O Maraca é o prêmio

O Brasil esteve longe de repetir 1985, mas o Bento Freitas terminou o jogo contra o Flamengo, ontem, vibrando. O gol de Nena nos acréscimos, em cruzamento de Rafael Forster e saída errada de Paulo Victor, carimbou a ida do Xavante ao Maracanã. A permanência da equipe na Copa do Brasil, nem que seja por mais três semanas, foi o prêmio aos torcedores que lotaram o estádio em Pelotas, e estavam prontos para deixá-lo absolutamente frustrados.

Vanderlei Luxemburgo conhece o interior gaúcho, sabe que no Bento Freitas as coisas são historicamente complicadas. Sabe também que o Brasil é o melhor time do interior há um bom tempo, e que o jogo seria difícil. Sua estratégia foi correta: baixar o ritmo da partida sempre, para travar a euforia e a correria do time da casa. Canteros e Márcio Araújo tiveram papel fundamental: não foram brilhantes, mas ajudaram a cadenciar o andamento de uma partida que começou acelerada, em ritmo alucinante, por parte dos comandados de Rogério Zimmermann.

E o Xavante tinha razão: era preciso aproveitar o calor da torcida para pegar embalo, marcar um gol cedo e apavorar os cariocas. Nos primeiros 10 minutos, o Flamengo mal conseguiu sair do seu campo de defesa, mas conseguia se segurar bem, e não sofreu nenhuma tentativa mais séria de sofrer o gol. O negócio era ir com calma, chegar junto também, e aproveitar os erros do Brasil para tentar vencer. Foi exatamente isso o que aconteceu: na falha gritante de Ricardo Bierhaus, Alecsandro fez 1 a 0 e esfriou o caldeirão.

Foi um gol providencial por vários motivos: ocorria ainda no primeiro tempo, quando o ritmo xavante tendia a ser mais forte, e, claro, era um tento fora de casa, sempre importante no mata-mata. Ele ditou o ritmo da etapa final: o Brasil tentava pressionar, mas já errava bem mais na construção de jogadas. Leandro Leite era implacável à frente da área, mas já errava mais passes, por exemplo. A possibilidade de tomar mais um gol e ser eliminado deixava todos apreensivos. O próprio estádio mais se enervou do que apoiou no segundo tempo, e o surpreendente gol de Pará, em golpe de vista mal feito pelo veterano Eduardo Martini, foi um golpe duríssimo. Falhas individuais custam caro contra equipes grandes.

Ainda assim, e com novamente o apoio da galera no Bento Freitas, o Brasil superou suas limitações. Rafael Forster, de atuação desastrosa na maior parte do tempo (chegou a errar cobrança de lateral de tão nervoso no fim do jogo), foi o símbolo disso: após errar diversos cruzamentos, cobrou com perfeição a falta que Nena só assinou, já nos acréscimos. Um prêmio merecido a um time valente. A eliminação precoce seria um castigo duro demais.

Desespero
O Atlético Mineiro sabe que o seu grupo é um dos mais difíceis da Libertadores. A atuação diante do Atlas foi típica daqueles times que entram para ganhar nem que seja na marra. Faltaram, porém, vários titulares importantes - principalmente Pratto, que é quem faz os gols. Mas foi justamente por saber que a chave é complicada que o time se precipitou. Teve chances, é verdade, mas as principais, em especial no segundo tempo, foram mesmo do Atlas - um time que se defendeu com mais competência e atacou com mais ainda - e, se tivesse atacantes mais efetivos, teria imposto placar superior ao 1 a 0 final. Mereceu, portanto, o resultado. Com zero ponto, o Galo não está ainda eliminado (lembram do Palmeiras em 2009?). Mas não pode mais adiar a volta das vitórias.

Uma boa lição para Aguirre
Se Diego Aguirre viu o jogo do Galo, pode ter tirado dele várias lições. A situação do Inter hoje é idêntica à do Atlético ontem: em casa, precisa vencer um time que também perdeu na 1ª rodada. O uruguaio promete uma equipe ofensiva, como Levir pôs os mineiros para jogar ontem, embora deva entrar com três volantes. O Colorado precisa ir com calma, embora com o vigor de quem se impõe em casa. É uma equação não tão simples: a Universidad de Chile pode estar mal, mas já ganhou no fim de semana a primeira no ano e é potencialmente um bom time. Pode se recuperar a qualquer momento. Para quem não venceu nenhuma vez nem no Gauchão com os titulares, é preciso tomar bastante cuidado.

Bom começo e recuperação
Rival do Atlético, o Cruzeiro, por sua vez, teve um começo de Libertadores dentro do esperado. Foi melhor que o Universitario em Sucre e poderia ter vencido. Favorecido pelo empate do Huracán em casa com o Mineros, precisa agora confirmar diante dos argentinos, no Mineirão, a liderança da chave. O São Paulo, por sua vez, se recuperou com sobras: enfiou 4 a 0 no Danubio em casa, recuperou a confiança e não fica tão para trás na disputa com San Lorenzo e Corinthians.

Desastre inglês
Antes, o Arsenal usava a má sorte como pretexto em suas eliminações na Liga dos Campeões. Agora, nem isso serve como desculpa: diante de um Monaco esfacelado por várias saídas importantes, deu a impressão de que venceria, com um começo implacável. O gol do ótimo Kondogbia, porém, abriu uma jornada desastrosa: uma torcida fria, um time sem reação e um passeio francês, num segundo tempo que foi todo de João Moutinho e do jovem Martial. O time de Wenger chegou a descontar, mas o 3 a 1 do Monaco no finzinho praticamente lhe garante a vaga para as quartas de final. É a melhor campanha do time do principado desde o vice-campeonato de 2004.

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