Vida longa aos três volantes

Depois de tanto experimentar nas últimas duas semanas em que passou a conhecer melhor o elenco do Grêmio, Luiz Felipe voltou para o esquema do começo do ano, um 4-3-3 com três volantes e dois pontas que funcionam como meias quando o time não tem a bola. Uma medida mais do que correta. Com o mesmo sistema tático da boa campanha no grupo da morte da Libertadores, um time bem mais mordedor, como os gremistas tanto gostam, e o principal: uma equipe com maior poder defensivo e principalmente ofensivo, chutando para longe o clichê simplista e simplório de que três volantes é igual a retranca.

A equipe foi bem diferente em relação à que perdeu o Gre-Nal. No meio, a única diferença deste time de hoje para o da Libertadores foi que Ramiro atuou como o primeiro homem do meio, deixando Fellipe Bastos subir pela direita. Novo acerto: Bastos e Riveros foram ótimos como caçadores, roubando várias bolas importantes no meio. Numa delas, por exemplo, originou-se o contra-ataque do segundo gol gremista. Com suas subidas, tornaram o time mais ofensivo também, com chegadas surpreendentes de trás, algo que a formação cheia de articuladores de Enderson matava. Foi a volta das triangulações: de um lado, Matías, Bastos e Luan; de outro, Zé Roberto, Riveros e Dudu.

Montado desta forma, o Grêmio teve mais combatividade no meio, jogadas pelos dois lados e maior aproximação entre os atletas. O time, que fazia força para jogar nos últimos tempos de Enderson, hoje fluiu bem mais naturalmente. E não se trata do adversário frágil: Vitória, Coritiba, Figueirense e Palmeiras estão, todos, atrás do Criciúma na tabela. O gol cedo, claro, facilitou. Surgiu numa das triangulações, com ótimo passe de Dudu para Lucas Coelho, que foi chutado pelo zagueiro Gualberto. O Criciúma passou a valorizar a bola no ataque, tinha em Martinez um homem de qualidade no toque de bola, mas faltou penetração. Paulo Baier, anulado por Ramiro, pouco apareceu.

Como o Tigre não teve qualidade para se impor, o jogo ficou absolutamente controlado. Em nenhum momento o Grêmio se atirou para cima. Todos sabiam que, muito mais do que tentar encher o adversário de gols, o importante era ganhar, principalmente pelo que vem pela frente nesta semana. As melhores chegadas ocorriam em apertos à saída de bola rival. O 2 a 0 surgiu justamente assim. Lucas Coelho escolheu a jogada errada ao puxar para a direita e tentar o chute de fora da área. O correto seria tocar no centro para o ingresso livre de Riveros. Só não foi um erro porque a execução do arremate foi perfeita.

Só depois do 2 a 0 é que o Criciúma veio para cima. Puxado por uma boa atuação de João Vítor, descobriu tardiamente a principal fragilidade do Grêmio: Matías Rodríguez. Está explicado porque Pará é titular. Embora o argentino apoie melhor e tenha mais qualidade técnica, sua marcação é extremamente deficiente. Luan, combatendo a saída de bola dos zagueiros catarinenses, foi muito mais efetivo. Matías dava as costas para o adversário, tentava botes fora de hora e de tempo, deixava clarões às costas o tempo todo. Sylvinho passou a infernizar por aquele lado, e o Tigre só não descontou porque faltou qualidade na hora de concluir. O Grêmio teve também chances de ampliar. Fellipe Bastos, além de perfeito na marcação, deu ótimos lançamentos para os pontas, especialmente Dudu. Foi o melhor jogador em campo.

O Grêmio vence, dá uma subida na tabela, mas o importante era estancar a sequência de derrotas e voltar a pontuar. A atuação esteve longe de ser brilhante: o time teve problemas com os erros de Matías Rodríguez, em nenhum momento exerceu grande pressão sobre o Criciúma, mas foi consistente, efetivo, brigador e mereceu o resultado. Foi a vitória do alívio, de uma boa respirada.

