Muito além do futebol

Muricy Ramalho já vinha dando sinais de que não suportaria mais uma temporada inteira à frente do São Paulo há semanas. Nos últimos dias, informações já davam conta de que ele sofria problemas de saúde, os quais o impediam de dar o seu máximo. E Muricy, sem dar o seu máximo, não é Muricy.

Exemplo de profissional na melhor acepção da palavra, o maior técnico brasileiro da era dos pontos corridos deu uma entrevista coletiva aterradora ontem, em Ribeirão Preto. Não tanto pelo conteúdo em si, e muito mais por seu aspecto frágil, apático, doente. Finalmente, após pedir demissão pela terceira vez em menos de 20 dias, a diretoria aceitou e o liberou no início da tarde de hoje. Nunca faltou vontade, mas falta infelizmente saúde.

O São Paulo, talvez por tudo isso, tem sido dentro de campo um reflexo do seu agora ex-treinador. Muricy passará por uma cirurgia na semana que vem. Precisa de cuidados, totalmente incompatíveis com a profissão que exerce. O stress inerente a qualquer treinador de ponta nele normalmente é exalado de uma forma bem mais visível. Muricy se estressa já com o time bem, no São Paulo tricampeão de 2006 a 2008 era assim. Imaginem com sua equipe acertando quase nada, empilhando derrotas em clássicos, em situação complicada na Libertadores e após uma derrota ao natural para o Botafogo de Ribeirão Preto?

O São Paulo perdeu tempo: se já era visível que o seu treinador não andava a 100%, deveria ter aceitado seu primeiro pedido de demissão, e não ter esperado chegar abril para tomar esta medida. Muricy não é de abandonar navio em meio à tempestade, ama trabalhar. Jamais pediria para sair se não fosse algo sério. Ele próprio, anos atrás, disse que não treinaria por mais muito tempo, pois se estressava demais e não tinha saúde para seguir na vida maluca de casamata de time grande. Parecia prever o futuro.

Resta torcer para que ele se recupere, supere este problema e volte a ter a saúde de sempre. Se voltar ao futebol, então, melhor ainda.

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