O 7 a 1 do Vasco

O Vasco viveu ontem o dia mais triste de sua história mais que centenária. Porque pior que cair para a segunda divisão duas vezes é dar fiasco dentro dela. E não foi um fiasquinho qualquer, como perder para o lanterna por 1 a 0, por exemplo. Levar 5 a 0 do Avaí dentro de casa nem clubes da segunda divisão catarinense talvez levem. Pois o Vasco conseguiu. O mesmo Vasco que um dia ganhou ao natural do São Paulo por 7 a 1, 13 anos depois viveu o seu 7 a 1, a exemplo da seleção brasileira. Seu maior fiasco dentro de campo em 116 anos de fundação. Pior que os 4 a 0 sofridos pelo Grêmio para a Anapolina, em 2005, pois os gaúchos jogavam fora de casa e a goleada foi um pouco menos elástica. Talvez pior até que o 7 a 2 que o Palmeiras tomou do Vitória, em 2003, pois o time baiano era da Série A. Difícil achar algo mais humilhante na história de um gigante brasileiro.

Como todo jogo em que ocorre um desastre, houve certas circunstâncias especiais. No caso de ontem, uma série de gols perdidos pelo time carioca e um aproveitamento incrível do Avaí, que marcava praticamente um gol a cada ataque que construía. Como no Grêmio x Santos da última quinta, o time de Adílson Batista pressionou, criou chances, mas tomou o primeiro gol numa bola parada, de forma imerecida até. Sentiu e tomou outro a seguir. Foi ao intervalo levando 2 a 0, voltou pressionando e teve um pênalti, mas Douglas o desperdiçou. Foi a senha para o time desabar de vez.

Sem nem tocar no aspecto anímico, a situação é mais complicada do que parece, em termos de tabela. O Vasco fecha o turno da Série B, sua metade, portanto, fora da zona de promoção. Em 5º lugar, com 32 pontos, a equipe cruz-maltina talvez já tenha até mesmo vivido seu auge, com a sequência de vitórias que a tirou do meio da tabela e a recolocou no G-4 por algumas rodadas. Isso é gravíssimo, quadro que se torna dramático quando verificamos que a equipe está sem técnico, já que Adílson Batista, obviamente, não sobreviveu ao desastre de ontem. Em resumo: o Vasco talvez não repita a sequência altamente vitoriosa de rodadas atrás, e hoje não estaria subindo, com metade do campeonato transcorrida. Um panorama assustador.

Para piorar a situação, a Série B de 2014 é a mais equilibrada desde a adoção dos pontos corridos como fórmula. Quinto colocado, o Vasco está a apenas três pontos do líder Ceará, mas também a apenas cinco do Santa Cruz, atual 11º colocado. Há seis equipes logo atrás babando por ultrapassá-lo: Ponte Preta (31), Luverdense (28), Sampaio Corrêa (28), Boa Esporte (27), Náutico (27) e Santa Cruz (27). Será, se der certo, a mais complicada subida de um grande desde que a segunda divisão é disputada em turno e returno. O Vasco tem material humano para voltar à elite, mas o abalo psicológico neste momento é gravíssimo. O jogo de ontem foi a prova.

O melhor vendedor
Não interessa que o Inter fique com apenas 50% do valor: o Colorado é o clube que melhor vende no país, fácil. Se a saída de Douglas do São Paulo para o Barcelona por R$ 17,6 milhões chamou a atenção, que dirá R$ 20,6 milhões por Otávio, novo jogador do Porto? Trata-se de um jogador de potencial, mas jovem demais, com experiência pequena como titular em clube grande (foi 3 meses titular do pior Inter dos últimos dez anos, no final de 2013). Luan, que está mais maduro em termos de idade e rendeu bem mais pelo Grêmio neste ano, talvez não saia por este preço. Dudu, caso o Tricolor queira comprar seu passe junto aos ucranianos, virá por R$ 17,6 milhões.

A venda de Otávio é também milagrosa por outros dois motivos: ajuda, com dinheiro novo em caixa, a manter Aránguiz. E o melhor: sem prejudicar o elenco, afinal, o guri mal vinha atuando nesta temporada. O Inter conseguiu vender um segundo reserva, quase que encostado, por um valor de titular valorizado de clube grande do cenário continental. É um case.

Boa vitória
A exemplo do Atlético Mineiro, o Internacional dominou o Palmeiras no primeiro tempo dentro do Pacaembu. Poderia ter feito mais do que 1 a 0. O gol de Jorge Henrique mostra a falência técnica do time de Ricardo Gareca, e o pior: já havia acontecido minutos antes uma jogada idêntica, mas Rafael Moura escorou com o braço. Ao contrário dos últimos jogos ruins, o Inter desta vez foi bem e mereceu o resultado. Foi pragmático, seguro, se defendeu bem e sempre teve o contragolpe à disposição. Com Figueirense e Vitória pela frente, deve abrir larga vantagem sobre quem está fora do G-4. Alcançar o implacável Cruzeiro, porém, é muito improvável.

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