O mesmo pecado, o mesmo resultado



Como dissemos ontem aqui, o São Paulo se satisfaria com um ponto trazido de Buenos Aires, mas não poderia cair no erro tão batido de jogar apenas pelo empate. A equipe paulista cometeu o mesmo pecado que os argentinos tiveram no Morumbi. Duas semanas atrás, o San Lorenzo fez um bom primeiro tempo, mas se fechou e se contentou com o empate no segundo. Tomou o gol e saiu derrotado. O Tricolor fez exatamente isso ontem, e teve o mesmo destino.

A noite começou complicada. A greve geral na Argentina, que ajudou a atrasar a chegada da equipe de Muricy ao bairro de Boedo em uma hora, complicou as coisas - o Cruzeiro, em 2009, passou pelo mesmo problema, mal pôde aquecer e tomou 4 a 0 do Estudiantes. O primeiro tempo, porém, foi de controle das ações. A escalação de Ganso aberto foi um acerto: pelo meio, ele tem sido facilmente controlado. D'Alessandro, desde que adotou o mesmo posicionamento no Inter (ainda com Dunga, em 2013), só cresceu de produção. O problema foi o lado em que ele foi escalado. Muricy, portanto, errou feio, embora a ideia tenha sido boa.

Quem deveria ter sido posicionado como meia canhoto era Michel Bastos. Não apenas por ser canhoto, mas por ser um jogador incisivo e de velocidade. Na prática, além de jogar pelo lado correto de seu pé, ele ajudaria a segurar Buffarini, lateral muito conhecido pelo apoio constante, mas problemático na marcação. Mas não: apostando no pé trocado de Michel pela direita, que poderia resolver o jogo num chute de longe, Muricy pôs Ganso torto pela canhota. Teve dificuldades em armar o jogo e ainda por cima não soube marcar o lateral argentino, que subiu a noite toda.

Nada disso trouxe problemas defensivos comprometedores ao resultado do São Paulo, mas dificultou sua vida ao atacar. No primeiro tempo, o jogo foi extremamente truncado. A equipe argentina teve só uma chance, em cruzamento de Buffarini para Blanco, e nada mais. O Tricolor Paulista marcou bem, diminuiu espaços, foi compactado atrás. Mas foi inoperante, descompactado e pouco incisivo na frente, o que ajudava a trazer a equipe da casa para cima. Pato e Alan Kardec, apesar do esforço, não contaram com a aproximação de ninguém. Assim, Caruzzo e Yepes jogaram bem adiantados, facilitando a posse de bola ofensiva da equipe mandante.

O panorama seguiu semelhante no segundo tempo. As mexidas de Bauza acabaram dando resultado, pois Villalba trouxe complicações nas jogadas em velocidade, algo que o veterano Romagnoli não conseguiu nunca dar, e Cauteruccio foi uma presença mais marcante na área. Num lance individual espetacular, o uruguaio definiu o jogo: erro crasso de Rafael Tolói (mais um), mas mérito todo seu no chapéu e conclusão perfeitos.

Pode-se dizer que o São Paulo fez uma partida boa taticamente, que tomou o gol quando tinha o jogo de certa forma controlado, mas quem joga muito fechado, sem uma alternativa real de incomodar o adversário lá na frente, corre sempre o risco de perder um jogo assim, de uma hora para outra. E o de ontem não poderia ser perdido. A equipe paulista segue à frente dos argentinos no saldo, mas terá de pontuar no mínimo a mesma coisa nos dois últimos jogos para se classificar. Isso significa ganhar do Danubio no Uruguai e evitar uma nova derrota para o rival Corinthians, no Morumbi, na partida derradeira. A tensão por esta segunda vaga do Grupo 2 irá até os últimos minutos da última rodada.

Em tempo:
- Goleada tão tranquila quanto esperada do Corinthians, 4 a 0 sobre o Danubio. Basta um empatezinho para o time de Itaquera garantir a vaga. Mas atenção: se perder para o San Lorenzo em casa, a equipe paulista terá de decidir sua sorte no Morumbi, diante do São Paulo. Ou seja: está bem encaminhada, quase lá, mas ainda não dá pra relaxar.

Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - 1ª fase - Grupo 2 - 4ª rodada
1º/abril/2015
SAN LORENZO 1 x SÃO PAULO 0
Local: Nuevo Gasómetro, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Público: 40.000
Renda: não divulgada
Gol: Cauteruccio 25 do 2º
Cartão amarelo: Hudson, Souza, Michel Bastos e Denílson
SAN LORENZO: Torrico (5,5), Buffarini (6), Caruzzo (6), Yepes (6) e Más (5,5); Mercier (6,5), Kalinski (5,5) (Quignón, 36 do 1º - 5,5), Mussis (5,5) (Villalba, 13 do 2º - 6), Blanco (6) e Romagnoli (5) (Cauteruccio, 18 do 2º - 7); Matos (5,5). Técnico: Edgardo Bauza (6,5)
SÃO PAULO: Rogério Ceni (5,5), Hudson (5,5), Rafael Tolói (4), Lucão (6) e Reinaldo (5); Denílson (5), Souza (6) (Ewandro, 36 do 2º - sem nota), Michel Bastos (5,5) e Ganso (4,5); Pato (5,5) e Alan Kardec (4,5) (Centurión, 47 do 1º - 6). Técnico: Muricy Ramalho (4,5)

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