À procura de um Plano B
Dunga teve boa dose de razão ao usar o amistoso contra o Chile como um laboratório. Além de ser o último antes da convocação para a Copa América, era a chance de observar com mais calma e minutos jogadores que praticamente não foram utilizados por ele ainda. Afinal, o Brasil se repetiu quase que inteiramente nestes sete jogos desde agosto. O lamentável, no caso, é que poucos testes hoje se mostraram bem sucedidos no Emirates Stadium.
A começar pelo esquema. O 4-3-3/4-2-3-1 dos últimos jogos foi substituído por um 4-2-2-2 com dois volantes e dois pontas - Philippe Coutinho pela esquerda e Douglas Costa pela direita. Toda a má exibição da Seleção no primeiro tempo passa por aí. Primeiro: sem um meia centralizado, o time se espaçou muito. Com dois pontas que mal recompunham o meio, o Chile de Sampaoli controlou completamente o setor. Uma estratégia assim facilita para quem joga com cinco meio-campistas, e gosta de trocar passes. Dificilmente daria certo, e foi bom não ter logo dado diante dos chilenos, que primam por ocupar o meio e ter a bola nos pés, para que isso fique escancarado como uma não-opção para a Copa América.
A formação viciou o Brasil em jogar pela esquerda, embora pouca coisa produtiva tenha saído dali, pela má jornada individual das peças. Marcelo apoia mais que Danilo, Neymar caía por aquele lado e tinha em Coutinho um parceiro para tramar jogadas. Mas... e pela direita? Nada. Danilo teve de cuidar de Vidal e mal subia. Douglas Costa esteve apagadíssimo, mas principalmente porque não teve parceria. O atacante que caía pelo seu lado, Luiz Adriano, foi um completa nulidade. Sem mobilidade, acabou preso entre os beques chilenos, e jamais tentava algum tipo de aproximação com quem quer que fosse. Nem o entrosamento de Shakhtar Donetsk ajudou a dupla.
O Chile, porém, também tinha seus problemas. Sem um meia de fato, foi Vidal o homem mais adiantado do meio, como na Juventus. Isso não é um problema: o que faltou foi poder de fogo na frente. A opção por Hernández no lugar de Vargas tirou do Chile o arremate de longe, a preocupação constante à zaga rival. Não fosse por algumas iniciativas individuais brilhantes de Alexis Sánchez e o time de Sampaoli não teria sequer pisado na área brasileira. A rigor, a única chance do primeiro tempo foi um chute mal feito de Douglas Costa após matar no peito, em grande inversão de Marcelo. De resto, ninguém mais levou perigo a ninguém. Era um Brasil sem meio contra um Chile sem ataque.
Foi com os titulares que a Seleção de fato cresceu. Na verdade, Firmino é que fez a diferença, pois Elias e Robinho pouco mudaram em relação a Souza e Coutinho, embora Willian tenha sido um acréscimo em relação a Douglas Costa. Mas o lance do gol deixa claro: a mobilidade que falta a Luiz Adriano sobra ao atacante do Hoffenheim. Danilo o percebeu posicionado para receber um lançamento desprevenido, pegar a zaga fora de lugar e matar o jogo. Luiz Adriano é centroavante de área, mais fincado. Para uma Seleção ter de jogar em função de um centroavante assim, só ele sendo muito acima da média, o que não é o caso. Ainda assim, vale ser mais testado, especialmente como opção de bola aérea, ou noutras condições de titularidade, com mais gente abastecendo.
Ficou evidente hoje (na verdade quinta, diante da França) que o Brasil já formou time. Dunga, que levou quase três anos para conseguir isso em sua primeira passagem pela Seleção, logra tal objetivo agora em apenas seis meses. O entrosamento no segundo tempo foi outro, a qualidade de movimentação, o conhecimento mútuo entre os companheiros. A Copa América, que será dificílima, será a prova de fora.
Quanto aos testes, não deram certo, mas são sim muito válidos: em 2010, o que mais se criticou em Dunga foi o fato de ele não ter um plano B. Agora, pelo que se vê, o treinador está vacinado para não cometer o mesmo erro de cinco anos atrás. Resta saber qual será esta alternativa, seja tática ou de nomes. As de hoje não funcionaram, mas ainda é cedo demais para isso. O fato de o Brasil já pensar neste segundo esquema é prova de que o primeiro, por mais precoce que seja, já está afirmado.
Em tempo:
- Pela milésima vez, pergunto: precisa mesmo ir para Londres jogar com o Chile se temos aqui pelo menos uns 15 estádios em nível mundial? Preci$a?
Ficha técnica
Amistoso
29/março/2015
BRASIL 1 x CHILE 0
Local: Emirates Stadium, Londres (ING)
Árbitro: Martin Atkinson (ING)
Público: não divulgado
Gol: Firmino 25 do 2º
Cartão amarelo: Thiago Silva, Neymar, Miranda, Elias, Fernandinho e Albornoz
BRASIL: Jefferson (6,5), Danilo (6,5), Thiago Silva (6), Miranda (6) e Marcelo (5,5) (Filipe Luís, 30 do 2º - 5,5); Souza (5,5) (Elias, 14 do 2º - 5,5), Fernandinho (5,5), Douglas Costa (4,5) (Willian, 16 do 2º - 5,5) e Philippe Coutinho (5) (Robinho, 14 do 2º - 5,5); Neymar (5,5) e Luiz Adriano (4) (Firmino, 14 do 2º - 6,5). Técnico: Dunga (5)
CHILE: Bravo (5,5), Jara (6), Medel (6) e Albornoz (5,5); Isla (5,5), Aránguiz (5,5), Millar (5) (Fernández, 28 do 2º - 6), Vidal (5,5) (Vargas, 34 do 2º - 5,5) e Mena (5,5) (González, 36 do 2º - sem nota); Hernández (4,5) e Sánchez (6,5). Técnico: Jorge Sampaoli (5,5)
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