A Copa é para quem joga

Depois de perder para o Cruzeiro, somente uma vitória sobre o Corinthians deixaria o Grêmio novamente na boa na briga pela Libertadores. Era óbvio, porém, que o Timão viria com tudo para cima: jogando em casa, no Pacaembu ou em Itaquera, é sempre assim. Ainda mais contra um rival direto e quando uma vitória praticamente lhe assegura a vaga na competição. Por isso, Luiz Felipe montou um Grêmio de escalação cautelosa, com três volantes no meio e o correto Ramiro na lateral direita, sem um meia mais criativo ou o avançado, porém pouco confiável, Matías Rodríguez na ala (no jogo de turno, Guerrero bailou em cima do argentino). Na teoria, a ideia era bloquear as jogadas pelos lados, controlar um meio que viria com os fortes Ralf, Elias e Petros e não deixar o Corinthians jogar. Na prática, isso não funcionou.

Na verdade, funcionou parcialmente, quando o time teve postura. Mais uma vez, essa palavra explica um resultado gremista, seja para o bem ou para o mal. Não foi uma estratégia milimetricamente calculada, porque no primeiro tempo só deu Corinthians. Em duelos equilibrados tecnicamente, como o de ontem, domina quem adota postura de dominador. O Timão adiantou sua linha do meio e, através do paredão de seus três volantes (dois deles com ótima capacidade de apoio), ganhou todos os rebotes e encurralou o time gaúcho, que mal tinha tempo de respirar, quanto mais de chegar com perigo no ataque.

O Corinthians só não abriu o placar no primeiro tempo por dois motivos: erros individuais e solidez defensiva do adversário. Ainda que sem Geromel, o Grêmio é um time muito sólido atrás, que sabe fechar os espaços. Mesmo vendo o Timão jogar em seu campo quase que o tempo todo, as chances claras foram poucas se comparadas com o domínio dos paulistas. Outro problema foi Renato Augusto sobrecarregado na armação de jogadas. Embora muito bem marcado, ainda assim, por sua qualidade técnica, ele dava prosseguimento às tentativas. Mas era pouco para furar uma retaguarda tão bem fechada.

Mano Menezes poderia mudar isso, colocando alguém mais criativo no intervalo para auxiliá-lo, mas preferiu não mexer no que vinha bem, até porque o empate não era exatamente trágico. Felipão, sim, mudou o Grêmio para melhor. A entrada de Giuliano deu outra cara ao time, forçando o adiantamento de todo time para ocupar o campo corintiano. Os primeiros 20 minutos da etapa final foram gaúchos. A movimentação era outra, e o Corinthians entendeu isso: tentou postar-se atrás para contragolpear, mas não conseguia, pois até mesmo as laterais, com Ramiro e Zé Roberto adiantados, eram incisivas. Só quem conseguia alguma coisa era o implacável Guerrero, as vezes ganhando de Rhodolfo e Bressan no mesmo lance.

A situação só mudou quando entrou Danilo. Se os três volantes eram dominados, Mano optou por dar mais criatividade ao time. O Corinthians saiu de trás, equilibrou o jogo e, quando fez o gol da vitória, já era melhor de novo, embora não tanto quanto no primeiro tempo. Quem teve postura de protagonista, mais uma vez, saiu vitorioso. O Grêmio 2014 de Felipão foi dois: o de Ramiro como meia e o dos três volantes, ambos usados em diferentes contextos. Mas os melhores resultados vieram sempre por um mesmo motivo, mesmo com diferentes escalações: quando era o time gaúcho que controlava a partida, jogando no campo do adversário. Ontem, isso aconteceu por apenas 20 minutos. Insuficiente para a vitória, até mesmo para o empate.

O Corinthians está na Libertadores. A matemática ainda não diz isso, mas o time pega o Criciúma, em casa, já rebaixado, na última rodada. Irá com 99% de certeza a 69 pontos, pelo menos, mesmo desempenho do São Paulo, que já está na competição continental oficialmente. A briga gremista agora é com o Internacional, e ela não é nada fácil. Ganhando do Bahia quase rebaixado, o Grêmio torce para o rival perder para o Palmeiras, e ainda assim não o passará pelo número de vitórias, ficando em desvantagem para a última rodada. Outra hipótese é o Cruzeiro ganhar a Copa do Brasil. Abre-se mais uma vaga em disputa neste caso (o Atlético Mineiro, atual 5º colocado, não a abriria neste momento). Se der Raposa quarta-feira, a distância para o G-5, que é a do Grêmio até o próprio Galo, é só de um pontinho. É um pouco mais palpável, embora o time mineiro receba o Coritiba e visite o provavelmente já rebaixado Botafogo em seus últimos dois jogos.

