A receita do G-4

Depois de empatar com o Atlético Mineiro em Belo Horizonte, o Grêmio adicionou ontem mais um ingrediente que cumpre com rigor a receita de chegar ao G-4: buscou um ponto no Maracanã, contra outro concorrente direto. Tanto Galo quanto Flu foram batidos na Arena, onde a equipe ganha a imensa maioria dos jogos, nem que seja por meio a zero. E assim, vencendo em casa e empatando fora contra inimigos de tabela, sem tomar gols há sete jogos e sem perder há oito, o time de Luiz Felipe mais uma vez dormiu entre os quatro primeiros. Pode ser ultrapassado pelo próprio Atlético hoje, mas já superou o Corinthians, algo impensável há umas poucas rodadas.

Na verdade, o Tricolor poderia estar além do 4º lugar hoje. Quem já sabe teria ultrapassado o São Paulo se tivesse corrigido alguns problemas. Não falo nem dos maus resultados contra equipes da parte de baixo da tabela, que comprometeram a campanha do primeiro turno, mas sim da falta de gols, ou de conclusões e assistências qualificadas. Ontem o Maracanã viu mais um capítulo desta pequena tragédia. O Grêmio se impôs na maior parte do tempo, ocupou o campo adversário em boa parte do jogo, mandou duas bolas na trave e perdeu outras tantas possibilidades de marcar por conta de erros no penúltimo toque.

O primeiro tempo, apesar do equilíbrio nos números, foi de domínio gaúcho. Como diante do Flamengo, há 20 dias, o Grêmio adiantou sua equipe e jogou como mandante. Anulou as principais saídas do Fluminense (à exceção de Bruno, muito bem no apoio) a partir de uma marcação agressiva e ditou o ritmo do jogo. No segundo tempo, especialmente a partir da entrada de Kenedy no lugar do inoperante Rafael Sobis, o time de Cristóvão Borges equilibrou o jogo fazendo exatamente isso. Mas a equipe de Felipão teve sempre o contragolpe à disposição e criou tantas chances quanto o Flu de marcar. Foi um jogo bem mais aberto e interessante. A grande injustiça acabou sendo terminar com um teimoso 0 a 0.

Cabe destacar as boas atuações da dupla de zaga (como sempre, e Bressan manteve o nível de Geromel), de Ramiro e Fellipe Bastos, mas principalmente de Barcos, que não só esteve na área para concluir como ganhou divididas pelo alto, driblou, armou jogadas, fez paredes e deu opções o tempo todo. Longe de ser um mero finalizador como vinha sendo, o argentino correspondeu com uma atuação que há tempos não se via dele em termos de participação nas tramas de ataque, com uma potência física que em nada lembrou o atacante dominado por zagueiros rivais que víamos antes da chegada de Luiz Felipe a Porto Alegre.

É verdade que o Grêmio poderia ter vencido, é verdade que pode sair do G-4 hoje à noite, mas a quarta-feira foi muito boa. Além de segurar o Flu no Maracanã, como fez diante do Galo, o Tricolor viu o Corinthians perder, o São Paulo empatar em casa e o Sport levar 1 a 0 do Bahia e ficar ainda mais distante do bolo de cima. A receita do G-4 é esta. Título? Bastaria acrescentar os ingredientes "não perder para Vitória e Coritiba", "não empatar em casa com Palmeiras e Goiás" e, principalmente, "finalizar melhor as jogadas de ataque". Não é tão difícil assim. Mas para 2014 não dá mais tempo.

Tigre manso
O Inter é outro que teve uma rodada bem favorável. Teve dificuldades em chegar ao gol do Criciúma na primeira meia hora, mas bastou apertar um pouquinho o ritmo para abrir o placar. Matou o jogo com dois gols no começo do segundo tempo e só não chegou a uma goleada mais ampla porque Rafael Moura fez o que todo jogador em crise técnica deve evitar: cobrar pênalti para sair da penúria. Menos mal que o jogo já estava definido. Eduardo Sasha parece que venceu de vez a disputa com Jorge Henrique, Alan Patrick e Valdívia e é o dono da posição. Foi o destaque da noite, com um gol, boas jogadas e um pênalti sofrido.

O 3 a 0 é um resultado absolutamente lógico. O Tigre já era manso normalmente (12 gols marcados em 23 jogos), mas ao perder Silvinho, seu melhor atacante, logo aos 5 minutos de jogo, virou presa realmente fácil. Este resultado, aliado aos tropeços de São Paulo e Corinthians, colocam o Colorado na vice-liderança isolada, e tendo pela frente outro rival teoricamente batível, o Coritiba, no domingo. Há 13 rodadas seguidas no G-4, o Inter tem tudo para chegar à Libertadores, três anos depois de sua última participação. Mas buscar o Cruzeiro só será possível com uma campanha fantástica daqui para frente, começando por uma vitória no Mineirão, daqui a dez dias.

Comentários

Vine disse…
Aquele toque que ajeitou a bola pro chute de esquerda e deixou o zagueiro na saudade (num petardo que o Cavalieri espalmou), além de lindo, mostra como o Barcos bom tá de volta. Sem falar na cabeçada na trave, injusta. Realmente, ele funciona muito melhor quando sai da área e participa de tabelas.
Se começar a fazer gols, o Grêmio pega o vice esse ano certo.