O rompedor e as duas canetas

Todo o equilíbrio que se esperava entre Paris Saint-Germain e Barcelona foi por água abaixo devido aos centroavantes das duas equipes. Enquanto Ibrahimovic não pôde participar do duelo devido à sua injusta expulsão diante do Chelsea, Luisito Suárez fez misérias pelo lado catalão. Com dois golaços quase idênticos, os quais construiu praticamente sozinho, o uruguaio deixa o Barça a um passo de mais uma semifinal, emplacando um 3 a 1 que dificilmente será superado no Camp Nou.

A postura do Barcelona em Paris lembrou a que equipe adotou diante do City, em Manchester. É, na verdade, aquilo que de melhor o Barça faz desde que Guardiola assumiu o comando, lá em 2008: marcação adiantada e muita compactação. A diferença com relação ao duelo das oitavas é que o PSG marcou o Barça melhor que os ingleses. Naquele jogo, o time catalão massacrou no primeiro tempo, criando sete chances claras e abrindo um ótimo 2 a 0 antes do intervalo. Desta vez, o gol surgiu num único cochilo da zaga parisiense, quando Thiago Silva sentia lesão e Neymar se infiltrou por ali em passe de Messi para fazer 1 a 0.

Apesar de posturas tão distintas, esta foi a única diferença de um primeiro tempo até equilibrado, se consideradas as poucas oportunidades de lado a lado. Desta vez, o jogo foi bem mais estudado. Os franceses marcavam muito, mas levavam pouco perigo. Resolveram mudar a estratégia bem sucedida que lhes deu a vitória por 3 a 2 na primeira fase, em outubro do ano passado, quando o time da casa não teve medo de partir para cima e sufocou o Barça em seu campo de defesa. Naquela oportunidade, Ibra também não jogou. Mas Suárez também não. Crucial diferença para hoje.

O PSG resolveu arriscar mais na volta do intervalo, imprimir o ritmo do jogo da primeira fase sobre o Barça, mas a consistência e a maturidade da equipe catalã agora são muito superiores à de seis meses atrás. A equipe visitante segurou a pressão inicial, controlou o jogo com naturalidade, e a entrada de Xavi no lugar do lesionado Iniesta colaborou ainda mais para isso, devido ao seu estilo de ainda mais valorização da posse de bola. O Barça sabia que, trocando passes, uma hora seus atacantes fariam a diferença. E Suárez fez.

Os gols não saíram de jogadas exaustivamente trabalhadas, no entanto. Foram construções pessoais do uruguaio, quase idênticas: no primeiro lance, aos 21, uma caneta em um David Luiz fora de ritmo, um drible seco em Marquinhos, a proteção perfeita quando chegava Maxwell e um toque certeiro na saída de Sirigu. Golaço, de craque, que se repetiria 12 minutos mais tarde, em lançamento de Messi que encontrou o uruguaio. A caneta em David Luiz se repetiu e o toque fatal foi ainda mais lindo, no ângulo. O Barça do coletivo perfeito venceu em dois lances individuais típicos da genialidade sul-americana, e olhem que desta vez Messi nem precisou fazer gols, embora tenha dado duas assistências.

O gol de Van der Wiel, que foi dado injustamente contra para Mathieu, portanto quase que acidental, muda pouco o panorama do confronto, por mais que Ibra volte na Catalunha. O Barcelona é, sem dúvida, o melhor time dos mata-matas até agora. Passou fácil pelo campeão inglês e está a um passo de fazer o mesmo com o francês. Brigas internas à parte, chega entrosado e consolidado, com o espetacular trio de ataque complementando muito bem a característica natural que o time apresenta há anos. No momento, não há ninguém jogando mais futebol na Liga que os catalães.

Em tempo:
- Excelente vitória do Porto, aproveitando-se dos desfalques do Bayern München para fazer 3 a 1 e levar vantagem de complicada reversão para a Baviera. Muitas falhas individuais, em especial de Dante e Boateng, nos dois últimos gols lusitanos. O jogo de volta será muito mais interessante que o de Barça x PSG.

Ficha técnica
Liga dos Campeões da Europa 2014/15 - Quartas de final - Jogo de ida
15/abril/2015
PARIS SAINT-GERMAIN 1 x BARCELONA 3
Local: Parque dos Príncipes, Paris (FRA)
Árbitro: Mark Clattenburg (ING)
Público: 45.713
Renda: não divulgada
Gols: Neymar 17 do 1º; Suárez 21 e 33 e Mathieu (contra) 36 do 2º
Cartão amarelo: Cabayé, Piqué e Messi
PARIS SAINT-GERMAIN: Sirigu (5,5), Van der Wiel (5,5), Thiago Silva (5) (David Luiz, 20 do 1º - 3), Marquinhos (6) e Maxwell (4,5); Cabayé (5), Rabiot (4,5) (Lucas, 19 do 2º - 4,5) e Matuidi (5,5); Lavezzi (5), Cavani (4,5) e Pastore (4,5). Técnico: Laurent Blanc (4,5)
BARCELONA: Ter Stegen (6,5), Montoya (6), Piqué (6), Mascherano (7) e Jordi Alba (6); Busquets (6), Rakitic (6) (Mathieu, 28 do 2º - 5,5) e Iniesta (6,5) (Xavi, 7 do 2º - 6); Messi (7), Suárez (9) e Neymar (6,5). Técnico: Luis Enrique (7)

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