A vez é da Alemanha
Em 2010, o jovem time da Alemanha dava show a cada jogo, mas parou na Espanha, uma seleção mais madura, mais pronta para ser campeã do mundo. Hoje, os alemães viveram situação inversa. Diante de uma França cheia de juventude e um futebol mais atraente, mostraram que, como dizíamos quatro anos atrás, 2014 seria o ano deles. E provaram, no Maracanã, que formam de fato a seleção mais consistente, forte e pronta para ganhar esta Copa do Mundo.
A experiência, de fato, foi fundamental. A atual geração alemã não conquistou títulos pela seleção, mas está acostumada às decisões, seja com a camisa germânica ou pelo Bayern München. Isso ficou provado no primeiro tempo: a Alemanha não sentiu o peso do jogo em nenhum momento. Mesmo diante de uma França que vinha atuando em altíssimo nível, não teve dúvidas em tomar a iniciativa do jogo. Foi um pouco de estratégia francesa, também: a seleção de Deschamps apostou no contragolpe como arma, e ameaçava Neuer de vez em quando. Mas só de vez em quando.
Joachim Löw foi vencido pelos fatos. Sua ideia de aproveitar Lahm no meio e formar a tal linha de quatro zagueiros atrás foi demolida após a apertada vitória sobre a Argélia. Feghouli, Slimani e companhia escancararam o fato de a defesa ficar lenta demais se composta apenas por zagueiros de origem. A passagem de Lahm para a direita melhorou o time de forma evidente. Hoje, Lahm voltou à sua, na lateral direita. Foi um dos melhores em campo, anulando Griezmann, ajudando a combater as subidas de Matuidi e tabelando com Müller nas subidas para o ataque.
A partida, porém, esteve longe de ser um massacre alemão. Antes de Hummels fazer 1 a 0, eram da França as duas chegadas mais perigosas. O que houve, porém, é que a Alemanha controlou o meio-campo e, apesar de não ter chances claras em número tão grande, esteve sempre mais perto de marcar que de sofrer gols. Tirando os 10 minutos finais, de natural pressão, o jogo esteve sob controle germânico. Khedira, Schweinsteiger e Kroos dominaram o setor de meio, impondo-se ao ótimo trio francês (Cabayé, Pogba e Matuidi). Müller, em ótima jornada, travava um duelo interessantíssimo com o consistente Evra. Özil também exibia boa movimentação pelo outro lado, embora não tão intensa. Faltava Klose entrar mais no jogo - esteve muito marcado.
O fato de a França ter ameaçado não significa, porém, que tenha jogado um bom primeiro tempo. A equipe de Deschamps assistiu à Alemanha fazer o seu jogo de paciência, e as saídas de trás foram raras. Partiam muito mais de iniciativas individuais do que propriamente por uma estratégia de jogar no erro germânico. Tanto que, no segundo tempo, a história foi outra. Cabayé se adiantou quase na mesma linha de Pogba e Matuidi, forçando o trio de meio alemão a recuar. Valbuena e Griezmann tentavam se movimentar mais, e a intensidade da equipe aumentou. Ainda assim, a Alemanha se defendia muito bem.
O jogo passou a ficar aberto de vez com a saída de Cabayé para a entrada de Rémy. A França passou a ter quatro homens na frente, adotou um estilo mais agressivo, mas se abriu também para o contra-ataque alemão. Com mais jogadores se aproximando da área adversária, mais jogadas foram criadas. Hummels, autor do gol, foi um gigante, bloqueando arremates franceses no mais puro heroísmo. Neuer, com sua habitual segurança, foi outro monstro. A defesa com uma mão só no chute de Benzema aos 49 do 2º tempo mostra sua frieza e reflexo.
O pecado do time de Joachim Löw foi não ter matado o jogo nos contra-ataques, que não foram poucos. Contra a Argélia, o preciosismo dos atacantes germânicos já tinha dificultado uma vitória mais tranquila, e hoje o drama se repetiu, especialmente com Schürrle, que até entrou bem, trazendo mais vitalidade ao ataque no lugar de Klose. Mas a Alemanha não viveu só de contragolpes no segundo tempo. Quando tinha a posse da bola, tratava de valorizá-la até que um espaço se abrisse. Quando a França estava atirada no ataque, claro, a ordem seria colocar velocidade e fazer um jogo mais direto, uma postura perfeita, que denota uma leitura perfeita do momento da partida. Müller, mesmo extenuado, foi monstruoso ao puxar tais jogadas em velocidade.
