No limite e com a faca na bota

Luiz Felipe fez uma boa leitura do momento do Grêmio após o jogo com o Corinthians, uma análise equilibrada demais depois de um jogo emocionante e difícil demais: a equipe precisa evoluir tecnicamente. De fato, o Tricolor jogou hoje no limite, e no limite dá para ganhar jogos, mas não é algo que se sustente por muito tempo. É uma forma de frear o entusiasmo da torcida, que deixou a Arena empolgada por ver em campo um time inegavelmente identificado com o que pede a história do clube: muita luta, dedicação, superação de todos os limites físicos e uma vitória suada, sobre um grande adversário, com dois gols de centroavante. Muitas atuações individuais boas, principalmente pelo espírito de luta, mas um coletivo que ainda visivelmente carece de ajustes.

O primeiro passo já foi dado: definir um esquema tático. O Grêmio hoje não contou com Edinho nem Riveros, mas Giuliano. Ainda assim, manteve a mesma formatação dos últimos jogos, com Ramiro mais preso à frente da zaga, Fellipe Bastos saindo pela direita e, desta vez, Giuliano pela esquerda. Fora de sua posição habitual, o camisa 88 rendeu menos do que sabe, mas ainda assim participou dos dois gols. Na linha de zaga, o único ponto falho da equipe: Matías Rodríguez, mais uma vez risível na marcação. Guerrero entrou como quis na área no lance do gol. Werley, exposto, fez sua melhor partida no ano, segurando o ótimo centroavante corintiano sempre com muita firmeza, algo que há tempos andava lhe faltando.

A partida teve dois tempos muito distintos. No primeiro, muito estudo e equilíbrio. Grêmio e Corinthians terminaram os 45 iniciais com o mesmo número de chutes a gol, posse de bola e escanteios. O Timão controlou os primeiros 20 minutos, não criou nada perigoso, mas dava a impressão de estar sempre mais perto do gol, até porque ser mais time, principalmente no que diz respeito ao conjunto. O Grêmio dominou os 20 seguintes, teve duas chegadas um pouco mais fortes, mas nada de incisivo. Ainda assim, a partida era interessante e intensa, uma batalha tática de alto nível entre os últimos dois técnicos da seleção brasileira.

A etapa final foi absolutamente diversa, completamente aberta. Depois de discutir forte com Fellipe Bastos na saída para o intervalo, Barcos voltou com tudo: fez dois gols em três minutos, recebeu o abraço do companheiro e de todo o time. Afinal, além de encaminhar a vitória, tornou-se o estrangeiro com maior número de gols da história do Grêmio, com 36, contra 35 do também argentino Oberti. Empolgado, o Grêmio teve ao menos mais duas chances de definir a parada e golear o Timão, mas não o fez. O Corinthians se restabeleceu, cresceu, diminuiu e teve dominação territorial total. Foram muitas bolas levantadas na área, um chute na trave de Ralf, duas grandes defesas de Marcelo Grohe, mas a equipe paulista também sofreu com os contragolpes de Luan e Dudu e teve quase tantas chances de sofrer o terceiro quanto de empatar. No fim das contas, um resultado merecido e conquistado, e não que caiu no colo dos gaúchos. Se diante do Cruzeiro faltou eficiência, hoje ela foi ponto forte. Sem qualidade, porém, seria impossível bater um rival tão forte.

A vitória de hoje pode ser um ponto de virada na campanha do Grêmio, se bem aproveitada. Várias peças foram muito bem: Marcelo Grohe, com ao menos duas grandes defesas e diversas intervenções corretas; Zé Roberto, que segue dando vida à lateral esquerda e faz com que Dudu cresça demais de produção; Ramiro e Fellipe Bastos, sempre firmes no meio; Werley, desta vez comandando o miolo de zaga; e o trio de ataque, com pontas insinuantes e Barcos de volta às redes. Taticamente, o Grêmio está visivelmente bem próximo de se acertar. Falta agora melhorar o nível técnico das atuações, aperfeiçoando a engrenagem. Quinta, contra o Santos, manter este alto nível dos últimos dois jogos é obrigatório para começar bem a Copa do Brasil.

Em tempo:
- A dimensão do resultado conquistado hoje pelo Grêmio fica clara quando se olha os números do Corinthians: foi só a segunda derrota do time de Mano Menezes em todo o campeonato, e a primeira fora de casa. A outra, alguém lembra? 1 a 0 para o Figueirense, na inauguração da Arena de Itaquera. Lá em maio.

- Terceira expulsão que Alán Ruiz cava este ano. Fred, do Fluminense, e Thiago Heleno, do Figueirense, se juntam a Guerrero na lista de adversários que caíram na catimba do argentino.

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2014 - 17ª rodada
24/agosto/2014
GRÊMIO 2 x CORINTHIANS 1
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Heber Roberto Lopes (SC)
Público: 32.401
Renda: R$ 1.041.801,00
Gols: Barcos 15 segundos e 3 e Guerreiro 16 do 2º
Cartão amarelo: Rhodolfo, Matheus Biteco, Anderson Martins, Lodeiro e Elias
Expulsão: Guerrero 46 do 2º
GRÊMIO: Marcelo Grohe (7,5), Matías Rodríguez (4), Werley (7,5), Rhodolfo (6,5) e Zé Roberto (6,5); Ramiro (6,5), Fellipe Bastos (6) e Giuliano (6) (Alán Ruiz, 22 do 2º - 5,5); Luan (6,5) (Matheus Biteco, 32 do 2º - 5), Barcos (7,5) (Walace, 40 do 2º - sem nota) e Dudu (7). Técnico: Luiz Felipe
CORINTHIANS: Cássio (5), Fagner (4), Gil (6), Anderson Martins (5) e Fábio Santos (4,5) (Uendel, 22 do 2º - 5,5); Ralf (6), Elias (6,5), Lodeiro (5) (Romero, 12 do 2º - 5,5) e Jadson (5,5); Luciano (4,5) (Romarinho, 30 do 2º - 5,5) e Guerrero (7). Técnico: Mano Menezes

Comentários

Anônimo disse…
Acho que até agora o Felipão está analisando bem as situações, apesar de não querer o Werley de titular. O problema é que um placar desses na quinta deixaria o time numa situação bem delicada na volta. E além do Felipe Bastos não jogar, o Matías Rodríguez compromete demais na defesa. Não sofrer gol quinta é fundamental, mas acredito que o Felipão também vai levar isso em conta.

Tiago
Marcus Staffen disse…
Vicente, não seria o caso de testar o Saimon como lateral direito? Resolveria a questão defensiva e ele não ficaria torto como ficou na lateral esquerda, além de poder dar mais liberdade ao Zé Roberto...

Abraço,
Vicente Fonseca disse…
Tiago, tem duas situações que é preciso considerar: o Santos é inferior ao Corinthians e o jogo de ontem não era de mata-mata, daqueles que é quase proibido sofrer gols.

Quanto ao Fellipe Bastos, a falta que ele fará é grande, mas acredito que a escalação do Giuliano ontem já foi também pra testar esse substituto. O meio, acredito, será Ramiro, Riveros e Giuliano.

Em relação à lateral, também acho que o Matías é comprometedor, sendo um cara bem útil num 3-5-2. Talvez, Marcus, o Saimon possa ser mesmo uma opção. Lembro que em 2009 jogou uma ou duas partidas por ali e foi bem, inclusive subindo de vez em quando ao ataque. O problema era jogar improvisado e torto, como queria o Enderson.

Abraço aos amigos!