Que Anderson está chegando?

Se confirmada, a contratação de Anderson pelo Internacional será o negócio de maior impacto no futebol gaúcho desde a vinda de Christian para o Grêmio, em 2003. Ela mexe profundamente com todos os sentimentos que podem envolver a Dupla Gre-Nal: sua qualidade técnica muito acima da média, a empolgação colorada de ter um jogador de altíssimo nível chegando, a dor dos gremistas por ver um de seus mais recentes ídolos vestindo a camisa rival e o gostinho vermelho de ver os tricolores mirando com tristeza o herói da Batalha dos Aflitos vestindo a camisa rubra. Tudo o que os gremistas viveram em 2003, quando Christian chegou ao Olímpico, os colorados viverão agora - e vice-versa.

Toda essa avalanche de sentimentos torna difícil qualquer ponderação a respeito do negócio, mas elas precisam ser feitas, e não são poucas. A primeira pergunta é inevitável: que Anderson o Internacional está trazendo? Por certo, o Anderson de 2005 a 2007, o Anderson do Grêmio e do Porto. Adolescente, irreverente, destemido e, acima de tudo, meia-atacante. O jogador que, pelo que fez naquele período, chegou à seleção brasileira, a principal e a olímpica. O Anderson que decidia jogos sozinho, que passava com facilidade por seus adversários, que era capaz de grandes dribles, grandes passes e grandes conclusões.

O problema é que este jogador não existe há oito anos. Alex Ferguson recuou Anderson de meia para volante em sua chegada à Inglaterra. Isso aos 19 anos, uma idade na qual o atleta ainda está em formação, por mais prodigioso e experimentado que seja. Tudo para encaixá-lo em um Manchester United cheio de estrelas, onde ele não teria espaço para brigar por titularidade com Cristiano Ronaldo, Rooney e Giggs. Este segundo Anderson teve bom desempenho em seus dois primeiros anos no futebol inglês: qualificou a saída de bola da equipe, ganhou uma Liga dos Campeões (fez gol de pênalti na decisão, inclusive), mas foi virando um burocrata. Algo que ele já é há alguns anos. Meia ele não é há quase uma década. Talvez nem seja mais, e aí está uma boa parte do problema.

O número de partidas disputadas por Anderson foi decrescendo ao longo dos anos: dos 36 jogos disputados em 2007/08, caiu para 29 na temporada seguinte, até chegar a apenas nove em 2013/14. Pela Fiorentina, onde esteve por empréstimo no ano passado, jogou apenas oito vezes. Desde agosto ele não entra em campo. Virou um jogador acomodado, com problemas de peso. Perdeu valor de mercado, e por isso está deixando a Inglaterra. Ainda assim, é um jogador caríssimo para os padrões nacionais. Se ganhar mesmo os R$ 620 mil que se fala, só estará atrás de D'Alessandro na lista dos maiores salários do Inter. Diante do panorama do futebol atual, onde os vencimentos dos atletas são absurdos, somente o Anderson dos velhos tempos valeria a pena, e olhe lá. Para quem antecipou R$ 60 milhões em receitas de 2015 no ano passado, é um negócio pra lá de arriscado.

Nada disso impede que Anderson dê certo no Beira-Rio, claro. Há vários pontos positivos a seu favor: voltará à sua terra natal, poderá novamente jogar na função que mais gosta (e na qual sempre jogou bem, ao contrário de segundo volante), e, principalmente, estará bem mais motivado, algo que tem lhe faltado há algum tempo, e ajuda a explicar seu mau futebol na Europa de uns anos pra cá. Para o Inter, a grande vantagem de ter o Anderson de uma década atrás, além de sua inegável capacidade técnica, é poder dar velocidade a um time que há anos sofre com a lentidão de seus homens de frente. No entanto, é preciso considerar que ele levará um tempo até entrar em forma (estará pronto a tempo de jogar a fase de grupos da Libertadores?), e que alguém irá sobrar deste time. Opções, por outro lado, Diego Aguirre terá de sobra. Com Nilmar, D'Alessandro, Anderson, Alex, Vitinho, Eduardo Sasha e Valdívia, o Inter terá o melhor grupo de meias e atacantes do futebol brasileiro, talvez sul-americano.

Se há margem para uma justificada empolgação da torcida colorada, há também muita coisa a se ponderar para quem comanda o futebol do Internacional. E isso que nem falei de sua personalidade forte. Teremos anos bem movimentados. Jogadores como Anderson são capazes de causar tudo isso.

Comentários

Sancho disse…
E o Tinga?!
Vicente Fonseca disse…
Foi forte, mas considero um degrau abaixo. Christian e Anderson representam os grandes ídolos de períodos áridos da história de Inter e Grêmio. É um golpe mais duro vê-los com camisa do rival que o Tinga.
Sancho disse…
Pode ser, mas, admito, não será para mim. Sinto que o Ânderson não passou de um vir-a-ser. Já o Tinga, vê-lo trajando colorado, foi f...!