O chinelo velho e o pé cansado

A contratação de Vanderlei Luxemburgo pelo Flamengo é a cara do futebol brasileiro. Um futebol imediatista, pouco criativo, incompetente para pensar algo em médio prazo que seja. Um futebol onde os técnicos de ponta não precisam se atualizar. Afinal, para que estudar se é possível ficar em casa descansando e esperando o primeiro convite de um grande desesperado? Grande este que pagará quantias astronômicas, e do qual o treinador em questão pode exigir cláusulas e mais cláusulas que o favoreçam, já que o momento de absoluto desespero?

Fla e Luxa juntam a fome com a vontade de comer. A diretoria rubro-negra está absolutamente perdida. Em 2013, foi surpreendida pela saída repentina de Mano Menezes, decidiu apostar em Jayme de Almeida e foi premiada com uma inesperada conquista de Copa do Brasil. Não viu que o elenco, apesar do título, era fraco. Menosprezou este fato, não reforçou como devia, foi mal na Libertadores, demitiu Jayme e contratou Ney Franco, uma das soluções de sempre do clube. Deu-lhe 45 dias para trabalhar durante a Copa e o demitiu no segundo jogo após o Mundial. Uma total incoerência, que jogou fora dois meses de trabalho.

Luxemburgo é a solução fácil, um nome que pretensamente vem para colocar a casa em ordem. Um técnico que o Flamengo já conhece. Nada, porém, dá a certeza de que a parceria dará certo. Em seus trabalhos mais recentes, Luxa só foi bem quando se postou no seu devido lugar, o de treinador. Sempre que se meteu além de onde devia, bancando o manager, viu sua equipe afundar. No Fla, ele já chega por cima da carne seca. Dada a péssima condição da equipe no Campeonato Brasileiro, terá carta branca para mudar o que quiser. O fato de o contrato ser de um ano e meio já sinaliza isso - não se iludam, 18 meses de contrato não é pensar o time a longo prazo, é curvar-se ao salvador da pátria da vez. Tal condição que é potencializada também pelo fato de a diretoria, apesar de bem intencionada, estar se mostrando absolutamente perdida, algo que fica cada vez mais claro diante dos "problemas de comunicação" que têm havido desde o episódio da demissão de Jayme.

Para Luxemburgo, por sua vez, o convite não poderia vir em melhor hora. Afinal, ele está fora do mercado desde o péssimo trabalho no Fluminense, e tem a chance de se recolocar no circuito e se revalorizar depois do fracasso nas Laranjeiras. A tarefa, convenhamos, não é das mais difíceis: o Flamengo é o último colocado. É impossível piorar. Com mais dois pontinhos pode deixar a zona de rebaixamento. E faltam 27 rodadas para esses dois pontinhos serem tirados. Por pior que esteja o time atualmente, há condições técnicas de salvação. Portanto, se o objetivo é evitar rebaixamento, "dar certo" é algo no mínimo muito possível. A qualidade é pouca, mas a exigência é menor ainda.

O mais incrível é ver como a diretoria do Flamengo contraria, dia após dia, todo o discurso que usou para se eleger: o da austeridade, do trabalho a longo prazo, para que o clube tenha finanças sustentáveis no futuro. Falta pensar em futuro porque o presente atropela. E as decisões que são tomadas dia após dia mostram uma diretoria perdida, despreparada para lidar com as pressões de administrar um clube gigantesco, o qual provavelmente viverá mesmo períodos de crise num doloroso processo de reconstrução. Onde está a austeridade financeira, se para cada técnico é preciso bancar uma multa rescisória? Onde está o planejamento de longo prazo, se nos últimos 15 meses nada menos que cinco técnicos passaram pela Gávea? Onde está a gestão profissional se um jogador é dispensado após ser agredido por torcedores?

Flamengo e Luxemburgo precisam um do outro. São dois desesperados, cada um com os seus problemas, tentando uma união que evite que ambos afundem. O que a maior torcida do Brasil torce é para que ambos não morram abraçados nessa.

À la Libertadores
O Atlético Mineiro parece ter o dom para ganhar títulos no mais absoluto drama. Após o 1 a 0 na Argentina, era razoavelmente esperado que a equipe conquistasse o título da Recopa no Mineirão, mas a carga de tensão da partida foi imensa. Um jogo que começou com um gol de pênalti de Diego Tardelli, que dava uma tranquilidade que jamais ocorreria ao longo da partida. Foram duas viradas, sete gols, prorrogação. Gol argentino aos 48 do segundo que forçou o tempo extra. Todos os ingredientes de uma noite inesquecível. Inclusive virada épica sobre um clube do país rival no Mineirão, o palco do fiasco dos 7 a 1.

Massacre cuervo
O Bolívar não viu a cor da bola em Buenos Aires. O gol cedo de Mauro Matos, logo aos cinco minutos, desnorteou os bolivianos, que tomaram outro quase que idêntico, do lateral Más, aos 27. Foi a noite de um time seguro contra outro hesitante. O Bolívar, especialmente após o segundo gol, ficou no drama entre "atacar para diminuir" ou "se segurar para não ser goleado". Não fez nem uma coisa, nem outro, e fato foi goleado. Um time que se gabava de ter marcado gol em todos os jogos fora de casa nesta Libertadores nem sequer chegou perto disso no Nuevo Gasómetro.

Em nada a dramática ausência de Ángel Correa, homenageado por Matos no primeiro gol, prejudicou o San Lorenzo, que teve em Romagnoli uma grande figura condutora dos 5 a 0 que praticamente colocam o time argentino em sua primeira final de Libertadores. Não tem altitude que tire essa diferença na semana que vem.

Em tempo:
- Será que Elano será mesmo dispensado com a chegada de Luxemburgo?

- Corinthians, Palmeiras e Vasco praticamente garantiram vaga às oitavas de final da Copa do Brasil. A vitória vascaína de 2 a 0 sobre a Ponte Preta é especialmente chamativa, pois foi contra um adversário direto na luta pela promoção na Série B, e fora de casa.

- Tomar 7 a 0 dos reservas em treino não é normal. A carraspana de Enderson Moreira nos titulares do Grêmio precisa ser forte.

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