Festa frustrada (ou adiada?)

A festa era toda argentina. Os milhares de torcedores do San Lorenzo que atravessaram o Rio Paraguai e ocuparam a goleira sul do Defensores del Chaco eram os únicos que cantavam. Parte da torcida do Nacional já havia saído do estádio, frustrados com o que então era uma derrota categórica por 1 a 0, que praticamente inviabilizava suas chances de título na Libertadores. Aí, brilhou a estrela de Gustavo Morínigo: dois jogadores colocados por ele no segundo tempo (Lusardi e Santa Cruz) fizeram a jogada do gol de empate, no último minuto, que esfriou a festa portenha e deixou em êxtase a ala paraguaia, apesar de a Libertadores seguir bem mais próxima de Buenos Aires que de Assunção.

O jogo teve a cara de uma final típica: foi muito disputado, com pouco espaço. Tamanha foi a disputa que os alguns números se multiplicaram: foram incríveis 115 erros de passe e 51 desarmes, mais do que qualquer outro jogo do torneio até agora. Mas tamanha disputa não significa equilíbrio: a festa argentina de que falávamos lá no começo ocorria porque o San Lorenzo não apenas ganhava, como era bem superior em campo. Ontem comentávamos que talvez o Nacional pudesse jogar relaxado, sem tanta pressão como o Ciclón, mas nada disso ocorreu. Mesmo fora de casa, o San Lorenzo se portou como o time grande da decisão, e o Nacional, ainda que sendo o mandante, ficou atrás. Não tanto por estratégia, mas pela postura superior dos argentinos.

O interessante é que a estratégia propositiva e dominadora do San Lorenzo contradiz o que foi a carreira de Edgardo Bauza em mata-matas. Mas não surpreende tanto pela campanha de sua equipe nesta Libertadores: diante do Cruzeiro, no Mineirão, os argentinos começaram exatamente deste modo, com personalidade, controlando o meio e mantendo os mineiros longe do gol, mesmo depois de abrirem o placar. Ontem, sua equipe teve 59% da posse de bola, finalizou o dobro de vezes (11 a 6), cometeu bem menos faltas (8 a 14) e, prova de sua melhor qualidade técnica, mesmo com mais posse errou menos passes (50 a 65) que os paraguaios.

A verdade é que Montenegro fez muita falta para a equipe paraguaia. Sem sua peça mais aguda, Morínigo apostou em Bareiro, bom nome do Olímpia na Libertadores 2013. Sua participação era nula até a escorada para Santa Cruz empatar o jogo no último minuto. Como Riveros também não atuou, Torales jogou um pouco mais recuado que de costume, tornando o time menos agressivo. Com menos jogadores de força no meio, o Nacional permitiu ao San Lorenzo dominar o setor no seu 4-2-3-1 típico, com Villalba e Piatti fazendo ótimo trabalho pelas pontas e Romagnoli ditando o ritmo em ótima partida no meio. Mais atrás, os sempre implacáveis Mercier e Ortigoza permitiam que os laterais Buffarini e Más fizessem o que sabem melhor realizar: apoiar o ataque.

No primeiro tempo, o time argentino já conseguia suplantar o ímpeto paraguaio com muita frieza e consciência do que fazer em campo. O Nacional chegou apenas duas vezes, contra quatro do San Lorenzo nos 45 iniciais. Na etapa final, o controle foi ainda mais absoluto. O time argentino valorizou a bola no ataque, chegando ao gol numa maravilhosa jogada coletiva construída por Buffarini, que envolveu ainda Villalba e Romagnoli, até a precisa conclusão de Matos. Um gol lindo, e que mostra a maturidade desta equipe. Foi a única jogada de perigo em todo o segundo tempo. Até o último lance do jogo, que resultou no gol do Nacional, prova de que o time paraguaio, além de persistente, é eficiente.

Apesar da ducha gelada que estragou a festa argentina de ontem pelas ruas de Assunção, o San Lorenzo segue mais perto do título. Mostrou que é mais time, jogará em casa e precisa de uma vitória simples diante de um adversário que é menos qualificado que outras equipes já batidas no Nuevo Gasómetro. Não há saldo qualificado que torne o 0 a 0 uma vantagem, mas o time de Bauza tem a faca e o queijo na mão para ganhar o jogo e a Libertadores. O gol de empate do Nacional deixa todos em alerta e evita comemorações antecipadas, o que pode até ser positivo, por um lado.

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