Trocando em miúdos, complicou. A conta gremista era fazer três ou quatro pontos contra Cruzeiro e Corinthians. Jogos difíceis, mas jogos difíceis é que credenciam times grandes a coisas grandes. O Grêmio fez zero. E agora só a ajuda dos adversários diretos resolverá a parada.

Arbitragem
No lance do gol corintiano, não fica claro se o toque que saiu na lateral que originou o gol foi de Fagner ou Zé Roberto. O pênalti de Fábio Santos, porém, é de imagem mais nítida. A questão é de interpretação, e por isso é difícil decretar erro neste caso. Ricardo Marques Ribeiro, um árbitro emocionalmente descontrolado e que tem o dom de desempenhar atuações polêmicas, optou por não marcar, talvez por não ter certeza. O mais estranho neste lance foi o ótimo auxiliar Guilherme Dias Camilo, sinalizar uma falta, chamar o juiz e ele marcar lateral. Felipão reclama com alguma dose de razão, e historicamente ele usa essas episódios para justificar resultados ruins, como 99% dos técnicos brasileiros. Na bola, porém, o Corinthians mereceu.

O bi cruzeirense
A festa desta vez foi completa, ao contrário do ano passado, quando o Cruzeiro foi campeão longe de sua torcida e no intervalo do duelo com o Vitória. Os 2 a 1 sobre o Goiás foram conquistados na chuva, diante de 57 mil pessoas no Mineirão. O time de Marcelo Oliveira é campeão faz tempo; restava só saber quando seria a festa. Com 76 pontos, já iguala a campanha do ano passado (embora o time tenha jogado até melhor futebol em 2013) e, ganhando só três dos próximos seis pontos, supera o São Paulo de 2006, tendo a melhor campanha da história dos pontos corridos com 20 clubes. Se fizer seis e for a 82, ainda assim não terá aproveitamento superior ao timaço de 2003, embora se aproxime muito daquele percentual. Festa merecidíssima, mas que precisa ser curta, pois há a superdecisão da quarta, diante do rival Atlético, pela Copa do Brasil. Já pensou dois títulos nacionais em três dias? Algo inédito na história do futebol brasileiro.

Chape fora, Palmeiras a perigo
Com os 2 a 0 sobre o condenado Botafogo, a Chapecoense garantiu sua permanência na elite nacional por mais um ano. A briga para não cair será intensa nas duas últimas rodadas. O Coritiba, com a decisiva vitória por 2 a 0 sobre o Palmeiras, sobe a 41, deixando o time paulista com 39, na beira da zona de rebaixamento e com o Inter, no Beira-Rio, pela frente. O Vitória, com 38, estaria caindo, mas pegará os desmotivados Flamengo e Santos nas duas rodadas finais. Não há jeito: o Palmeiras terá de ganhar do Atlético Paranaense e do Colorado para evitar a queda. Em Porto Alegre, precisará ao menos de um empate para poder secar Coxa e Vitória com um pouco menos de desespero. Dois rebaixamentos em três anos e uma arena novinha na segunda divisão seriam tragédias institucionais terríveis.

Arroz de festa
O Goiás é o time que mais vezes viu seu adversário dar a volta olímpica no Brasileirão por pontos corridos. Disputou os jogos dos títulos do Corinthians em 2005 (ganhou por 3 a 2), do São Paulo em 2008 (perdeu por 1 a 0) e o de ontem, diante do Cruzeiro. O segundo maior coadjuvante foi o Palmeiras, que viu de perto a festa do Corinthians em 2011 (empate em 0 a 0) e do Fluminense em 2012 (derrota por 3 a 2). Paysandu (2003), Vasco (2004), Atlético Paranaense (2006), América-RN (2007), Grêmio (2009), Guarani (2010) e Vitória (2013) viram uma festa cada.

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