A final que não decidiu nada

Apenas uma coisa ficou decidida após a partida no Morumbi: que nada está decidido. E isso não é pouco, afinal, quase todo mundo indicava que o Cruzeiro já era o virtual campeão brasileiro de 2014, mesmo que ainda restasse um turno inteiro de Campeonato Brasileiro pela frente. O virtual título cruzeirense poderia ficar confirmado caso a equipe mineira batesse o São Paulo e abrisse 10 pontos de distância. Como perdeu, a distância caiu para apenas quatro. A Raposa ainda é favorita, mas, pelo futebol de altíssimo nível que tem mostrado o São Paulo desde que Kaká chegou, 17 rodadas é tempo suficiente para uma ultrapassagem.

A festa dos são-paulinos, os gritos de "olé" e a ótima atuação da equipe no segundo tempo escondem uma etapa inicial equilibrada. Com muita personalidade, o Cruzeiro começou o jogo melhor, tomando a iniciativa. A preocupação de Muricy era sintomática. Com as ótimas aproximações de Ricardo Goulart, Éverton Ribeiro e Alisson, o time mineiro forçava o São Paulo a recuar. E o time paulista assim o fez, mas sem ser pressionado. Afinal, tendo Ganso, Kaká e Pato, os paulistas tiveram sempre o contra-ataque à disposição. Um duelo de xadrez no qual qualquer movimento em falso poderia ser fatal.

E foi, quando Dedé derrubou Ganso na área. Um pênalti bem batido por Rogério Ceni, que colocou o São Paulo em vantagem no placar e lhe deu tranquilidade para assumir sua postura reativa. Antes do gol, ficar atrás e tentar pegar o Cruzeiro de calça curta não era uma opção são-paulina, mas uma imposição cruzeirense. O jogo equilibrado até o gol, por mais que o São Paulo marcasse bem seu adversário, não lhe servia. Afinal, quem precisava vencer era o time da casa. Agora, com a vantagem, era possível jogar sem a pressão de ter de criar chances de gol.

Marcelo Oliveira voltou espertamente do intervalo sem Dedé, amarelado e quase expulso, colocando Manoel. Mas Muricy mexeu bem no posicionamento do time, formando duas linhas de quatro que complicaram demais a tarefa do Cruzeiro de chegar ao empate. Com Kaká e até Ganso voltando para marcar, o time da casa foi bem mais compactado, e por isso bem menos retraído. Quando Alan Kardec fez 2 a 0, quem estava em cima era o São Paulo, e não a Raposa. E, nos 20 minutos finais, coube ao Tricolor administrar seu resultado com muita valorização de posse de bola no campo de ataque, como manda a cartilha.

O Cruzeiro continua sendo o principal favorito pela vantagem que tem, mas há algumas rodadas que já venho apontando que o melhor futebol do país tem sido jogado pelo São Paulo. Enquanto o time mineiro tem sofrido para vencer determinados jogos (embora sua incrível sequência de resultados nos últimos meses), a equipe de Muricy parece já ter deixado para trás o fiasco na Copa do Brasil e só cresce. O quarteto formado por Ganso, Kaká, Alan Kardec e Pato parecem atuar junto há anos, e a entrada de Rafael Tolói acertou de vez uma defesa que até então era muito instável.

Ainda tem campeonato. E essa briga é nivelada bem por cima, ao contrário do que diz o lugar-comum muito repetido por aí. Ainda bem.

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro - 21ª rodada
SÃO PAULO (2): Rogério Ceni; Auro, Rafael Tolói, Edson Silva e Álvaro Pereira; Souza, Denílson, Kaká e Ganso; Pato (Michel Bastos) e Alan Kardec. Técnico: Muricy Ramalho
CRUZEIRO (0): Fábio; Mayke, Dedé (Manoel), Léo e Ceará; Nílton, Lucas Silva (Dagoberto), Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart (Júlio Baptista); Alisson e Marcelo Moreno. Técnico: Marcelo Oliveira
Local: Morumbi, São Paulo (SP); Data: domingo, 14/09/2014; Horário: 16h; Público: 58.627; Renda: não divulgada; Gol: Rogério Ceni (pênalti) 35 do 1º; Alan Kardec 25 do 2º; Cartão amarelo: Kaká, Alan Kardec, Álvaro Pereira, Dedé e Ricardo Goulart; Nota do jogo: 8; Melhor em campo: Kaká

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