Medo corajoso

Já falei aqui na semana passada, e repito, que de uma coisa ninguém pode acusar Diego Aguirre: de ser medroso. Soa estranho falar isso às vésperas de um jogo onde ele vai escalar o Internacional num retraidíssimo 3-6-1 para enfrentar o Emelec, em Manta, no Equador. Mas não se trata de um juízo de valor a respeito da formatação de seu time, e sim de sua coragem de alterar o esquema da equipe de acordo com as conveniências, algo que vai de encontro à praxe brasileira de que é preciso repetir escalações, ainda mais quando se está apenas num segundo mês de trabalho, e mais ainda por não ter, ao que parece, o respaldo necessário do corpo diretivo do clube.

Escalar o Inter no 3-6-1, por mais paradoxal que possa ser, é um ato de extrema coragem do treinador. Porque não há nada que irrite mais torcedores e cartolas brasileiros que ver o próprio time perder um jogo por conta de um esquema tático covarde, por causa de uma retranca. Aguirre talvez não tenha bem a noção disso. Se tem, mais méritos ainda: não se dobra às pressões e mantém suas convicções, doa a quem doer.

É igualmente complicado, aliás, falar em convicções a respeito de um técnico que utilizará seu terceiro esquema diferente em menos de três meses. E o pior: desta vez, o uruguaio parece mesmo exagerar na dose de cautela. Diante do Aimoré, o 3-5-2 não foi exigido em termos defensivos. Mas ir num 3-6-1 ao Equador é praticamente abdicar da possibilidade de vitória. De acordo com o treino de ontem, os laterais sequer atuarão de forma ofensiva. Quando atacado, o Colorado vai mesmo jogar no 5-4-1, um dos esquemas táticos mais defensivos e menos funcionais que o futebol conhece. Não haverá D'Alessandro, tampouco Nilmar. Aránguiz, peça chave do meio-campo amanhã, está voltando de lesão, e provavelmente jogue adiantado, como meia ao lado de Alex, posição a qual não gosta de desempenhar. O Emelec, por melhor que seja, não obriga tanta cautela assim.

Fato é que se vive de resultados, e no futebol brasileiro o longo prazo é desprezado. O imediatismo é a lei: se Aguirre perder com este 3-6-1, ficará por um fio, e não seram raros aqueles que defenderão sua demissão, afinal, há quatro semanas para a decisão contra a Universidad de Chile, em Santiago. Já uma vitória o tornará um "estrategista", um cara que sabe montar o Inter de acordo com o adversário, que o molda de maneira a contornar suas dificuldades. E é evidente que toda esta alteração de esquema se deve ao problema principal da equipe rubra, que é o de tomar gols demais.

O risco é grande, portanto. Quem se fecha demais sem saída para o desafogo de um contragolpe costuma perder, e este time que entrará em campo é lento, não tem ninguém que puxe uma jogada em velocidade, capaz de surpreender o adversário. Portanto, uma derrota não apenas pode deixar a classificação ameaçada, como o próprio cargo de Diego Aguirre também. Jogar de forma medrosa é um ato de coragem. Tudo isso é contraditório, mas extremamente verdadeiro também. E como é fácil demais falar depois do acontecido, já dou minha opinião: o 3-6-1 de Aguirre é medroso, e discordo dele. Mesmo sem D'Ale e Nilmar, este time pode enfrentar o Emelec fora de casa de modo mais propositivo. Com laterais recuados, pode perder o recheio do meio-campo. Com seis na meia-cancha, pode tornar-se previsível, enfadonho e pouco agressivo no ataque. Pode funcionar, claro, mas não é a formação ideal, seja para Manta, seja para o restante da competição.

A perda de Lisandro
Para quem assinou um contrato curto, com renovação ligada à produtividade, a lesão de menisco de Lisandro López não poderia vir em pior hora. Ele começava a se entrosar com os companheiros, mostrar seu bom futebol, mas deverá parar por pelo menos 20 dias. O risco é não voltar no mesmo nível de antes, cair de produção e não ser, assim, contratado em definitivo. Péssima notícia. Ao menos, estará disponível para as oitavas de final da Libertadores.

A perda de Cebolla
A lesão de Cristian Rodríguez também é ruim para o caso gremista, com a grande atenuante de que é leve. Ele não enfrenta o Lajeadense, mas em dez dias deve estar de volta. Quem viu Braian Rodríguez de braço imobilizado também se assustou, mas a tendência é que ele retorne já no domingo. Bruxa solta com os gringos da Dupla Gre-Nal.

Tropeço, e de laranja
Desta vez, nem a camisa laranja ajudou. O Juventude tropeçou em casa no Avenida e deixou de empatar com o Grêmio na liderança. O Gauchão é tão equilibrado que o Lajeadense, 8º colocado, tem 3 pontos a menos que o líder da competição. Lá embaixo, briga de foice entre São Paulo, Caxias, Avenida e União, além do Veranópolis, que está um pouco acima.

Terça continental
Sporting Cristal x Racing, Danubio x Corinthians, The Strongest x La U, Liga dos Campeões no mata-mata... A terça-feira promete pelas principais competições continentais do planeta. E a quarta será ainda melhor.

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