Crueldade com o oitavo



É verdade que o Internacional criou mais que o Cruzeiro, teve mais possibilidades de gol, posse de bola, e tudo o que os números do jogo apontam. É verdade, também, que fez uma campanha muito superior ao longo da primeira fase, e que um regulamento que prevê jogo único apenas nas quartas de final é absurdo, podendo ser injusto com quem realmente tem mais time. Nada disso, porém, anula o fato de que o time estrelado, o 8º colocado da fase de classificação, é que merecia sair com a vaga hoje do Beira-Rio. E que o modo como a eliminação se deu, interpretações dos lances polêmicos à parte, foi absolutamente cruel e dolorido.

Luiz Antônio Zaluar, técnico matreiro, postou seu time num 4-3-2-1 fechadinho, esperando o Colorado e jogando por uma bola. Ele tinha alguns trunfos para apostar nisso: os rápidos Matheus, Wagner e Wesley, os sérios zagueiros André e Laerte e o ótimo goleiro Bruno Grassi, destaque do Passo Fundo nos últimos estaduais e de atuação excelente nos dois jogos contra a Dupla Gre-Nal neste ano. Não havia outro modo de o Cruzeiro sair com a classificação. Exigir que os pequenos encarem os grandes de frente é não querer enxergar uma realidade onde a disparidade de forças é abissal. Por isso, a análise fria dos números não pode ser aplicada assim, de pronto, para apontar que o Inter foi melhor. O Inter é melhor, bem melhor. Mas a proposta cruzeirista é que prevaleceu a noite toda, e por isso ele merecia a classificação.

Depois de segurar bem o Colorado nos primeiros 25 minutos, o Cruzeiro sofreu uma forte pressão até os 31, na qual a maior parte das jogadas rubras vinham de bolas alçadas na área. Passado este momento tenso, a equipe metropolitana quase marcou num chute de Paraná que Alisson por pouco não engoliu um frango e o golaço de Matheus. Ou seja: é claro que o Inter criou oportunidades, Bruno Grassi foi o personagem da partida, mas, tirando alguns poucos minutos de pressão, o Cruzeiro controlou a maior parte das ações, e teve sempre o contra-ataque à disposição. Houve momentos de acuamento, mas não foi o que se viu no domingo, quando o Passo Fundo passou a tarde inteira dentro de sua pequena área.

No segundo tempo, isso ficou mais claro. O Inter se atirou para cima, abriu ainda mais espaços, e Wesley ampliou. O primeiro pênalti veio aos 11, e ambos podem ser discutidos, como a maioria dos penais, mas pareceu que André claramente não teve a intenção de tocar o braço na bola, e mais injusta ainda foi a aplicação do cartão amarelo. Foi este o erro decisivo da arbitragem, e não o segundo pênalti: aquele foi mais claro, mas a expulsão, somando as duas advertências a André, foi completamente fora de propósito, pois em nenhum dos lances o zagueiro azul teve intenção deliberada ou impediu um gol.

Ficar com um a menos nos últimos 15 minutos é que matou o Cruzeiro. Após o erro do primeiro pênalti, numa cobrança desastrada de D'Alessandro, o time estrelado mostrou condições de segurar bem o jogo, e controlou completamente a partida até cometer a segunda penalidade. Com um a menos, porém, foi obrigado a se retrair, e o empate virou questão de tempo. Também é preciso ressaltar a ótima entrada de Lisandro López, muito mais participativo que o inoperante Nilmar. Os dois gols foram dele, e por mérito dele, e por pouco ele não fez o 3 a 2 numa bela virada. Ainda por cima, fez ótima cobrança na decisão por pênaltis, na qual a vitória colorada era previsível pelo lado psicológico e pela qualidade dos cobradores, embora Bruno Grassi tenha sido um monstro ao longo do jogo.

O susto foi grande, e serve de alerta. Vários jogadores fracassaram individualmente. Jorge Henrique, como volante, não deu a consistência necessária, e Rodrigo Dourado fez sua pior partida no ano. Pelos lados, Géferson começou mal sua briga para substituir Fabrício, dando espaços que foram bem aproveitados por Matheus. William, bem no apoio, também passou trabalho com Wagner. Em vez de fazer a leitura de que o time supostamente mostrou força, raça, maturidade e poder de reação, como o andamento da partida pode sugerir e a entrevista de D'Alessandro deu a entender, a análise que o Colorado precisa fazer é de que faltou futebol e sobraram atuações individuais ruins, em todos os setores.

Seria injusto o primeiro cair para o oitavo? Seria. Seria injusto quem criou mais chances perder a partida? Seria. Mas isso se considerarmos friamente os números e acontecimentos. Pelas circunstâncias, o grande injustiçado da noite foi o Cruzeiro, que provavelmente teria seguido adiante se não tivesse sido prejudicado pela expulsão de André num momento decisivo da partida. Chama a atenção que Bruno Grassi, apesar de tudo, mal reclamou da arbitragem após o jogo. Havia mais decepção e tristeza nos semblantes cruzeiristas que propriamente uma inconformidade. Sobra hombridade ao time estrelado, que por mais um ano protagonizou enfrentamentos duríssimos para a Dupla Gre-Nal.

Ficha técnica
Campeonato Gaúcho 2015 - Quartas de final
8/abril/2015
INTERNACIONAL 2 x CRUZEIRO-RS 2
Decisão por pênaltis: Internacional 3 x Cruzeiro-RS 1
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Diego Real (RS)
Público: 11.788
Renda: R$ 306.215,00
Gols: Matheus 39 do 1º; Wesley 4 e Lisandro López (pênalti) 31 e 35 do 2º
Cartão amarelo: William, Rodrigo Dourado, D'Alessandro, Benhur e André
Expulsão: André 29 e Rodrigo Dourado 45 do 2º
INTERNACIONAL: Alisson (5,5), William (5), Ernando (5), Juan (5) e Géferson (4,5); Rodrigo Dourado (4,5), Jorge Henrique (4,5) (Anderson, 14 do 2º - 5), D'Alessandro (5) e Valdívia (5) (Rafael Moura, 14 do 2º - 4,5); Eduardo Sasha (5,5) e Nilmar (4) (Lisandro López, 25 do 2º - 7,5). Técnico: Diego Aguirre (4,5)
Cobranças: D'Alessandro (gol), Lisandro López (gol), Juan (gol) e Rafael Moura (por cima)
CRUZEIRO-RS: Bruno Grassi (8,5), Jaiminho (6), André (5,5), Laerte (6,5) e Jefferson (7); Benhur (5,5), Reinaldo (6), Paraná (6) (Carlão, 34 do 2º - sem nota), Matheus (7) (Rodrigo Heffner, 46 do 2º - 4) e Wagner (6,5); Wesley (6,5) (Claudinho, 27 do 2º - 5). Técnico: Luiz Antônio Zaluar (7)
Cobranças: Laerte (travessão), Rodrigo Heffner (defendido), Jefferson (gol) e Benhur (trave)

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