Futebol previsível, queda previsível

É claro que o ideal nunca é interromper um trabalho na metade, mas é praticamente impossível culpar a direção do Grêmio pela saída de Enderson Moreira. Principalmente porque foi uma decisão de comum acordo e que, pelas entrevistas dele, de Koff e Rui Costa, parece ter partido do treinador. E já era mesmo previsível que ela fosse mesmo ocorrer, dadas as circunstâncias em que ocorreu a lamentável derrota do Grêmio ontem para o Coritiba, em plena Arena.

Se a hora de sair era essa ou não, tanto faz. O fato é que o trabalho de Enderson Moreira, há alguns meses, estava se tornando indefensável. Menos pelas críticas da torcida, e bem mais pelo desempenho fraco que o Grêmio tem apresentado, especialmente dentro de casa. Diante do Coxa, a equipe repetiu erros que têm ocorrido com frequência desde o primeiro Gre-Nal da decisão do Gauchão, que foi o ponto de virada no que era uma boa temporada gremista: um time que, embora cheio de meias, abusa da ligação direta, erra passes demais. E o pior: desta vez, nem a tão aclamada segurança defensiva se fez presente. Sofrer gol de Alex é normal, mas tomar dois de Zé Love, que só tinha feito um gol no ano inteiro, é inadmissível.

Enderson Moreira termina sua passagem pelo Grêmio de forma semelhante a Silas: aposta em um nome novo no começo de ano, um bom início de trabalho, uma derrota marcante (em 2010 para o Santos, na Copa do Brasil) e a queda após a Copa do Mundo. A diferença é que Silas, ao menos, venceu um Gauchão, enquanto Enderson, ao menos, não deixa o time na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Mas o time é muito melhor do que o futebol que vem sendo apresentado nos últimos meses, e muito superior à modesta 10ª colocação que ocupa hoje na tabela. O Grêmio pode e precisa ir muito além de uma campanha média. Um elenco com Giuliano, Alán Ruiz, Zé Roberto, Maxi Rodríguez, Rodriguinho, entre outros tantos meias de bom nível, fora atacantes como Barcos, Luan, Dudu e Fernandinho, não pode criar quase nada lúcido rodada após rodada.

Tite, Luiz Felipe ou Celso Roth: aposto que entre esses três está o novo treinador do Grêmio. O primeiro é o ficha 1, pelo que se fala, e seria, de fato, a única opção que realmente faria a diferença. Tite é o melhor técnico brasileiro no momento, tem uma lista de trabalhos sólidos em diferentes clubes, não é carreirista (para de tempos em tempos para estudar, em vez de emendar um clube no outro) e é um nome extremamente identificado com o clube. Por sua qualidade, talvez sobreviva até mesmo à disputa eleitoral. Felipão teria a aprovação óbvia de todos os torcedores, mas seria uma escolha baseada no passado, e não no futuro. Seu trabalho ruim na seleção não o credencia a nada, ao contrário. E Roth? Bem... só estando na zona de rebaixamento. Não é o caso, felizmente. O Grêmio precisa pensar seu futebol em longo prazo, e não apagar incêndios quando nem fumaça há.

Em tempo:
- E o último técnico que conseguiu finalizar uma temporada inteira no Grêmio segue sendo Mano Menezes, em 2007. No Inter? Abelão, em 2006.

Comentários

Caro Amigo Vicente. Quanto tempo?
Creio que a demissão do Enderson fruto de um comum acordo era inevitável, ele um treinador de caráter, sério, comprometido e acredito que tinha qualidade. Poderia ser mais ousado, promover mais jogadores do time reserva, que vêm demonstrando desempenho melhor que os titulares.
O que é um equívoco e um problema dos tempos atuais, é a pressão das redes sociais, ou a influência que ela supostamente exerce nas decisões dos dirigentes, segundo alguns comentários na imprensa.
Está na hora das atitudes humanas, do nosso trabalho, com caráter e responsabilidade, se pautar menos por essas pressões de uma legião de anônimos, que se conhecem mais pelo virtual, e neste caso específico do Grêmio e do futebol, a partir de uma convicção de valores técnicos e humanos, buscar um treinador, e proporcionar tempo para desenvolver um trabalho de longo prazo. Somente assim, o clube terá condições de ter uma equipe sólida, conjunta, consciente das suas capacidades e limitações, porém mais realista, aguerrida e próxima de retomar as grandes conquistas. A chave para o êxito profissional, partindo de um modo geral, de todas as esferas de trabalho, até à sua aplicação no futebol, passa pela continuidade no desenvolvimento de um trabalho, na evolução técnica e profissional mediante um planejamento estabelecido, com metas e prazo estipulados, em torno de um nome que se tenha confiança. Mas o profissional, e os profissionais escolhidos, necessitam de tempo, tal é o tempo de preparação que dispomos para qualificação profissional em qualquer área da vida.

Um grande abraço para o amigo!

Marcos Almeida Pfeifer
Jornalista e Comunicador
Vicente Fonseca disse…
Concordo plenamente, meu caro amigo! Um grande abraço.
Vine disse…
Em situações como essa, de pressão primitiva externa, começo a concordar com o fechamento que o presidente do Atlético-PR fez ano passado...