Dramas e reviravoltas



Quem achava que Internacional e Cruzeiro haviam esgotado ontem a cota de drama das quartas de final do Campeonato Gaúcho se enganou. Grêmio e Novo Hamburgo conseguir superar, levando a tensão ao patamar de uma virada dentro da decisão por pênaltis. Como no jogo desta quarta, um empate que ocorreu por conta de erros do time grande (embora nenhum dos dois gigantes tenha jogado de fato mal) e muitos brios do desafiante.

O Grêmio entrou em campo vacinado. A seriedade com que encara o estadual e os problemas do Inter ontem certamente serviram de exemplo. E o começo do time de Felipão foi ótimo: com três chances criadas e um gol (bem) anulado em 13 minutos. A pressão era normal, e o Noia sabia que segurá-la seria fundamental. Passado este momento inicial, o time de Roger Machado passou a controlar o jogo, valorizar a bola e, aos pouquinhos, tê-la também no campo de ataque.

É verdade que quando Fred fez 1 a 0 em seu golaço de falta a equipe do Vale não tinha tido sequer uma chegada de perigo. Mas também é verdade que, após o gol anulado de Braian Rodríguez, o Grêmio também não chegou a ameaçar Rafael. E mais: depois de sofrer o gol, o Tricolor se perdeu em campo. Sentiu a desvantagem e, o pior, poderia ter sofrido outro. Dê teve chance clara na área após ótima jogada de Paulinho, aos 42, e no minuto seguinte Thiago Humberto levou perigo em chute de longe. O Novo Hamburgo sentiu que aquela era a hora de matar o jogo, mas não conseguiu.

Mais uma vez, o Grêmio melhorou com Yuri Mamute no ataque. Como em Campina Grande, a maioria dos lances perigosos de ataque da equipe passaram por ele. A superioridade gremista foi clara na etapa final, mas a partir do empate. Antes, havia um domínio territorial, mas não traduzido em oportunidades. O gol de Geromel, claro, trouxe o time de Felipão para cima. Foi Mamute quem sofreu o discutível pênalti três minutos depois, que Douglas desperdiçou. No Gauchão dos pênaltis perdidos, uma nova reviravolta psicológica da partida se desenhava.

Mas o Grêmio não se abateu com a perda da chance de virar. A expulsão de César Lucena, no minuto seguinte, forçou o Noia a se resguardar. Roger Machado, apesar de perder um zagueiro com função de lateral, preferiu não trocar ninguém, mantendo o time com apenas uma substituição até o final. William Schuster cumpriu a função de lateral com afinco e dedicação ímpares, tal qual Lucas Crispim pela esquerda, um ponta que se dedicou a jogar como bengala do lateral Paulinho.

Nos pênaltis, puro drama. Treinos são treinos, e deve haver motivo que justifique Luiz Felipe ter colocado Everton para bater antes de nomes experientes como Marcelo Oliveira e Ramiro. Porém, colocar um jovem para cobrar pêalti num jogo de tamanha pressão era uma temeridade que o Grêmio não deveria ter corrido. Menos mal que Marcelo Grohe, como contra a LDU, salvou com os pés a bola do jogo, uma crueldade com Paulinho, um dos melhores em campo. O gol eliminaria o Tricolor de forma precoce e trágica do estadual, sua prioridade no semestre. Passado o terror, nova virada psicológica em favor do time da casa. A defesa na cobrança de William Schuster classificou o Grêmio e também marcou a atuação do meia do Noia, que apesar de todo o esforço será lembrado por ter cometido um pênalti e errado outro.

Ao contrário de jogos anteriores, onde mantinha um padrão seguro, o Grêmio oscilou muito durante toda a partida. O fato de o mata-mata ser em jogo único trouxe um peso forte aos dois grandes, os únicos que precisaram dos pênaltis para chegarem entre os quatro melhores do Gauchão. O Tricolor não sofreu defensivamente, criou bastante como sempre, mas se desestabilizou emocionalmente e se desorganizou num primeiro momento. Na etapa final, manteve-se ordenado, mas ansioso. Os gols perdidos são o reflexo disso.

