A maioridade do PSG

Milhões de euros, estrelas do mundo todo no elenco, títulos nacionais. Tudo isso o Paris Saint-Germain já tem. O que falta ao time francês é camisa no plano internacional. Mas tradição se constrói: o próprio Chelsea, rival de ontem, teve de ser eliminado várias vezes de forma frustrante antes de erguer o maior título europeu, três anos atrás. E o PSG, pela façanha que produziu ontem, pode estar conquistando sua maioridade agora.

Antes de mais nada, é preciso lembrar o jogo de ida. No Parque dos Príncipes, o time francês já havia sido superior, mais propositivo, embora sem Ibrahimovic, seu principal craque. O resultado foi um frustrante empate em 1 a 1, que, com o sueco, a esperança é que fosse revertido em Londres. Mas esta ilusión, como dizem os argentinos, durou 30 minutos: Ibra foi expulso de forma exagerada pelo holandês Bjorn Kuipers, em entrada na qual claramente recolhe a perna, sem intenção alguma de atingir Oscar. O PSG se via sem seu referencial técnico, precisando vencer o melhor time inglês da atualidade, com um homem a menos.

Antes da expulsão de Ibrahimovic o jogo era estudado, quase sem chances de gol. Depois dela, seguiu parecido: o PSG, sem poder propor o jogo após perder o camisa 10, esperava para dar o bote; o Chelsea, mesmo com vantagem numérica e no confronto, se arriscava e jogava pouco. A entrada de Willian no lugar de Oscar deu mais fôlego ofensivo ao time de José Mourinho, mas, mesmo com todas as precauções defensivas, a equipe sofria com os contragolpes franceses. O gol de Cahill, aos 35 do segundo tempo, parecia o do desafogo, mas na verdade não decidia nada, pois um gol parisiense levaria o jogo à prorrogação. E David Luiz conseguiu, aos 40, quase quebrando o travessão, quase furando a rede de tão forte que foi sua cabeçada. E comemorou, mesmo já tendo jogado pelo clube adversário.

Na prorrogação, o pênalti de Thiago Silva, uma grande bobagem do brasileiro, dava não só o 2 a 1, mas o controle total das ações para o Chelsea. Com um a mais, jogando em casa e com pernas muito menos cansadas, o time inglês tinha tudo para administrar a vantagem até o fim. Porém, em vez de valorizar a posse de bola ofensiva, em vez de aproveitar o desespero francês, se acomodou. Sentou em cima do resultado, deu campo ao inimigo, mesmo ele já estando cansado, e pagou caro por isso. Thiago Silva obrigou Courtois a um milagre segundos antes de ele próprio repetir a dose, desta vez encobrindo o goleiro belga. Era o gol da classificação, aos 8 minutos do segundo tempo da prorrogação. Um time que prima pela segurança defensiva toma dois gols em escanteios, jogada exaustivamente trabalhada nos treinamentos.

Muitos dirão que o regulamento da Liga dos Campeões é bizarro. E é mesmo: a UEFA, aquela mesma que considera confronto direto o primeiro critério de desempate, ocasionando jogos como o Dinamarca 2 x 2 Suécia de 2004, além de usar o discutível saldo qualificado como critério em caso de empate, força uma desnecessária e cansativa prorrogação, a qual, além de tudo, obriga quem joga em casa a atuar com 30 minutos a mais de risco de sofrer um gol que cause a eliminação. O Chelsea, que teve campanha superior na primeira fase, saiu prejudicado.

Porém, o regulamento não tira do Paris Saint-Germain qualquer justiça pela classificação. Com o 1 a 1 da ida e o parcial 0 a 0 que tínhamos na volta até 34 minutos do segundo tempo, o time francês não mereceria a eliminação pelo critério do saldo qualificado. Foi melhor em casa e fora, mesmo jogando com um a menos na maior parte do tempo. A esdrúxula prorrogação só fez justiça a quem mais quis, quem mais brigou, quem mais lutou pela classificação. Duro vai ser parar o time de Laurent Blanc a partir de agora, pois é o tipo da classificação que dá força: um gol faltando cinco minutos para o fim do tempo normal, outro faltando sete para o término da prorrogação. Uma doce vingança a quem foi eliminado no mesmo Stamford Bridge, ano passado, a apenas três minutos do encerramento do confronto.

Outra turma
Pela primeira vez em todo o Campeonato Gaúcho, o Grêmio se portou como time de outro nível em relação a um adversário do interior. Não se enganem com a tentativa de pressão do Ypiranga nos minutos finais, já com 11 contra 10: o Tricolor mandou no jogo no Colosso da Lagoa e bateu com autoridade um adversário reconhecidamente qualificado como um dos principais enfrentados na temporada até agora. Estadual não é parâmetro em termos de resultado, mas em termos de desempenho, sim. E o time de Luiz Felipe só cresceu nas últimas cinco partidas que fez, mas notadamente desde o empate no Gre-Nal.

O interessante Ypiranga
O Ypiranga fez um jogo ruim ontem, mas seu esquema é bem interessante. O setor de frente se comporta quase como um 4-2-4 quando o time tem a bola, e como um 4-5-1 quando não a tem (neste caso, Paulo Baier não volta tanto, pelo peso de seus 40 anos). O camisa 10 atuou ontem ao lado de Jean Paulo pelo meio, enquanto Cleyton e Saldanha faziam as vezes de ponteiros, daqueles enjoados. Só não foram mais bem sucedidos porque Marcelo Hermes e especialmente Matías Rodríguez tiveram atuações muito seguras na marcação.

Funcionou
Como dissemos na terça-feira, o 3-5-2 de Diego Aguirre era arriscado por nunca ter sido utilizado antes, mas fazia todo o sentido sua implantação, pelas características e problemas apresentados pelo Internacional até agora na temporada. Em sua estreia, funcionou muito bem: é verdade que o Aimoré não exigiu quase nada dos zagueiros, mas isso também é um mérito de quem neutralizou as chegadas do time de São Leopoldo desde o meio-campo. Além da melhora na zaga e nas alas, a formação de uma dupla de ataque, com Eduardo Sasha e Lisandro López, foi algo que deve ter matado a saudade de muitos colorados que já deviam estar fartos do 4-2-3-1. Com Aránguiz no lugar de Nílton e D'Alessandro no de Alex, o Inter pode, quem sabe, estar encontrando sua formação ideal. A dúvida é saber quem sairá do ataque titular: Lisandro, Sasha ou Nilmar?

Do Beira-Rio para a Arena
Se o 4-2-3-1 pode estar com os dias contados no Internacional, no Grêmio ele passará a ser utilizado como formação preferencial. O provável meio ideal de Felipão terá Giuliano pela direita, Douglas centralizado e Cristian Rodríguez pela esquerda, todos encostando em Braian Rodríguez. Há ainda Walace, Ramiro, Maicon, Luan, Lincoln e Yuri Mamute pleiteando titularidade. Quando o time vai bem, o grupo melhora, e vice-versa. É o que está acontecendo no Tricolor nas últimas semanas. Agora, a gurizada não é mais a cereja do bolo, mas a base de sustentação dele. O procedimento correto é este, não o inverso, que vinha ocorrendo nas primeiras semanas do ano.

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