O último ato de Rogério Ceni
O futebol tem lá suas crueldades. Rogério Ceni viveu uma delas ontem à noite: de grande atuação no tempo normal, o goleiro do São Paulo pegou duas cobranças cruzeirenses, mas não foi o suficiente para classificar sua equipe para as quartas de final da Libertadores. Na saída de campo, quase sem palavras, algo raro para alguém tão articulado e normalmente consciente, confirmou que este foi seu último jogo de Libertadores. Um jogo onde seu time saiu eliminado para outro brasileiro, como em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2013...
Na verdade, a crueldade é mais poética do que prática. O Cruzeiro mereceu a classificação. No somatório dos 180 minutos, tivemos uma quase que rigorosa igualdade. No Morumbi, só deu São Paulo; no Mineirão, ocorreu o contrário. A Raposa é potencialmente mais time, mas em geral o duelo foi parelho. Por ontem, porém, o Cruzeiro mostrou ter mais a faca entre os dentes. Foram 12 chances criadas contra apenas duas, e incríveis 25 arremates a três. Superioridade demais para apenas 1 a 0.
Marquinhos infernizou Reinaldo a noite toda. A jogada era sempre a mesma: ele e Mayke faziam o dois-um nas costas do lateral são-paulino, que era envolvido e ali saía uma chance de gol. O diagnóstico foi feito cedo por Milton Cruz, que segurou mais Souza por aquele lado, e até Wesley às vezes. Ainda assim, era impossível parar. E não era só isso: pela esquerda, Willian tabelava com Arrascaeta, puxava para o meio, batia de longe. Teve uma atuação tão boa quanto a de seu colega de ponta direita, o bigodudo.
O grande mérito cruzeirense, além, claro, da superioridade técnica, foi nunca ter se afobado. A equipe de Marcelo Oliveira poderia ter metido os pés pelas mãos, como no 0 a 0 com o Huracán, quando foi se enervando com as chances perdidas. Desta vez não: era visível que o gol sairia, o próprio time sentiu isso. Tanto que o 1 a 0 veio exatamente do mesmo modo como a equipe atacou o tempo todo: pela direita, com Mayke. E ainda assim, em mais duas chegadas logo após o gol, com Marquinhos, a Raposa quase ampliou.
Luís Fabiano entrou no lugar de Pato aos 19, mas o que fez o São Paulo respirar no jogo não foi isso, e sim o fato de o Cruzeiro passar a arriscar um pouco menos. Não convinha mais se atirar, realmente: um gol são-paulino obrigaria os mineiros a fazer 3 a 1. A única chance na parte final do jogo veio em linda arrancada de Arrascaeta, que recebeu de Mena e bateu para fora, quase sem fôlego. E o Tricolor? Nada. Nada de Michel Bastos, nem de Wesley, muito menos de Ganso. Nada de criação. Nada de levar perigo. Nada de qualquer ambição.
Nos pênaltis, ambos os goleiros brilharam, mas os batedores cruzeirenses foram mais efetivos - à exceção principalmente de Manoel, de batida ridícula na bola. Confesso que apostava numa classificação do São Paulo: a vantagem de 1 a 0 era boa, e o time paulista vivia momento um pouco superior. Mas o Cruzeiro tem mais potencial, e agora ganha força. Seja contra Boca ou River, será osso duríssimo de roer.
Em tempo:
- Arbitragem impecável do uruguaio Andrés Cunha. Em um jogo pegado, que por vezes chegou a ser ríspido, apresentou apenas um cartão amarelo. Um tapa de luva na tese de muitos árbitros brasileiros medíocres, que usam o cartão como forma de "controlar" o jogo.
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Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - Oitavas de final - Jogo de volta
13/maio/2015
CRUZEIRO 1 x SÃO PAULO 0
Decisão por pênaltis: Cruzeiro 4 x São Paulo 3
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Andrés Cunha (URU)
Público: 39.867
Renda: R$ 2.044.295,00
Gol: Leandro Damião 9 do 2º
Cartão amarelo: Reinaldo
CRUZEIRO: Fábio (7,5), Mayke (7,5) (Willian Farias, 38 do 2º - sem nota), Manoel (6), Bruno Rodrigo (7) e Mena (6); Willians (6,5), Henrique (6,5) e Arrascaeta (6,5); Marquinhos (8), Leandro Damião (6,5) e Willian (7,5) (Gabriel Xavier, 31 do 2º - 6). Técnico: Marcelo Oliveira (7)
Cobranças: Leandro Damião (defendido), Marquinhos (gol), Arrascaeta (gol), Henrique (gol), Manoel (defendido) e Gabriel Xavier (gol)
SÃO PAULO: Rogério Ceni (8), Bruno (5,5), Lucão (5,5), Rafael Tolói (6,5) e Reinaldo (4); Denílson (5,5), Souza (5,5), Ganso (4,5), Michel Bastos (4,5) (Hudson, 31 do 2º - 5) e Wesley (4,5) (Centurión, 27 do 2º - 6); Pato (4,5) (Luís Fabiano, 19 do 2º - 5). Técnico: Milton Cruz (4,5)
Cobranças: Rogério Ceni (gol), Ganso (gol), Souza (fora), Luís Fabiano (defendido), Centurión (gol) e Lucão (defendido)
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