Quem joga no erro de quem?



A tônica da semana decisiva do Gauchão era de que o Internacional jogaria em cima e o Grêmio ficaria fechadinho atrás, esperando um erro rival para definir o título a seu favor. O Gre-Nal, porém, nunca foi assim: as circunstâncias levaram o Tricolor a, desde o início, ter de partir para cima, correr atrás em desvantagem. E quem ganhou o campeonato e, na base do erro alheio, foi o Inter.

Os dois gols colorados surgiram a partir de erros gremistas. O primeiro foi de Matías Rodríguez, que perdeu bola boba no meio e viu D'Alessandro armar Valdívia, que serviu Nilmar. Um gol que mudou totalmente a história do jogo. O Grêmio, cedo demais, já era obrigado a atacar, algo para que não foi exatamente preparado. Na verdade, a equipe de Luiz Felipe não conseguia sequer se defender: a pressão do Inter atordoava o time azul, que concedia espaços generosos e não era capaz de articular quase nada. O primeiro gol foi no erro, mas este erro foi forçado por méritos colorados.

Talvez o cartão amarelo cedo de Fellipe Bastos tenha minado uma peça importante da contenção gremista. Mas, passados os primeiros 10 minutos de pavor, o time de Felipão passou a ter mais a bola, jogar com mais calma. Aos 18, quando tentava se articular e entrar no jogo já tardiamente, um golpe duríssimo: Fellipe Bastos quase foi ao céu ao bater uma falta na trave, mas acabou indo ao inferno na sequência do lance, errando passe bem aproveitado por Nilmar, que devolveu a gentileza para Valdívia fuzilar. Agora assim, um gol no erro gremista puro, no contragolpe, no oportunismo no melhor dos sentidos. Já eram 2 a 0, só 18 minutos, e o Grêmio não conseguia se achar em campo. Pintava uma goleada.

Os gols sofridos vieram através de erros individuais, mas isso não pode esconder o fato de que o Grêmio era completamente dominado. O Inter exibia uma mecânica de jogo impressionante, com dinâmica e movimentação de todos no campo de ataque, enquanto o Tricolor penava para tramar qualquer ação, com Giuliano e Luan tímidos, Douglas lento e Braian Rodríguez sendo a nulidade de costume. Para piorar, havia um buraco imenso à frente da área, que apartava o time em dois e dava ao Inter espaço para chegar com perigo sempre. A vantagem rubra era ampla, ocorrendo no plano tático, técnico, individual e emocional.

Felipão começou a equilibrar o Gre-Nal quando colocou em campo Walace. Fellipe Bastos, além de mal, vinha amarelado. Depois da entrada do novo centromédio, o Inter jamais conseguiu contra-atacar. O Grêmio precisava mesmo de alguém mais postado. Teve uma ou duas chegadas mais fortes depois dos 30, mas achou um gol aos 46 - lance que fazia o primeiro tempo terminar com um placar bem menos elástico do que o jogo na verdade era, mas que trazia uma carga de tensão imensa para a segunda etapa.

No tempo complementar, mesmo com Yuri Mamute no lugar de Braian Rodríguez, faltou ao Grêmio poder de fogo. O jogo foi sempre nervoso porque a diferença era mínima, mas o Tricolor só levou algum perigo, a rigor, num chute de longe de Everton, aos 36. De resto, o Inter controlou a partida, segurou a tentativa de pressão sem ser acossado de verdade e cozinhou sua vantagem em banho-maria. O problema colorado foi a ausência de Nilmar, com dores musculares que preocupam para quarta-feira. Sem ele, o time perdeu de vez o contragolpe que o Grêmio já conseguira neutralizar no primeiro tempo.

O penta do Internacional tem em Valdívia seu protagonista dentro de campo. Dizíamos que ele disputava com Giuliano a condição de craque do Gauchão, e as finais é que desequilibrariam a favor de um deles. Pois o colorado se saiu melhor, dando uma assistência, fazendo um gol, segurando a bola, cavando faltas, infernizando a zaga gremista. Foi o craque do Gre-Nal e do Gauchão 2015.

Ainda assim, a conquista colorada tem principalmente a marca de Diego Aguirre, o primeiro técnico estrangeiro a ganhar o estadual em 65 anos. Foi ele quem achou o time promovendo um rodízio de atletas que deixou o grupo todo contente. Foi ele que não teve medo de deixar medalhões de fora inclusive da concentração para este clássico. Foi ele quem transformou um time que vazava demais atrás em uma defesa sólida. Foi ele que deu mecânica de jogo a uma equipe que era lenta demais, apesar dos jogadores técnicos que possuía. Aguirre usou o grupo do Inter de forma exemplar, superou preconceitos e levou o Inter a uma merecida conquista, a primeira do novo Beira-Rio.

Com relação ao Grêmio, a perda do Gauchão dói devido à importância que o clube sempre fez questão de dar a ele. Mas o Tricolor, ao contrário do ano passado, não fez feio na final. Recuperou-se de um começo tenebroso, encaixou, cresceu e encarou um rival superior a ponto de ter chances de título até o último minuto da competição. Entra no Brasileirão longe de ser um dos candidatos ao título, mas também há uma boa distância do temido risco de rebaixamento do começo do ano. Pode fazer um bom seguimento de temporada, mas precisa de um centroavante, um lateral direito e mais uns dois ou três reservas à altura do resto da equipe titular, que, fora isso, é sim de bom nível.

Em tempo:
- Fora alguns erros de inversões de falta e posse de bola, Leandro Vuaden levou o jogo sob controle. Ainda assim, poderia ter picotado menos a partida e deixado mais a bola seguir. Os dois times foram sempre leais, com raros lances um pouco mais ríspidos. A expulsão de Rhodolfo, no entanto, foi um exagero.

- Com 44 títulos a 36, o Inter abre 8 estaduais de vantagem sobre o Grêmio. É a maior diferença entre ambos em todos os tempos. O Tricolor segue devendo nesta conta, e cada vez mais caro.

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Ficha técnica
Campeonato Gaúcho 2015 - Final - Jogo de volta
3/maio/2015
INTERNACIONAL 2 x GRÊMIO 1
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
Público: 41.791
Renda: R$ 1.993.870,00
Gols: Nilmar 6, Valdívia 18 e Giuliano 46 do 1º
Cartão amarelo: Aránguiz, Valdívia, Ernando, Fellipe Bastos, Marcelo Oliveira e Walace
Expulsão: Rhodolfo 43 do 2º
INTERNACIONAL: Alisson (6), William (7), Ernando (5,5), Alan Costa (5,5) e Géferson (6) (Alan Ruschel, 35 do 2º - sem nota); Rodrigo Dourado (6), Aránguiz (6,5), D'Alessandro (7) (Alex, 23 do 2º - 5,5), Eduardo Sasha (6) e Valdívia (8); Nilmar (7,5) (Lisandro López, intervalo - 5,5). Técnico: Diego Aguirre (7)
GRÊMIO: Marcelo Grohe (6,5), Matías Rodríguez (4,5), Rhodolfo (6), Erazo (6) e Marcelo Oliveira (5); Fellipe Bastos (3,5) (Walace, 28 do 1º - 6), Maicon (5,5), Douglas (5) (Everton, 23 do 2º - 5,5), Giuliano (5,5) e Luan (5,5); Braian Rodríguez (4,5) (Yuri Mamute, intervalo - 5,5). Técnico: Luiz Felipe (5)

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