Exigência máxima



O Internacional teve uma excelente atuação em Belo Horizonte e trouxe de lá um ótimo resultado. Ainda assim, o 2 a 2 não deixa de ter um gosto amargo: o Colorado conquistava, até o último lance do jogo, uma fantástica vitória no Independência, de onde pouquíssimos saem vitoriosos. Tudo isso é uma prova do nível deste sensacional confronto de oitavas de final: mesmo jogando um futebol maduro, de quem chega para ser campeão da América, o time gaúcho não conseguiu bater o Atlético-MG, que não vai ao Beira-Rio em situação favorável, mas segue vivo.

A partida foi, como se esperava, eletrizante. Provando confiança total no elenco e controle absoluto da situação de seu grupo, Diego Aguirre não teve medo de começar o jogo com Ernando na esquerda, Jorge Henrique na ponta e com D'Alessandro e Valdívia, desgastados pela sequência de jogos, no banco de reservas. Nem deu tempo de saber se o time sentiu a falta deles: como no Gre-Nal, o Colorado não perdoou a falha rival e abriu o placar num golaço de Lisandro López, que surpreendeu Victor com uma conclusão certeira, após erro de saída de Marcos Rocha, que repetiu Matías Rodríguez e Fellipe Bastos na final do Gauchão.

Intenso como sempre, o Atlético-MG não se abalou e veio para cima com tudo. Criou quatro chances em questão de poucos minutos até empatar, com Douglas Santos. O gol qualificado era um complicador, mas as perspectivas animavam: com o 1 a 1 aos 13 minutos e a vantagem psicológica por ter obtido o empate rápido, o time mineiro tinha tudo para virar a partida. Luan, Pratto e Dátolo marcavam a saída colorada com fome, os volantes jogavam adiantados e Douglas Santos estava em jornada inspirada pela esquerda. O Inter tinha dificuldades para conter a pressão, estava sendo envolvido.

Porém, era difícil manter o ritmo naquela intensidade por tanto tempo. Além disso, o Inter tinha em Lisandro López um perigo constante. Qualquer subida de alguém de trás que procurasse o argentino era um problema que obrigava o Galo a também tomar cuidados atrás. Alex e Aránguiz também foram importantíssimos no reequilíbrio da partida, valorizando a posse de bola ofensiva e esfriando o time da casa. O elenco colorado é realmente completo: sempre tem algum jogador certo para todo tipo de situação que jogos difíceis como esse apresentam. E Diego Aguirre sabe como cada um pode ajudar.

Passados os 20 minutos de loucura inicial, a partida ficou estudada, equilibrada, com alternância de domínios. No Galo, o principal problema ofensivo era Thiago Ribeiro, que além de mal tecnicamente era bem controlado e se via obrigado a marcar as subidas perigosas do ótimo lateral William. Pelo lado colorado, apesar de Lisandro ser um perigo constante, lhe faltou parceria. Eduardo Sasha e Jorge Henrique, assim como o argentino, foram aplicados taticamente, mas nulos em termos ofensivos. A retenção colorada se dava no meio, mas longe da área.

O panorama seguiu parecido no começo do segundo tempo, com o Galo sempre tendo mais a iniciativa. Vendo que seu time tendia a se acomodar com o 1 a 1, Aguirre tirou D'Alessandro e Valdívia do banco. Predestinados, eles entraram e fizeram a jogada do segundo gol, um gol de puro treinamento, um golaço de Diego Aguirre em todos os aspectos analisáveis. O 2 a 1 foi um banho de água fria nos mineiros, os do campo e os das arquibancadas. Ninguém esperava uma nova desvantagem. Com dois gols sofridos em casa, o resultado era péssimo.

O Inter, então, viveu seus melhores 20 minutos na partida. Mostrou, ali, todas as armas de um time que está pronto para ser campeão da Libertadores. Em especial, jogava com grande maturidade, organização e empenho. Com zagueiros e volantes seguros, laterais cumpridores, meias talentosos e um goleiro que fechava a meta, segurava a tentativa de pressão do Atlético-MG com imensa superioridade tática. A cada milagre de Alisson, a cada tirada de Alan Costa, pareciam menores chances de um empate ocorrer.

Mas ele ocorreu, no último lance. Primeiro, porque o Atlético-MG é fortíssimo, e nunca desiste. Segundo, porque o Inter perdeu o contragolpe nos 10 minutos finais, quando o Galo arriscou tudo. Manter o 2 a 1 virou a prioridade. Segurar a bola era mais importante que definir o confronto com um hipotético terceiro gol. Sofrer o empate foi um grande castigo. Mas, pensando bem, não houve qualquer injustiça: o time mineiro criou 14 chances contra apenas quatro do Colorado, chutou 18 vezes a cinco, teve 64% da posse de bola e fez de Alisson o melhor em campo. Poderia, portanto, ter vencido o jogo, e não seria qualquer absurdo - se perdesse também não, é claro. O Inter jogou demais, mas jogar demais na maior parte das vezes não é o suficiente para ganhar no Horto.

O 2 a 1 seria espetacular e daria ao Inter um ar de favorito difícil de ser retirado, elevaria o nível deste time aos olhos do continente para um patamar semelhante ao que hoje goza o Boca, por exemplo. O empate já muda as coisas de figura: o Atlético-MG pode, sim, vencer por placar simples no Beira-Rio. O time de Aguirre teve ótima atuação no Independência, trouxe de lá um grande resultado, mas ele não define nada. O copeirismo e a experiência do Galo podem pesar. Sua qualidade técnica é semelhante à do Inter, também, embora o momento penda para o lado vermelho.

Para o espectador neutro, melhor assim. A indefinição dá um tempero a mais para o jogo do Beira-Rio. Se o nível for semelhante ao que vimos hoje, será mais um dos jogos do ano. O de hoje foi antológico, daqueles que dá esperança, que mostra que o futebol brasileiro ainda tem jeito e é capaz de empolgar com confrontos épicos, emocionantes e de grande qualidade.

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Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - Oitavas de final - Jogo de ida
6/maio/2015
ATLÉTICO-MG 2 x INTERNACIONAL 2
Local: Independência, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Público: 19.553
Renda: R$ 1.197.920,00
Gols: Lisandro López 1 e Douglas Santos 13 do 1º; Valdívia 15 e Leonardo Silva 48 do 2º
Cartão amarelo: Luan, Leonardo Silva, William, Aránguiz e Lisandro López
ATLÉTICO-MG: Victor (5), Marcos Rocha (4,5), Leonardo Silva (6), Jemerson (5,5) e Douglas Santos (7); Rafael Carioca (5,5), Leandro Donizete (5,5) (Giovanni Augusto, 24 do 2º - 5,5) e Dátolo (5) (Jô, 24 do 2º - 5,5); Luan (6), Pratto (6) e Thiago Ribeiro (4,5) (Carlos, 32 do 2º - 5). Técnico: Levir Culpi (5)
INTERNACIONAL: Alisson (7,5), William (6), Alan Costa (6,5), Juan (6,5) e Ernando (5,5); Rodrigo Dourado (6), Aránguiz (6) e Alex (5,5) (D'Alessandro, 15 do 2º - 6); Eduardo Sasha (5) (Valdívia, 14 do 2º - 6,5), Lisandro López (7,5) e Jorge Henrique (5,5) (Alan Ruschel, 32 do 2º - 5,5). Técnico: Diego Aguirre (8)

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