Com a mão dos treinadores

O Internacional pós-Copa é pura irregularidade. Em 14 jogos, foram 6 vitórias, 1 empate e 7 derrotas. O aproveitamento baixo só era minimamente tolerado porque três das seis derrotas até o jogo de hoje eram fora do Brasileirão. Com a de hoje, até esta desculpa cai por terra, pois foram três pontos daqueles tidos como irrecuperáveis que se foram pelo Guaíba. As vaias deixam claro que a paciência com o time acabou. Afinal, o Beira-Rio presenciou hoje o retrato do que é o Inter atualmente: um time irregular, que começa ganhando um jogo com naturalidade e sofre uma virada inacreditável, deixando escapar três pontos tidos como certos em qualquer projeção de pontuação que se faça dentro do planejamento do campeonato.

A maneira com que o Inter deixou escapar a vitória é mesmo de revoltar o torcedor, e Rafael Moura não tem nada que tomar satisfação, pois mais uma vez teve atuação extremamente deficiente. Falamos no Carta na Mesa de quinta que o Figueirense tem bom desempenho fora de casa, mas o começo de jogo torna a derrota um cataclisma. Um gol cedo, aos 16 minutos, dava a impressão de um fim de tarde tranquilo. O Figueirense, em bom momento, reagiu com confiança. Perdeu Marcão por fratura no dedo (entrou Everaldo), mas cresceu, e quando tomou o 2 a 0 já havia equilibrado.

Aí, Argel mostrou uma de suas principais qualidades: a ousadia. Não esperou o intervalo para mexer. Mesmo no Beira-Rio e enfrentando um time melhor, partiu em busca do resultado tirando um volante (Nem) e colocando um meia (Felipe). E foi premiado, afinal, o menino mudou o jogo.

O Figueirense terminou o primeiro tempo melhor, mas o gol só viria no início do segundo, com Everaldo. Desconto cedo, perigo evidente à vista. O Inter não se encolheu: foi para cima em busca do terceiro, como um time grande deve fazer. Sofria, porém, com os contra-ataques do Figueira, puxados por Felipe ou Giovanni Augusto, ambos muito habilidosos. O Colorado passou a encurralar os visitantes a partir dos 20 minutos, parecia perto do terceiro, mas sofreu o empate de forma inesperada, com Marco Antônio. E logo a seguir a virada. E entrou em parafuso.

Abelão, então, mostrou mais uma vez que lhe falta repertório na hora de buscar um resultado adverso. Colocou em campo Wellington Paulista, formando um ataque de dois centroavantes mais uma vez, quando já não havia dado certo na Bahia. Além de insistir no erro, seu time parou de jogar, limitando-se ao chuveirinho. Consagrou o zagueiro Marquinhos e o goleiro Tiago Volpi deste modo. Dos 30 aos 49, período de desvantagem, o Inter só teve uma chegada perigosa: aos 36, com Rafael Moura, evidentemente de cabeça. É muito pouco para quem quer encostar no líder Cruzeiro. E um contraste assustador quando olhamos o que fez o treinador do Figueirense. Argel ganhou fácil o duelo de técnicos com Abelão hoje. A vitória é principalmente dele. Foi só 3 a 2, mas na briga de treinadores Argel deu de goleada.

Falamos em irregularidade, e a trajetória global do Inter desde julho é esta mesmo, mas ela pode esconder um fato preocupante: o Colorado está em visível queda de rendimento. Depois do Gre-Nal, que talvez tenha sido o auge do time de Abel em termos de boa fase, foram duas vitórias, um empate e cinco derrotas em oito jogos, por três competições diferentes. A irregularidade só existe porque o começo dessa trajetória foi muito bom.

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro - 19ª rodada
INTERNACIONAL (2): Dida; Gilberto (Aylon), Paulão, Ernando e Fabrício; Willians, Wellington (Wellington Paulista), Alex, D'Alessandro e Jorge Henrique (Eduardo Sasha); Rafael Moura. Técnico: Abel Braga
FIGUEIRENSE (3): Tiago Volpi, Leandro Silva, Marquinhos, Thiago Heleno e Cereceda; Paulo Roberto, Nem (Felipe), Marco Antônio e Giovanni Augusto; Clayton (Nirley) e Marcão (Everaldo). Técnico: Argel
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS); Data: domingo, 07/09/2014; Horário: 18h30; Árbitro: Marcelo Aparecido de Souza (SP); Público: 21.531; Renda: R$ 476.495,00; Gols: D'Alessandro (pênalti) 16 e Paulão 34 do 1º; Everaldo 5, Marco Antônio 29 e Giovanni Augusto 30 do 2º; Cartão amarelo: Alex, Jorge Henrique, Wellington Paulista, Tiago Volpi, Thiago Heleno e Nem; Expulsão: Cereceda; Nota do jogo: 7; Melhor em campo: Felipe

Números do jogo
Finalizações: Inter 13 x 6 Figueirense
Chances de gol: Inter 6 x 8 Figueirense
Passes errados: Inter 39 x 42 Figueirense
Desarmes: Inter 23 x 33 Figueirense
Faltas cometidas: Inter 18 x 22 Figueirense
Impedimentos: Inter 1 x 3 Figueirense
Escanteios: Inter 5 x 2 Figueirense
Posse de bola: Inter 55% x 45% Figueirense
Análise: o Inter finalizou mais, mas o Figueirense foi bem mais efetivo. Apesar dos cinco gols, as equipes apresentaram dificuldades para articular, o que fica evidente pelo alto número de passes errados (81 ao todo).

Jogo de botão

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