Botafogo, um show de dignidade

O Botafogo pode até ser rebaixado no final deste Campeonato Brasileiro. Uma coisa, porém, jamais poderá ser falada de seu elenco: que ele é descomprometido. Sem receber salários há três ou mais meses, os jogadores alvinegros vêm dando um show de dignidade há algum tempo, se dedicando sempre, quando não é sua obrigação sequer treinar, quanto mais jogar com tanto afinco, sem receber um centavo sequer. Se não vencem é por fragilidade técnica, não por corpo mole ou qualquer coisa do tipo. Neste sábado, na Arena da Amazônia, houve o exemplo mais claro: um time limitadíssimo, que se postou de forma humilde e, assim, conseguiu segurar de forma heroica, com um homem a menos, o favorito Corinthians, que tinha maioria de torcida em Manaus, mesmo sendo o visitante.

O começo dava a impressão de que seria fácil para o Timão. Em quatro minutos, duas boas chances. A equipe de Mano Menezes ocupava o campo botafoguense e tomava a iniciativa. Mesmo que não goste de atuar assim, era a alternativa que tinha o Corinthians, já que o Botafogo jamais se exporia. Vagner Mancini postou o time todo atrás da linha da bola. Escalou três volantes, mas o time inteiro correu por dois. Sem Guerrero, o time paulista não teve referência e ficou sem a alternativa do pivô. Diante de um Fogão fechadíssimo, não conseguia criar chances, mesmo com 70% da posse de bola.

Ao Botafogo, só o contra-ataque era permitido como posse no campo alheio. Ele vinha com Wallyson, Rogério e Yuri Mamute, mas às vezes os três (especialmente Mamute) pecavam pelo individualismo e prejudicavam a estratégia. Depois de um bom tempo sem ser pressionado e sentindo segurança para ao menos tentar equilibrar as ações, o Fogão chegou a um pênalti aos 28 minutos. Jogadores ajoelhados, rezando para que Wallyson convertesse, eram o símbolo de o quanto decisivo era o lance. Ele converteu, deslocando Cássio com categoria. E o time seguiu neutralizando o Corinthians até o intervalo.

Mano voltou do vestiário com Malcom no lugar de Guilherme Andrade, abrindo o time, mas ainda assim faltava criação, pois Danilo jogava muito pouco. O Timão teve uma boa chegada com Luciano aos quatro minutos, Murilo perdeu outra para o Fogão aos 20. O jogo seguia controlado, até a exagerada expulsão de Bolatti, aos 26. Com um a menos, e agora com Jadson em campo, agora o Corinthians tinha tudo para criar oportunidades e emendar uma chance na outra. E assim ocorreu. Mas Helton Leite, o terceiro goleiro botafoguense, foi milagroso até quando a arbitragem já assinalava impedimento. Com o pedigree do pai João Leite, fechou o gol e foi o principal herói de uma vitória repleta de heroísmo.

A vitória é histórica para o Botafogo. O profissionalismo do elenco alvinegro é algo digno de nota. A união torcida-comissão técnica-time, quem sabe, poderá ser capaz de superar todas as adversidades, a imensa maioria delas causada pela incompetência da direção do clube (não só a atual, como as últimas todas) e fazer a equipe se safar da queda. Seria uma história de superação única na história recente do futebol brasileiro, mas tem muito chão pela frente. O mais provável, por todo o contexto negativo, ainda é cair, mas a equipe deu mostras hoje de que tem força para se superar.

Quanto ao Corinthians, mais uma vez a equipe perdeu pontos para equipes da parte de baixo da tabela. Houve insistência, mas faltou criatividade e competência. Sem Guerrero e com Danilo em noite pouco inspirada, o Timão se ressentiu demais em termos ofensivos, criando pouco no 11 contra 11. Só conseguiu achar espaços após a expulsão de Bolatti e acabou suplantado pela raça da equipe carioca. A derrota, em termos de tabela, é péssima para quem poderia jogar para o Grêmio a pressão de ganhar para permanecer no G-4.

Em tempo:
- Que gramado é esse da Arena da Amazônia?

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2014 - 28ª rodada
11/outubro/2014
BOTAFOGO 1 x CORINTHIANS 0
Local: Arena da Amazônia, Manaus (AM)
Árbitro: André Luiz Freitas Castro (GO)
Público: 21.969
Renda: R$ 1.782,790,00
Gol: Wallyson (pênalti) 28 do 1º
Cartão amarelo: Yuri Mamute, Rogério, Fagner e Fábio Santos
Expulsão: Bolatti 26 do 2º
BOTAFOGO: Helton Leite (8), Régis Souza (5,5), Dankler (5,5), André Bahia (6) e Júnior César (6); Rodrigo Souto (6,5), Bolatti (4,5) e Gabriel (6); Rogério (5,5) (Matheus, 41 do 2º - sem nota), Yuri Mamute (5) (Murilo, 19 do 2º - 4,5) e Wallyson (6) (Andreazzi, 27 do 2º - 5,5). Técnico: Vagner Mancini
CORINTHIANS: Cássio (5,5), Fagner (5,5) (Jadson, 23 do 2º - 6), Felipe (5,5), Anderson Martins (5,5) e Fábio Santos (5,5); Bruno Henrique (6) (Gustavo Tocantins, 38 do 2º - 4,5), Guilherme Andrade (5,5) (Malcom, intervalo - 5), Petros (6) e Danilo (4,5); Luciano (5) e Romero (5,5). Técnico: Mano Menezes

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