A Alemanha de 2014 não é tão brilhante quanto a de 2010, mas é mais forte, mais madura, mais preparada. Era esperado que isso ocorresse, uma verdadeira pedra cantada após a Copa da África do Sul. Não é a que joga o futebol mais bonito aqui no Brasil, mas hoje provou que é a mais consistente, batendo com merecimento uma das melhores equipes do Mundial. Tem um goleiraço, uma defesa muito firme, um meio combativo e criativo e um ataque cheio de ótimas opções, com raro entrosamento. É claro, o fator local pode pesar em favor de qualquer seleção sul-americana que a enfrente. Mas, hoje, é a seleção mais pronta para ser campeã do mundo, em termos de elenco e consistência. A França que aguarde sua vez, que pode ser, quem sabe, em 2018.
Em tempo:
- A Alemanha chega às semifinais pela quarta vez seguida. Das 20 edições de Copas do Mundo, nada menos que 13 tiveram os germânicos entre os quatro melhores times do planeta. Bota peso nessa camisa.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Quartas de Final
4/julho/2014
FRANÇA 0 x ALEMANHA 1
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (BRA)
Árbitro: Néstor Pitana (ARG)
Público: 74.240
Gol: Hummels 11 do 1º
Cartão amarelo: Khedira e Schweinsteiger
FRANÇA: Lloris (6,5), Debuchy (6), Varane (5), Sakho (5,5) (Koscielny, 26 do 2º - 5,5) e Evra (7); Cabayé (6) (Rémy, 27 do 2º - 5,5), Pogba (6) e Matuidi (5,5); Valbuena (6) (Giroud, 39 do 2º - sem nota), Benzema (6,5) e Griezmann (5). Técnico: Didier Deschamps
ALEMANHA: Neuer (7,5), Lahm (7), Boateng (7), Hummels (8,5) e Höwedes (6,5); Khedira (6,5), Schweinsteiger (7) e Kroos (7,5) (Kramer, 46 do 2º - sem nota); Müller (7,5), Klose (5,5) (Schürrle, 23 do 2º - 6) e Özil (6) (Götze, 37 do 2º - sem nota). Técnico: Joachim Löw
A experiência, de fato, foi fundamental. A atual geração alemã não conquistou títulos pela seleção, mas está acostumada às decisões, seja com a camisa germânica ou pelo Bayern München. Isso ficou provado no primeiro tempo: a Alemanha não sentiu o peso do jogo em nenhum momento. Mesmo diante de uma França que vinha atuando em altíssimo nível, não teve dúvidas em tomar a iniciativa do jogo. Foi um pouco de estratégia francesa, também: a seleção de Deschamps apostou no contragolpe como arma, e ameaçava Neuer de vez em quando. Mas só de vez em quando.
Joachim Löw foi vencido pelos fatos. Sua ideia de aproveitar Lahm no meio e formar a tal linha de quatro zagueiros atrás foi demolida após a apertada vitória sobre a Argélia. Feghouli, Slimani e companhia escancararam o fato de a defesa ficar lenta demais se composta apenas por zagueiros de origem. A passagem de Lahm para a direita melhorou o time de forma evidente. Hoje, Lahm voltou à sua, na lateral direita. Foi um dos melhores em campo, anulando Griezmann, ajudando a combater as subidas de Matuidi e tabelando com Müller nas subidas para o ataque.
A partida, porém, esteve longe de ser um massacre alemão. Antes de Hummels fazer 1 a 0, eram da França as duas chegadas mais perigosas. O que houve, porém, é que a Alemanha controlou o meio-campo e, apesar de não ter chances claras em número tão grande, esteve sempre mais perto de marcar que de sofrer gols. Tirando os 10 minutos finais, de natural pressão, o jogo esteve sob controle germânico. Khedira, Schweinsteiger e Kroos dominaram o setor de meio, impondo-se ao ótimo trio francês (Cabayé, Pogba e Matuidi). Müller, em ótima jornada, travava um duelo interessantíssimo com o consistente Evra. Özil também exibia boa movimentação pelo outro lado, embora não tão intensa. Faltava Klose entrar mais no jogo - esteve muito marcado.
