O 7 a 1 colorado

Sempre ponderado e mentalmente equilibrado, Alex conseguiu, na saída de campo, em meio à fumaceira que tomava conta da Arena Condá após os 5 a 0 aplicados pela equipe local sobre o Colorado, achar a melhor definição para que o acabava de acontecer: o Inter viveu seu dia de 7 a 1. É claro que a Chapecoense não é a Alemanha (constatação inevitável e que só aumenta a gravidade do episódio), o Inter não é a seleção brasileira e a repercussão de uma partida da 27ª rodada do Brasileirão não é a de uma semifinal de Copa do Mundo. Mas é o dia em que tudo deu errado, tudo ocorreu fora da curva. O dia em que a marca do fiasco, um dos maiores da história do clube, ficará para sempre.

Outra diferença em relação aos 7 a 1 é que não vi o Inter ontem tão catastrófico em termos coletivos quanto o Brasil do dia 8 de julho. Houve momentos de relativo equilíbrio na partida, e o desastre coletivo pareceu menor que o da seleção três meses atrás. Nada disso, porém, serve de atenuante. Uma coincidência inegável com o jogo de 90 dias atrás, além do placar desastroso e sem precedentes, foi o desabamento moral da equipe ao sofrer o primeiro gol. Uma jogada na qual ficou evidente que a Chapecoense também fez por merecer a vitória pelo que jogou: um cruzamento perfeito de Jussandro, uma entrada firme de Diones (o craque do jogo, ao lado de Camilo) e um testaço sem chances para Dida.

O Inter sentiu demais o gol. Tanto que logo depois tomou o segundo, novamente pelo lado direito de sua defesa. Ali se inauguravam as falhas bisonhas. Um chutaço de Meza buscando Leandro, que só foi bem sucedido porque Gilberto furou a cabeçada, Paulão foi enganado pelo erro do companheiro e o atacante catarinense, assim, entrou livre para fazer o segundo. A cara de Abelão, flagrado pelas câmeras em meio à animada comemoração da torcida local, era de extrema tensão e perplexidade. Parecia prever que a noite estava apenas começando, e o pior nem havia chegado.

Sem D'Alessandro, apagado, mas com Valdívia, o Inter voltou um pouco melhor para o segundo tempo. Ainda era pouco para reagir de forma efetiva, mas ao menos colocava a Chape em seu campo defensivo. O que ninguém imaginava é que o raio cairia duas vezes no mesmo lugar: em novo bico de Meza, desta vez foi Camilo quem apareceu sozinho pela esquerda, completamente desmarcado. Ele cruzou com categoria para a conclusão de Leandro. O 3 a 0 matava de vez o jogo. O quarto gol, de Diones em falta cobrada no travessão de Camilo, tornou o placar inacreditavelmente vexatório. O quinto foi a cereja do bolo: Ernando falha grotescamente, Diones entra livre e Dida o derruba. Vai expulso, Rafael Moura entra no gol e toma. Por sorte, já eram 42 da etapa final. Houvesse mais alguns minutos, o fiasco poderia ter sido ainda mais elástico. Só mais elástico, porque maior era praticamente impossível.

A goleada de ontem foi a maior já sofrida pelo Inter na história do Brasileirão, junto com aqueles 5 a 0 do São Caetano na última rodada de 2003. Porém, naquele dia o Azulão só confirmou ser mais time. Ontem, o que se viu foi uma equipe fraca ser alçada à condição de esquadrão, consagrada por um Colorado anêmico, no qual a dupla de volantes Ygor-Bertotto permitiu que Camilo emulasse Rivaldo, tal o nível de sua atuação; no qual Paulão, Gilberto e Ernando foram tão desastrosos quanto Luiz Gustavo, Fernandinho e David Luiz na semifinal da Copa, mas não diante de Müller, Klose ou Schürrle, e sim de Leandro e Tiago Luís. Um Inter que permitiu que Diones jogasse como um Khedira, numa atuação que ele provavelmente nunca mais repetirá. Um Inter irreconhecível que, como bem disse Abelão em sua coletiva, precisa agora olhar é para trás, para se manter no G-4, e esquecer de vez qualquer chance de título. Foi a única coisa boa que fez ou falou ontem, por sinal.

Em tempo:
- A Chapecoense não precisou usar a força para parar o Inter ao natural: foram apenas nove faltas cometidas ao longo do jogo e nenhum cartão amarelo no time catarinense.

Mudar não mudando
O velho chavão cunhado por Zachia em 1997 se aplicará agora. Após a goleada, a impressão de muitos era a de que Abel pediria as contas. Ele fica, com a missão de ao menos conquistar a vaga na Libertadores. O desabamento psicológico da equipe ocorrido após a derrota para o Cruzeiro e evidenciado em Chapecó, será posto à prova novamente, em dois jogos diretos que ocorrem na pior hora, pois são em casa, com forte pressão, diante de Fluminense e Corinthians. Marcelo Medeiros pediu paciência a quem comparecer no domingo. Haja.

Propaganda enganosa
Todos esperavam um jogaço entre Fluminense e Atlético Mineiro ontem no Maracanã. Além de ser briga direta por G-4, os dois times foram escalados de maneira ultraofensiva por seus técnicos. Em campo, porém, o que se viu foi uma partida morna, chocha, lenta, que se arrasou agonicamente para o 0 a 0. Decepção para todos - menos para os gremistas, que enfim veem seu time terminar uma rodada no G-4, após 20 rodadas de espera.

Carta na Mesa
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Comentários

Chico disse…
5 muito.

Segundo a margem de erro o cúlorado pode ter levado 7.

Grande estreia de nilmar