliveira, intervalo - 6,5) e Renato Cajá (7,5); Rildo (5,5) (Felipe Azevedo, 32 do 2º - 5) e Biro Biro (6). Técnico: Guto Ferreira (5)

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