Quanto ao Novo Hamburgo, a exaltação é merecida como a do Cruzeiro ontem. A atuação do zagueiro Fred, golaço à parte, foi impecável. Paulinho forçou a substituição de Matías Rodríguez no intervalo, tão bem que foi no apoio, e sem vazar na marcação - com Ramiro por ali, foi mais complicado. Dê, então, foi memorável: marcou como um leão e deu qualidade à saída de jogo sempre, inclusive sofrendo a falta (tão discutível quanto o pênalti em Mamute) que originou o gol. E Magrão, com a revelação trágica de sofrer de um câncer nos testículos, foi comovente. Só não precisava imitar Fabrício ao comemorar seu gol de pênalti.

Em tempo:
- Com o empate, o Grêmio segue quatro pontos atrás do Inter na classificação geral. Poderia tirar para dois hoje, aumentando as chances de uma decisão na Arena em caso de classificação sobre o Juventude - algo que só deverá ocorrer, mesmo, se o Brasil for finalista.

Ficha técnica
Campeonato Gaúcho 2015 - Quartas de final
9/abril/2015
GRÊMIO 1 x NOVO HAMBURGO 1
Decisão por pênaltis: Grêmio 6 x Novo Hamburgo 5
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Anderson Daronco
Público: 16.991
Renda: R$ 509.844,00
Gols: Fred 28 do 1º; Geromel 24 do 2º
Cartão amarelo: Everton, Douglas, Beto Cachoeira, Magrão, César Lucena, Bolívar e William Schuster
Expulsão: César Lucena 31 do 2º
GRÊMIO: Marcelo Grohe (7), Matías Rodríguez (5) (Fellipe Bastos, intervalo - 6), Geromel (7,5), Rhodolfo (6) e Marcelo Oliveira (6,5); Ramiro (6), Maicon (5,5), Giuliano (5) (Everton, 17 do 2º - 4,5), Douglas (6,5) e Luan (5,5); Braian Rodríguez (4,5). Técnico: Luiz Felipe (5,5)
Cobranças: Maicon (gol), Fellipe Bastos (gol), Luan (gol), Everton (defendido), Douglas (gol), Marcelo Oliveira (gol) e Ramiro (gol)
NOVO HAMBURGO: Rafael (6), César Lucena (5), Bolívar (6), Fred (7,5) e Paulinho (6,5); Dê (7), Magrão (6,5), Thiago Humberto (6), William Schuster (4,5) e Lucas Crispim (6); Beto Cachoeira (5,5) (Luís Mário, 10 do 2º - 5). Técnico: Roger Machado (6,5)
Cobranças: Magrão (gol), Fred (gol), Thiago Humberto (gol), Luís Mário (gol), Paulinho (defendido), Dê (gol) e William Schuster (defendido)

Comentários

Anônimo disse…
Mamute está merecendo começar um jogo, mas o Braian sofre pela falta de cruzamentos do time. É quase sempre infiltração pelo meio, e ele foi trazido pra ser opção de ataque pelo alto.

E o Luan, não devia estar mais de atacante do que de meia?
Vicente Fonseca disse…
Em relação ao Mamute x Braian, concordo plenamente. Não precisa nem ser pelo alto: ontem ele fez gol de carrinho, mas foi bem anulado. Falta jogada de linha de fundo, pois os meias é que realmente criam neste time, à base de toques curtos.

Foi sem dúvida o pior jogo do Braian no Grêmio, o de ontem. Mas se uns dois dos quatro gols mal anulados que ele fez tivessem sido validados, a média de gols dele seria bem razoável.

Quanto ao Luan de atacante, venho dizendo isso semanalmente. Ontem jogou recuado demais, acho que porque o Giuliano estava descontado e não jogou tudo o que sabe - ele sentiu a necessidade de voltar mais, ou o Felipão orientou ele a participar mais da criação. Por isso, fez partida abaixo da média.