Tudo, menos o acaso

Dizíamos após o jogo de terça que o placar de 7 a 1 havia sido circunstancial. Ele não reflete a diferença técnica entre Alemanha e Brasil, é um exagero, embora não seja ocasional o fato de a Seleção perder a vaga na final, pois entrou em campo com uma de suas mais fracas escalações na história da Copa do Mundo. Pois hoje, contra a Holanda, o time escalado por Felipão era ainda inferior ao de terça, em termos técnicos. Nunca o Brasil levou a campo um onze inicial tão limitado para disputar um jogo de Copa do que hoje, em Brasília. E a goleada, que parecia circunstancial diante dos alemães, voltou a se repetir. Talvez nem isso seja tão ocasional assim.

É claro que há circunstâncias de jogo que exageram o placar. Muita coisa foi consequência de terça-feira. O pênalti em Robben, na verdade, foi uma falta, fora da área - mas para expulsão de Thiago Silva, que levou só amarelo. O gol de Blind surgiu em um lance cuja origem teve um impedimento não assinalado pela arbitragem. E ainda assim, e apesar de tudo isso, o futebol da Seleção foi pobre. Muito pobre.

Quem viu o jogo pode ter a impressão de que a equipe não foi tão mal assim. De fato, o Brasil se esforçou, até criou algumas jogadas interessantes, mas teve poucas chances claras. Isso escancara um fato muito mais grave do que simplesmente jogar mal: o Brasil era um time tecnicamente fraco. Uma equipe que incomodou a Holanda pela movimentação que teve, mas parou nisso. Não criou oportunidades, nunca esteve perto de ameaçar o resultado conquistado pelos holandeses nos primeiros 15 minutos, pois faltou qualidade. A Austrália criou mais problemas para o time de Van Gaal que o Brasil. Isso é aterrador - e assustador.

Tal qual um time frágil contra outro muito superior, o Brasil, além de não conseguir atacar, tinha muitos problemas em se defender. O pênalti foi consequência de mais uma grave falha de posicionamento defensivo. Não foi de Thiago Silva a culpa no lance, mas de David Luiz, que novamente estava completamente fora de posição, deixando Robben no mano a mano com o companheiro de zaga. O gol logo a dois minutos facilitou demais a vida da Holanda, equipe talhada para se fechar atrás e matar o jogo nos contra-ataques, onde Robben sempre se destaca. Hoje, mais uma vez foi assim. Isso que Sneijder nem jogou.

Desta vez, o Brasil não sofreu tanto como diante dos alemães, também, por estar mais fechadinho. A fragilidade técnica, porém, foi quase que a mesma. Ou seja: se tivesse escalado três volantes na terça, provavelmente Felipão teria evitado o grande fiasco dos 7 a 1 por outro menor, menos dilatado e escandaloso. Ainda assim, seria pouco para evitar uma derrota. Hoje, fora algumas boas tramas de Oscar e Willian, a Seleção não apresentou quase nada contra um time que jogou sem armador, fatigado por duas prorrogações seguidas e completamente desinteressado em disputar o jogo, conforme seu próprio técnico adiantava.

Discorrer sobre a necessidade de mudanças profundas no futebol brasileiro já foi feito bastante durante a semana, por muita gente. A hora é de colocá-las em prática o quanto antes. Mas não será nada fácil, se é que alguma coisa ocorrerá. Tudo dá margem para o pessimismo. A simples cogitação de Marin de manter Felipão e Parreira até dezembro é trágica, pois adia uma decisão inevitável, atrasando o início da imperiosa mudança que deve haver na seleção - embora não só nela seja necessário, claro.

E quem diria que o "Imagina na Copa" serviria não para descrever os fiascos de fora de campo, mas o de dentro dele? O fato, sejamos contra ou a favor da realização do torneio, é que a Copa do Mundo de 2014 foi um grande sucesso, em todos os aspectos. A Seleção, sem dúvida, foi o que o Brasil apresentou de pior para os estrangeiros que estiveram aqui nos últimos 30 dias.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Decisão do 3º lugar
12/julho/2014
BRASIL 0 x HOLANDA 3
Local: Mané Garrincha, Brasília (BRA)
Árbitro: Djamel Haimoudi (ALG)
Público: 68.034
Gols: Van Persie (pênalti) 2 e Blind 15 do 1º; Wijnaldum 45 do 2º
Cartão amarelo: Thiago Silva, Oscar, Fernandinho, Robben e De Guzman
BRASIL: Júlio César (5), Maicon (5), David Luiz (4), Thiago Silva (5) e Maxwell (4,5); Luiz Gustavo (4,5) (Fernandinho, intervalo - 5), Paulinho (5) (Hernanes, 12 do 2º - 5,5), Ramires (5) (Hulk, 27 do 2º - 5), Oscar (6) e Willian (5,5); Jô (4). Técnico: Luiz Felipe
HOLANDA: Cillessen (6) (Vorm, 47 do 2º - sem nota), De Vrij (7), Vlaar (6,5) e Martins Indi (6); Kuyt (6,5), Wijnaldum (7), Clasie (6) (Veltman, 44 do 2º - sem nota), De Guzman (6,5) e Blind (7) (Janmaat, 24 do 2º - 6,5); Robben (7,5) e Van Persie (7). Técnico: Louis van Gaal

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