Para quebrar a balança

As duas camisas mais pesadas do mundo estarão frente a frente hoje, no Mineirão. É o jogo mais importante de toda a Copa do Mundo, fora a final, claro. O Brasil, pentacampeão, dono da casa, único que participou de todos os Mundiais; a Alemanha, tricampeã, pode ter um título a menos que a Itália, mas é a seleção que mais jogos disputou em Copas, a segunda que mais fez gols e venceu partidas, e a que mais finais disputou, ao lado do Brasil. Em campo, 8 títulos mundiais, 6 vices e nada menos que 24 semifinais. Só em 1930 as semifinais não tiveram brasileiros ou alemães em campo. Ainda assim, é um encontro raro, que ocorrerá apenas pela segunda vez na história das Copas do Mundo. São duas seleções tão especiais que só se encontram lá de vez em quando. Deve ser para não banalizar um encontro tão especial como esse.

Não há balança que resista a tanto peso, em uma camisa ou em outro. Ainda assim, pode-se ver um leve favoritismo, e não é para o lado da equipe anfitriã, a pentacampeã mundial. A Alemanha, não é de hoje, tem mais time que o Brasil. Na verdade, tem mais time que qualquer outra seleção deste Mundial, o que não significa, em absoluto, que será a campeã, ou sequer que vencerá o confronto de hoje. Mas é uma equipe mais entrosada, que em princípio não tem pontos fracos, a não ser o retrospecto contra o próprio Brasil e o fato de atuar fora de casa. Em campo neutro, seria a favorita com mais folga. Como atuará como visitante, as coisas se equilibram.

Na verdade, tudo o que está em jogo deve ser pesado e ponderado. O Brasil tem visivelmente menos time, mas joga em casa. Não terá Neymar, uma perda técnica irreparável e trágica, mas isso diminui a pressão sobre os jogadores verde-amarelos. Sem Neymar, a Seleção não será tão cobrada com uma eventual perda da Copa do Mundo, caso ela ocorra. Não se trata de uma desculpa pronta, mas de uma justificativa aceitável, e que, se bem utilizada, pode ajudar muito hoje. Sem Neymar, o Brasil joga a pressão para o lado alemão. Se com ele a equipe germânica já era superior, sem ele só a superação pode equilibrar as forças.

Mas nada disso, em absoluto, ganha jogo. Apontar favoritismo significa dizer, simplesmente, que uma equipe chega teoricamente com mais condições de vitória que a outra, e não de decretar ou prever que isso acontecerá. Tudo pode facilmente ser desmentido por um lance casual, ou por circunstâncias específicas que cada partida traz consigo. A Alemanha tem mais time, mas não necessariamente vencerá o jogo de logo mais, pois do outro lado estará uma equipe de imensa tradição, que jogará ao lado de seu torcedor, e correrá em dobro pela perda de seu maior ídolo. Assim como não podemos dizer (e tenho lido muito por aí) que do jogo de hoje sairá o campeão do mundo. Ignorar que amanhã jogam Holanda e Argentina? Sério?

Estamos diante das semifinais mais equilibradas, imprevisíveis, tradicionais e espetaculares dos últimos 44 anos. Só em 1970, com Brasil, Alemanha Ocidental, Itália e Uruguai decidindo um Mundial absolutamente fantástico, tivemos algo parecido com o que ocorrerá entre hoje e amanhã, em Belo Horizonte e São Paulo. A hora é de torcer, vibrar e, principalmente, aproveitar bem esse momento. A melhor Copa do Mundo das últimas décadas será fechada por quatro jogos que prometem ser, quem sabe, os melhores e mais interessantes do Século XXI.

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