O fato de a França ter ameaçado não significa, porém, que tenha jogado um bom primeiro tempo. A equipe de Deschamps assistiu à Alemanha fazer o seu jogo de paciência, e as saídas de trás foram raras. Partiam muito mais de iniciativas individuais do que propriamente por uma estratégia de jogar no erro germânico. Tanto que, no segundo tempo, a história foi outra. Cabayé se adiantou quase na mesma linha de Pogba e Matuidi, forçando o trio de meio alemão a recuar. Valbuena e Griezmann tentavam se movimentar mais, e a intensidade da equipe aumentou. Ainda assim, a Alemanha se defendia muito bem.
O jogo passou a ficar aberto de vez com a saída de Cabayé para a entrada de Rémy. A França passou a ter quatro homens na frente, adotou um estilo mais agressivo, mas se abriu também para o contra-ataque alemão. Com mais jogadores se aproximando da área adversária, mais jogadas foram criadas. Hummels, autor do gol, foi um gigante, bloqueando arremates franceses no mais puro heroísmo. Neuer, com sua habitual segurança, foi outro monstro. A defesa com uma mão só no chute de Benzema aos 49 do 2º tempo mostra sua frieza e reflexo.
O pecado do time de Joachim Löw foi não ter matado o jogo nos contra-ataques, que não foram poucos. Contra a Argélia, o preciosismo dos atacantes germânicos já tinha dificultado uma vitória mais tranquila, e hoje o drama se repetiu, especialmente com Schürrle, que até entrou bem, trazendo mais vitalidade ao ataque no lugar de Klose. Mas a Alemanha não viveu só de contragolpes no segundo tempo. Quando tinha a posse da bola, tratava de valorizá-la até que um espaço se abrisse. Quando a França estava atirada no ataque, claro, a ordem seria colocar velocidade e fazer um jogo mais direto, uma postura perfeita, que denota uma leitura perfeita do momento da partida. Müller, mesmo extenuado, foi monstruoso ao puxar tais jogadas em velocidade.
A Alemanha de 2014 não é tão brilhante quanto a de 2010, mas é mais forte, mais madura, mais preparada. Era esperado que isso ocorresse, uma verdadeira pedra cantada após a Copa da África do Sul. Não é a que joga o futebol mais bonito aqui no Brasil, mas hoje provou que é a mais consistente, batendo com merecimento uma das melhores equipes do Mundial. Tem um goleiraço, uma defesa muito firme, um meio combativo e criativo e um ataque cheio de ótimas opções, com raro entrosamento. É claro, o fator local pode pesar em favor de qualquer seleção sul-americana que a enfrente. Mas, hoje, é a seleção mais pronta para ser campeã do mundo, em termos de elenco e consistência. A França que aguarde sua vez, que pode ser, quem sabe, em 2018.
Em tempo:
- A Alemanha chega às semifinais pela quarta vez seguida. Das 20 edições de Copas do Mundo, nada menos que 13 tiveram os germânicos entre os quatro melhores times do planeta. Bota peso nessa camisa.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Quartas de Final
4/julho/2014
FRANÇA 0 x ALEMANHA 1
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (BRA)
Árbitro: Néstor Pitana (ARG)
Público: 74.240
Gol: Hummels 11 do 1º
Cartão amarelo: Khedira e Schweinsteiger
FRANÇA: Lloris (6,5), Debuchy (6), Varane (5), Sakho (5,5) (Koscielny, 26 do 2º - 5,5) e Evra (7); Cabayé (6) (Rémy, 27 do 2º - 5,5), Pogba (6) e Matuidi (5,5); Valbuena (6) (Giroud, 39 do 2º - sem nota), Benzema (6,5) e Griezmann (5). Técnico: Didier Deschamps
ALEMANHA: Neuer (7,5), Lahm (7), Boateng (7), Hummels (8,5) e Höwedes (6,5); Khedira (6,5), Schweinsteiger (7) e Kroos (7,5) (Kramer, 46 do 2º - sem nota); Müller (7,5), Klose (5,5) (Schürrle, 23 do 2º - 6) e Özil (6) (Götze, 37 do 2º - sem nota). Técnico: Joachim Löw
Comentários
Concordo inteiramente com a ideia da abertura do texto, da inversão de papéis da Alemanha.
Jogo e postura na medida contra um time forte e num solaço de uma da tarde.
Me parece mais forte (na soma de todas as qualidades) que Brasil e Colômbia. Tem tudo pra chegar na final.
Hummels foi um monstro.