Em tempo:
- Zé Roberto, aos 40 anos, aguentou o jogo todo subindo e descendo pela lateral esquerda. Não deixou um espaço às costas e exibiu a categoria de sempre, tendo a melhor atuação de um jogador neste setor desde a venda de Wendell. Jogadoraço. E, espera-se, titularíssimo a partir de agora.

- Com a muito boa partida de Lucas Coelho, Barcos volta contra o Cruzeiro?

- Torcida do Criciúma foi provavelmente a mais numerosa e barulhenta de um visitante até hoje na Arena.

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2014 - 15ª rodada
17/agosto/2014
GRÊMIO 2 x CRICIÚMA 0
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO)
Público: 28.288
Renda: R$ 1.104.274,00
Gols: Luan (pênalti) 10 do 1º; Lucas Coelho 3 do 2º
Cartão amarelo: Matías Rodríguez, Serginho e João Vítor
GRÊMIO: Marcelo Grohe (6), Matías Rodríguez (4,5), Werley (5,5), Rhodolfo (6,5) e Zé Roberto (6,5); Ramiro (6,5), Fellipe Bastos (7) (Edinho, 34 do 2º - sem nota) e Riveros (6); Luan (6) (Ronan, 38 do 2º - sem nota), Lucas Coelho (7) (Giuliano, 25 do 2º - 5,5) e Dudu (5,5). Técnico: Luiz Felipe
CRICIÚMA: Luiz (5), Eduardo (6), Fábio Ferreira (5), Gualberto (4) e Giovanni (5,5); Serginho (5,5) (Ronaldo Mendes, 10 do 2º - 5,5), Martinez (5,5), João Vítor (6) e Paulo Baier (4,5) (Wellington Bruno, 31 do 2º - sem nota); Sylvinho (6) e Gustavo (5) (Danilo Alves, 17 do 2º - 5). Técnico: Wagner Lopes

Comentários

Lique disse…
zé roberto demais. muito feliz que o felipón tenha atendido a este óbvio ululante.

quanto à lateral direta, gostei do matías, apesar dos furos. acho que é mais fácil ensiná-lo a marcar e fazer o ramiro cobrí-lo eventualmente do que insistir no pará. como disse um radialista depois da escalação bizarra do grenal: se o gremio tivesse dois parás, os dois seriam titulares. não pode ser assim.

e o lucas coelho já mostrou ser mais que o barcos, no momento.

gostei do jogo, gostei do estilo do grêmio. uma coisa que tá faltando acertar é a último passe, a assistência. dudu e luan tiveram cinco chances cada de deixar alguém pifado e não tiveram a manha.

ainda tem muito trabalho para fazer, mas gostei dessa prova, mesmo que tenha sido contra o criciúma (que atolou dois grandes nos últimos dois jogos).
Vicente Fonseca disse…
Sem dúvida, é mais fácil ensinar o Matías a marcar, e eu acho que o Felipão deveria insistir nele. Só que atualmente é complicado escalar ele na última linha do time, pois marcou mal demais, assustador até. Mas também acho que tem que jogar, chega de Pará.
outro Edson disse…
Agora, também é uma judiaria com o Zé Roberto deixar ele na lateral. O cara aguentou bem um jogo, mas quanto tempo ele aguenta essa correria sem estourar? Zé Roberto tem que ser titular, isso é óbvio. Um time que tem Pará, Ramiro e Edinho mas não tem furo p'ro Zé Roberto, tem mais é que se lascar... Mas a questão é: onde ele pode ser melhor aproveitado?
Vicente Fonseca disse…
Pois é, tem as questões das lesões. Ele realmente pode estourar com uma sequência mais forte de jogos. Aí é hora de dosar as energias. Mas tecnicamente continua sendo a melhor opção do elenco do Grêmio. E mais: pelo menos domingo, jogou os 90 minutos e inteiraço - foi mais efetivo no apoio no segundo tempo que no primeiro, pois conhece os atalhos, tem um preparo físico absurdo e sabe a hora certa de subir, não gasta energia à toa como os mais jovens.

Respondendo à tua pergunta, Edson, acho que neste momento é na lateral esquerda mesmo.

Grande abraço!