Muricybol vale também

Os times treinados por Muricy Ramalho são constantemente criticados por jogarem pouco futebol, ou no mínimo uma variante pouco atrativa dele. Em alguns casos, porém, isso se faz necessário. Como o de ontem à noite: era preciso, de qualquer maneira, vencer o San Lorenzo. Se não conseguisse isso, o São Paulo ficaria com os mesmos 4 pontos dos argentinos, mas tendo de enfrentá-los em Buenos Aires daqui a duas semanas na obrigação de não perder. Agora, com este 1 a 0 construído a fórceps no Morumbi, basta não levar 3 a 0 para seguir em vantagem na luta pela segunda vaga do Grupo 2, já que a primeira, tudo indica, será mesmo do Corinthians.

Além da dificuldade de enfrentar um adversário fechado e da absoluta necessidade de vencer da maneira que fosse, outro fator colaborou para que o São Paulo praticasse o "Muricybol": a perda de Alexandre Pato. Principal artilheiro da equipe na temporada, se lesionou logo aos 30 segundos, quando construiu a única situação de gol de todo o primeiro tempo: um centro perfeito que encontrou Michel Bastos na área, com uma cabeçada que explodiu na trave. Era o prenúncio promissor de uma partida que jamais aconteceu.

Maduro, o campeão da América não se abalou coma precoce ameaça paulista. Muito bem montado defensivamente, o San Lorenzo fechou-se de forma a anular os espaços do São Paulo e, assim, irritou o time brasileiro, que passou a errar sistematicamente, propiciando contra-ataques. Além do cabeceio de Michel Bastos na largada, o Tricolor não criou mais nada no primeiro tempo. Os argentinos, por sua vez, tiveram três chances claras. Mesmo recuados, estavam mais perto do gol do que o time da casa. A velocidade de Barrientos e Blanco pelos lados dava grande trabalho ao sistema defensivo da equipe mandante.

No segundo tempo, Muricy compactou seu time, que passou a ter mais presença ofensiva. Os contragolpes argentinos passaram a ser marcados na origem, o que dificultou a maior arma do time de Bauza. Porém, com Ganso pouco inspirado e Centurión bem marcado, a alternativa era mesmo o jogo aéreo. Só assim era possível levar perigo. E o jogo ficou semelhante ao do primeiro tempo quando Romagnoli entrou, devolvendo aos argentinos a criatividade para explorar os espaços e o contragolpe rápido e qualificado. Aos 44, porém, Michel Bastos completaria para as redes o mesmo lance no qual quase pôs o São Paulo na frente aos 30 segundos. Teria sido menos dramático.

Não foi nada brilhante, não foi promissor, mas foi importante. O São Paulo precisava muito desse resultado. Vivia momento turbulento devido ao mau retrospecto diante do Corinthians, tanto na Libertadores quanto no Paulistão, e um tropeço no Morumbi poderia ser a ruína. O gol no fim, no desafogo, sobre o tempo regulamentar, dá até um tom dramático capaz de fortalecer a equipe. Resta dar continuidade a isso e conquistar um empatezinho que seja na Argentina. Aí, sim, a vaga estará bem perto.

O minuto que deve classificar o Inter
No mesmo minuto de jogo em Manta, o Emelec perdeu Lastra, expulso (Réver também deveria ter sido), e a vantagem de 1 a 0. O voleio de Vitinho mostrou a estrela de Diego Aguirre, e deixa o Internacional mais perto das oitavas de final. Como no caso são-paulino, o resultado foi ótimo, providencial, mas a atuação teve vários problemas, especialmente depois que o time teve vantagem numérica. A começar pela saída equivocada de Aránguiz no intervalo, quando o melhor teria sido a retirada de Nílton.

O time de Aguirre controlava bem o Emelec no 3-6-1, mas era sabido que isso só funcionaria até tomar o gol. O sofreu numa falha coletiva, especialmente de Léo, péssima atuação. Ficou perdido após tomar o tento, pois não estava preparado para ter de buscar o resultado. Conseguiu numa bola parada, já com dois atacantes, mas, mesmo com um homem a mais, só não perdeu por pura imperícia dos atacantes equatorianos na conclusão (a facilidade com Bolaños, Mena, Mondaini e Narváez tramavam em meio aos zagueiros colorados no fim do jogo foi constrangedora). O empate, porém, é valioso: ganhar do Strongest no Beira-Rio, não interessa o resultado do jogo em Santiago, classificará o Inter às oitavas. E o Colorado, quase certeza, deve ganhar dos bolivianos em Porto Alegre.

Volta Pratto, voltam as vitórias
Pratto, Marcos Rocha, Douglas Santos, Carlos... Como eles faziam falta ao Atlético Mineiro. E como eles foram importantes, especialmente o centroavante argentino, no jogo de ontem à noite. O 1 a 0 em Bogotá, mais do que sensacional, é providencial. Ao ganhar do melhor time do Grupo 1, o Galo não apenas embola a chave, como se recoloca na disputa. Um empatezinho que fosse na Colômbia, na prática, o eliminaria da competição. A vitória, porém, não alivia em nada a carga: o time mineiro segue precisando ganhar seus três jogos restantes, em princípio, para se classificar. A chave de Corinthians, São Paulo e San Lorenzo leva a fama óbvia, mas este grupo do Galo é que é, de fato, o mais complicado da Libertadores 2015.

O melhor jogo de 2015
Nenhum jogo nesta temporada, de todos os que acompanhei, foi melhor do que Barcelona x Manchester City, ontem, no Camp Nou. Não apenas porque estavam frente a frente dois grandes times, mas porque foi uma partida aberta, de atuações históricas de seus personagens, e de tirar o fôlego: foram nada menos que 26 chances claras de gols (19 delas do Barça), 38 finalizações e apenas 18 faltas cometidas. Um jogo corrido e emocionante. E se Messi teve atuação divina, dando uma assistência e participando de outros 11 lances perigosos na área inglesa, o goleiro Hart foi milagroso: 10 defesas difíceis, 8 delas cara a cara com os avantes do Barça. Monstruoso.

Carta na Mesa
Últimas cinco edições do programa disponíveis para download. A de hoje, como sempre, é daqui a pouco, às 10h, ao vivo, pela Rádio Estação Web (reprise às 13h).

Carta na Mesa - 09/03/2015
Carta na Mesa - 12/03/2015
Carta na Mesa - 16/03/2015

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