Noite de rádio, noite de emoção (e classificação)



Noites de paralelismo onde o radinho de pilha vira protagonista indispensável são sempre mágicas. Ou trágicas. A torcida do River Plate viveu o lado positivo da moeda hoje. Uma hora, o Tigres fazia sua parte, mas o River não; em outra, era o contrário: os argentinos cumpriam o dever, mas o Juan Aurich vencia. No fim, porém, deu tudo certo. Foram nove festas no Monumental de Núñez: três gols pelos gols do River, cinco pelos do Tigres e uma, a maior de todas, pela classificação.

Precisando ganhar, Marcelo Gallardo arriscou tudo: decidiu colocar em campo os melhores, nem que para isso fosse preciso mudar esquema e abdicar de ter laterais. Fazendo uma escalação a la Bielsa, montou um 3-5-2 sem alas: Kranevitter e Rojas atuaram como volantes, Sánchez e Martínez auxiliavam Pisculichi na criação, Mora e Gutiérrez formavam o ataque. Na teoria, um time ultraofensivo. Na prática, muitos problemas.

Tirando os dez minutos iniciais de pressão, quando criou três chances, o River penou para chegar ao ataque durante todo o primeiro tempo. Muito porque não tinha jogadas pelos lados, facilitando a contenção boliviana, mas principalmente porque estava ansioso, nervoso demais. Em vez de um passe, era tentado um chute de longe, sem sentido. As bolas na trave, tão presentes no trágico empate com o Juan Aurich, apareceram de novo. E foi Mora, que perdeu gols a rodo em toda fase de grupos, que marcou o golaço que abriu o placar e deixou o intervalo um pouco menos nervoso.

Àquela altura, o placar em Chiclayo era de 2 a 2. Por um gol a menos marcado, o River estava ficando fora. Quando conseguiu o pênalti que lhe deu o segundo gol, o Juan Aurich fazia 3 a 2 e estragava tudo. Porém, o time argentino deu de ombros e marcou dois gols em sequência - Mora converteu o pênalti, Gutérrez fez o outro, e definiu a parada em Buenos Aires. A partir daí, toda a atenção, inclusive de quem estava no Monumental de Núñez, era direcionada ao Peru. E lá o Tigres chegou a uma improvável virada que enlouqueceu a torcida millonaria. Aproveitando o desespero do Juan Aurich, aplicou 5 a 3, sofreu um gol a seguir, mas garantiu o resultado que lhe dá uma campanha invejável, e a classificação ao River.

A Libertadores ganha muito com o River Plate no mata-mata, não só pela tradição, mas pela qualidade do time, que há quatro meses foi campeão da Copa Sul-Americana. Nada disso esconde o fato de que a campanha, apesar de suficiente, foi péssima: com 7 pontos e apenas uma vitória, o River só sofreu porque perdeu em Oruro, onde ninguém mais foi derrotado; porque cedeu um empate desastroso ao Juan Aurich em casa, num jogo no qual criou 18 chances claras e fez só um gol; e porque teve uma atuação ridícula em boa parte do empate com o Tigres no México, apesar de ter conseguido buscar um valioso empate nos minutos finais.

A dificuldade para passar não significa que a chave fosse mais difícil do que se pensava. Ao contrário: o Grupo 6 é tão fraco que o River precisou de apenas uma vitória e sete pontinhos para seguir adiante. A classificação lembra demais a do San Lorenzo no ano passado: na última rodada, um 3 a 0 em casa combinado a um 5 a 4 para o visitante no outro jogo. Os mais supersticiosos vão amar esta coincidência, e é claro que no mata-mata a história é outra. Deixaram o River chegar, e ele tem história e time para chegar bem longe.

Mas é fato que a equipe de Gallardo, embora deva crescer muito com esta classificação dramática, precisa jogar mais para ir longe, até porque o adversário nas oitavas deve ser o rival Boca Juniors. Talvez seja a chance de um maravilhoso recomeço: a instabilidade do River começou justamente na goleada de 5 a 0 sofrida no superclássico argentino num dos tantos Torneos de Verano argentinos.

Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - 1ª fase - Grupo 6 - 6ª rodada
15/abril/2015
RIVER PLATE 3 x SAN JOSÉ 0
Local: Monumental de Núñez, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Péricles Cortez (BRA)
Público: não divulgado
Renda: não divulgada
Gols: Mora 42 do 1º; Mora (pênalti) 7 e Gutiérrez 9 do 2º
RIVER PLATE: Barovero (5,5), Pezzella (5,5), Maidana (5,5) e Funes Mori (6); Kranevitter (6), Rojas (6), Sánchez (6), Pisculichi (4,5) (Driussi, intervalo - 6) e Martínez (7) (Mayada, 23 do 2º - 5,5); Mora (7,5) e Gutiérrez (6,5) (Cavenaghi, 23 do 2º - 5,5). Técnico: Marcelo Gallardo (6,5)
SAN JOSÉ: Lampe (6), Prado (4,5), Vera (4) e Valverde (4,5); Zabala (4,5), Parrado (5), Ovando (5), Ferreira (4,5), Loaiza (5) (Puma, 27 do 2º - 5) e Reyes (5,5) (Robles, 27 do 2º - 4,5); Bustamante (4,5) (Cuéllar, 30 do 2º - 4,5). Técnico: Néstor Clausen (4)

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