La Copa se mira. Y se toca

A Libertadores nos últimos três anos parece estar querendo cair nos braços de quem sempre a quis, mas nunca conseguiu tocá-la antes. A emoção sentida pelos corintianos em 2012 e pelos atleticanos em 2013 foi sentida pelos cuervos hoje. Uma emoção sintetizada no rosto agonicamente choroso de Leandro Romagnoli segundos antes de o jogo acabar. Um dos maiores ídolos da história do clube, um dos que mais merecia levar o San Lorenzo a esta taça tão almejada. Por 54 dos seus 106 anos de fundação até hoje (ou seja, mais da metade), o clube de Boedo sonhava com esta noite. Ela enfim chegou.

A pressão de jogar em casa e ser o time grande da final pesou sobre o San Lorenzo. Era previsível que isso fosse acontecer. A atuação cheia de personalidade da equipe de Edgardo Bauza em Assunção em nenhum momento se verificou no Nuevo Gasómetro. A bola pesava nos pés dos jogadores argentinos, enquanto os paraguaios flanavam em campo. O chute de Orué na trave logo a um minuto foi o aviso de uma noite dramática. Tudo num erro de Mercier, volante que raramente bobeia. O peso da final pega até o mais experientes de vez em quando.

O primeiro tempo transcorreu sem grandes lances agudos. Buffarini teve bom chute aos 10, Torales respondeu aos 17. Mas o Nacional seguia gostando da partida. O apoio que vinha das arquibancadas pareciam pressionar ainda mais o San Lorenzo, em vez de ajudá-lo. Romagnoli era o homem mais lúcido, mas Villalba, por exemplo, era um lance de precipitação atrás do outro. O vigor exibido nos jogos em casa contra Botafogo, Cruzeiro, Grêmio e Bolívar não se verificava, e o time paraguaio controlava o jogo, com domínio de bola no campo argentino. O time mandante não se impunha, não conseguia se adonar da partida e impor sua maior categoria. Até o pênalti bem marcado por Sandro Meira Ricci, e muitíssimo bem cobrado por Ortigoza, o melhor em campo.

O gol, claro, mudou toda a lógica do jogo. Veio num momento em que o San Lorenzo não fazia por merecê-lo, podemos dizer. Porém, agora, a equipe da casa não era mais a única pressionada: o Nacional também ganhava uma obrigação e tanto, que era buscar o gol, sem poder mais jogar fechado, especulando, de franco-atirador. E sem a possibilidade de marcar forte no meio para surpreender em velocidade, a equipe paraguaia pouco fez. As duas chegadas mais perigosas vieram em levantamentos para a área. Ao San Lorenzo, sobravam contragolpes. Mercier e Ortigoza iniciavam essas jogadas desarmando os guaranis, Romagnoli arquitetava as jogadas com sua categorias, mas Villalba errava demais. Com Verón, as jogadas passaram a ter um pouco mais de seguimento. O segundo gol, felizmente para os argentinos, não foi necessário.

Mas a atuação apenas suficiente na final em nada diminuiu os méritos do San Lorenzo. O campeão argentino, a exemplo do Nacional paraguaio, colheu hoje os frutos de um trabalho de reabilitação do clube (que quase foi rebaixado no começo desta década), iniciado ainda em 2012. Na Libertadores, passou por vários dramas: um empate sofrido aos 50 do segundo tempo contra o Independiente del Valle, no Equador; uma classificação contra o Botafogo nos descontos; diante do Grêmio, melhor time da competição até então, nos pênaltis; tirou o Cruzeiro, campeão brasileiro, e o Bolívar, surpresa do torneio, de forma incontestável; e bateu o Nacional na final porque é mais time. Um título que emociona pela eterna espera, que hoje chegou ao fim; que emociona por Romagnoli e Ortigoza, que choraram em mais de um momento nesta Libertadores; que comove pelo drama de Ángel Correa; um título merecido e gigante, como este clube sempre foi. Agora, o selo continental é a prova disso.

Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2014 - Final - Jogo de volta
13/agosto/2014
SAN LORENZO 1 x NACIONAL-PAR 0
Local: Nuevo Gasómetro, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Sandro Meira Ricci (BRA)
Público: 43.000
Cartão amarelo: Mercier, Benítez, Coronel e Mendoza
Gol: Ortigoza (pênalti) 35 do 1º
SAN LORENZO: Torrico (6), Buffarini (6), Cetto (6), Gentiletti (6,5) e Más (6); Ortigoza (8), Mercier (7), Villalba (5,5) (Kalinski, 36 do 2º - sem noyta) e Romagnoli (7,5) (Kannemann, 42 do 2º - sem nota); Cauteruccio (6,5) (Verón, 20 do 2º - 7) e Matos (6,5). Técnico: Edgardo Bauza
NACIONAL-PAR: Don (6), Coronel (5), Cáceres (6), Piris (6,5) e Mendoza (6); Riveros (6,5), Torales (7,5), Melgarejo (6) (Luzardi, 42 do 2º - sem nota) e Orué (6) (Montenegro, 12 do 2º - 6); Benítez (6,5) (Santa Cruz, 40 do 2º - sem nota) e Bareiro (6). Técnico: Gustavo Morínigo

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