A costumeira facilidade

Já virou um clássico dos Mundiais: o time europeu pega o mexicano e goleia, normalmente por 4 a 0. O único adversário asteca que ofereceu real resistência a alguém do Velho Continente foi o Atlante, que em 2009 chegou a estar vencendo, mas cedeu o 3 a 1 ao Barcelona. Hoje, o Cruz Azul repetiu o rival América em 2006, que levou 4 a 0 do Barça, rival do Real Madrid, favorito da vez.

A vitória foi folgada, mas, ao contrário daquele América x Barcelona de oito anos atrás, houve momentos de equilíbrio. O time de Carlo Ancelotti exerceu uma forte pressão inicial, adiantando suas linhas e forçando o erro do Cruz Azul, para definir o jogo logo. Os mexicanos mal conseguiam sair de trás. Quando começavam a ter alguma alternativa pelos lados e se assentar no jogo, levaram o primeiro gol, numa saída errada de Corona que Sérgio Ramos aproveitou. Bayern München e Atlético de Madrid conhecem bem a força do zagueirão no jogo aéreo.

O baile, porém, foi interrompido. É verdade que o Real Madrid gosta de se fechar para jogar no contra-ataque supersônico que Bale e Cristiano Ronaldo são capazes de puxar. Mas nem tudo foi consentido. Illarramendi, por exemplo, errou passes comprometedores. Marcelo, pela esquerda, sofria ao marcar Rojas, que o entortava com facilidade. Antes de tomar o segundo gol, 20 minutos após o primeiro, o Cruz Azul teve ao menos duas chances claras de empatar. E, tomado o 2 a 0, teve um pênalti a seu favor que Torrado desperdiçou, fora um erro de Illarramendi que Pavone não soube aproveitar. Méritos de Casillas nas duas jogadas.

No entanto, foram estes dois lances que mataram qualquer chance de reação mexicana em Marrakech. Diante de um time evidentemente superior, o Cruz Azul não podia se dar ao luxo de perder tantas oportunidades de marcar. No primeiro tempo, criou mais oportunidades que o próprio time espanhol, mas a qualidade fez a diferença. E o gol de Gareth Bale, na abertura do segundo tempo, definiu o confronto de vez. O quarto, marcado por Isco, foi mera consequência de uma partida que já era jogada em ritmo de treino.

Além da incrível qualidade de sua equipe, o Real Madrid tem sua tarefa de igualar o Milan e virar o segundo clube tetracampeão do mundo facilitada pelo momento de seus principais adversários. O Cruz Azul, por exemplo, é o atual campeão continental, mas chegou apenas em 13º no último Campeonato Mexicano. No período de férias que tirei em terras astecas, em novembro, a crise da equipe azul era pauta de todos os telejornais esportivos do país.

Para sábado, o desafio será certamente mais complicado. Mas o San Lorenzo também não é mais aquele que ganhou a Libertadores. Vem focado, é forte e aguerrido, mas perdeu força de agosto para cá. Difícil não atribuir o favoritismo aos espanhóis, por mais que ele não vença jogo - às vezes, ajuda a perder. E fica o aviso: jogando descuidado atrás, como hoje, o time espanhol terá problemas diante dos argentinos.

Isso se o Auckland City não seguir aprontando, claro.

Em tempo:
- O Cruz Azul conseguiu ao menos um feito: não tomou gol de Cristiano Ronaldo. É mais difícil do que parece: dos 53 times que enfrentou pelo Real Madrid, o português só não marcou gol em dois. O outro é o Dínamo Zagreb.

- Muita torcida pelo Real Madrid no estádio, e desta vez não se trata da admiração dos torcedores locais. Marrakech e Madrid estão separados por apenas mil quilômetros, como Porto Alegre e São Paulo. Uma horinha de voo resolve a bronca.

Mundial Interclubes 2014 - Semifinal
16/dezembro/2014
REAL MADRID 4 x CRUZ AZUL 0
Local: Stade de Marrakech, Marrakech (MAR)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Público: 34.862
Gols: Ramos 14 e Benzema 35 do 1º; Bale 4 e Isco 26 do 2º
Cartão amarelo: Ramos
REAL MADRID: Casillas (7), Carvajal (7), Pepe (6), Ramos (6,5) (Varane, 19 do 2º - 5,5) e Marcelo (6); Illarramendi (5,5), Kroos (6) (Khedira, 28 do 2º - 6) e Isco (7) (Nacho, 30 do 2º - 5,5); Bale (7), Benzema (6,5) e Cristiano Ronaldo (6,5). Técnico: Carlo Ancelotti
CRUZ AZUL: Corona (4,5), Flores (5), Rodríguez (5), Domínguez (5,5) e Pinto (4); Torrado (4), Bernardello (4,5), Rojas (6) (Valadez, 30 do 2º - 5) e Giménez (5,5) (Fabián, 19 do 2º - 5); Fórmica (5) e Pavone (5) (Barrera, 19 do 2º - 5,5). Técnico: Luis Fernando Tena

Comentários

Lique disse…
um dos meus melhores amigos da espanha é marroquino e torcedor fanático do barça, sempre foi sócio, mesmo morando em casablanca. ele disse que marrocos tem MUITO torcedor do real e do barça, além do PSG.

acho mais provável que seja apoio local mesmo do que interesse dos madrilenhos em um jogo contra um time mexicano.
Vicente Fonseca disse…
Pois é, a proximidade é realmente grande. Incrível, ainda mais se tratando que são dois continentes diferentes.
Vicente Fonseca disse…
Mas por que PSG? Colônia francesa?