Os castelhanos voltam, mas começam?

As boas notícias da segunda-feira de Grêmio e Internacional são semelhantes: estão de volta dois jogadores do Prata, tidos como duas das grandes contratações da temporada no futebol gaúcho. Cristian Rodríguez e Lisandro López retomaram os treinos sem limitações ontem, e ficam à disposição de Luiz Felipe e Diego Aguirre. O uruguaio pode retornar já nesta quinta-feira, contra o Novo Hamburgo; o argentino, no fim de semana, se o Colorado efetivamente eliminar o Cruzeiro-RS. Mas onde eles entram no time, se é que entram?

Cebolla talvez não volte de cara à equipe pela falta de ritmo de jogo. Que ele em tese é o dono da meia esquerda, não se discute: titular da seleção uruguaia há quase dez anos, é o principal jogador do elenco do Grêmio. Mas quem deixará o time para sua entrada? Um dos volantes é suicídio, abriria o time demais. Douglas e Giuliano, pela experiência e pelo que vêm jogando, são titulares. Luan seria o ficha 1 para sair, mas vem de três gols nos últimos dois jogos.

Uma hipótese que existe, embora remota, é tentar unir os quatro. Neste caso, seria preciso destituir a figura do centroavante fincado, com Luan jogando adiantado e Braian Rodríguez (ou Yuri Mamute) indo para a reserva. Luan pode fazer a figura do falso 9, inclusive rende mais por ali do que longe do gol. Mas Felipão, sabemos desde sempre, não abre mão de um homem de área como referência. Dificilmente vai formar um time que não tenha ao menos um jogador de definição, seja Mamute ou Braian - o que estiver melhor deve jogar, e neste caso Yuri vem melhor que o uruguaio, que parece descontado pelas dores no ombro.

E Luiz Felipe tem razão. A fartura, neste caso, precisa servir para ajudar, não para atrapalhar. A boa fase de Luan permite que Cristian Rodríguez volte ao time aos poucos, sem afobações. O Grêmio vem jogando bem sem o uruguaio, e é ótimo não depender dele. Talvez seja melhor até em termos físicos ele começar no banco contra o Novo Hamburgo e retornar à titularidade no domingo, se a equipe chegar à semifinal. Felipão sabe gerir este tipo de situação como poucos, por sinal. Quase todos no elenco têm jogado, seja na titularidade ou na reserva. Os quatro podem ser titulares, mas não necessariamente ao mesmo tempo.

No caso do Inter, o que prejudica Lisandro López é a não-inscrição na Libertadores. Até lá, Nilmar e Eduardo Sasha formarão o ataque titular. No Gauchão, onde Aguirre tendo experimentado bastante, é onde ele deverá receber sequência. E aí é uma questão de necessidade: o técnico uruguaio já testou times e formações diferentes durante toda a primeira fase. Nos mata-matas, a necessidade de resultados é outra. E Lisandro tem de ser titular o quanto antes no estadual, pois só assim ele recupera o ritmo que vinha aos poucos obtendo e passa a ser uma opção para a prioridade, que é a copa continental.

O problema de projetar o Internacional com Lisandro é que não se sabe ainda qual o time ideal na cabeça de Aguirre, se é que ele existe. O uruguaio gira muito o elenco, o que por um lado é muito bom. Não há ninguém no Beira-Rio, fora os lesionados, que possa se queixar de não ter recebido chances este ano. Em vez de perdido, o técnico colorado parece saber o que está fazendo em termos de variações de plantel, embora as constantes mudanças de esquema tático sejam de fato exageradas. Talvez ele defina, nos mata-matas da Libertadores, um time titular mais fixo. Ou talvez não. O que ele precisa fazer o quanto antes é adotar um modelo para este grupo atuar com qualquer escalação, como seu colega de Humaitá vem fazendo. Girar o plantel é necessário, testar uma ou duas variações táticas também. Mas mudar esquema a cada três dias, sim, é temerário e pode indicar tempo perdido de ajustamento, fora que dificulta a obtenção do tão necessário padrão de jogo, tão necessário para a regularidade de atuações.

Lisandro López pode jogar ao lado de qualquer um, seja Nilmar, Vitinho ou Sasha. A polivalência dos quatro facilita a vida de Aguirre. Arrisco dizer que o argentino será titular dependendo do adversário. Como Nilmar sabe jogar centralizado ou aberto, deve ser escalado desde o início na maioria dos jogos. A ideia de que se precisa ter 11 titulares bem definidos vem ganhando ares relativos nos últimos tempos. Se os treinadores souberem manejar de forma competente seus elencos, podem ganhar valiosas alternativas técnicas e táticas. É o que Felipão vem conseguindo e Aguirre precisa obter neste começo de ano, por mais que Cebolla e Lisandro tenham chegado a Porto Alegre com ares de protagonistas.

Em tempo:
- Perfeita a atitude da direção do Internacional em relação a Fabrício. O jogador não tem mais clima para continuar, mas ainda possui mercado. O fato de Piffero dizer que o time vai perder um bom jogador serve principalmente para valorizá-lo. Interessados, ao que parece, não faltam, mesmo com todas as suas escancaradas deficiências técnicas. Um sinal da gritante carência que esta posição vive no futebol brasileiro.

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