A verdadeira estreia do Brasil
O Brasil finalmente se portou como um mandante em sua Copa do Mundo. Depois de quatro jogos marcados pelo nervosismo e pela tensão, entrou confiante, disposto a mandar no jogo e transformar a Colômbia numa coadjuvante em Fortaleza. Jogou, marcou, fez um gol cedo, seguiu melhor, ampliou, tomou sufoco, mas venceu. Venceu um adversário forte. Venceu merecidamente. Venceu como mandante, usou o ambiente caseiro a seu favor. Quem sentiu o clima foi a Colômbia.
Previa-se o tradicional 4-3-3 do Brasil, mas Felipão, na verdade, montou o Brasil como em parte da estreia, diante da Croácia: Oscar atuou aberto pela direita, e Neymar pela esquerda, como meia, um pouco atrás de Hulk. Os articuladores abertos exigiam, porém, participação intensa dos volantes. Pois Fernandinho e Paulinho não só marcaram muito, como também preencheram esse meio com o vigor que se exige dos volantes modernos. Paulinho, por sinal, finalmente lembrou em parte aquele jogador da época do Corinthians, com boas arrancadas de trás e chegadas surpreendentes à frente. É importante ressaltar, no entanto, que a formação não fez Oscar melhorar, nem colocou Fred no jogo e tampouco fez de Neymar um destaque, mas coletivamente funcionou e preencheu o meio, que era o principal problema brasileiro desde a estreia na Copa.
O Brasil fez seu gol cedo, 6 minutos, mas desta vez, ao contrário do empate com o Chile, a equipe não recuou com a vantagem. A configuração tática dava opções pela esquerda, com Neymar e Hulk, pelo meio, com os volantes, e pela direita, com Oscar e principalmente Maicon, um verdadeiro trator no apoio. A equipe marcava a Colômbia sob pressão, ficava com a bola e a trabalhava bem no meio, valorizando-a, e ao mesmo tempo mantendo os colombianos longe de criar perigo. Quando os rivais tinham a bola, Cuadrado dava certo trabalho a Marcelo. James Rodríguez não: Fernandinho engoliu o 10 colombiano no primeiro tempo. É bom ressaltar que sair em desvantagem no começo também foi ótimo porque atrapalhou totalmente os planos de Pekerman. A Colômbia, mesmo em seu grupo mediano da primeira vez, nem sempre tomou a iniciativa, e diante do Brasil certamente estava armada para contra-atacar. Ter de tomar a iniciativa logo de cara não estava no roteiro.
Se houve um pecado brasileiro nos 45 iniciais foi o de não matar o jogo. Chances foram criadas, especialmente pela esquerda, com ótimas participações de Hulk, que infernizava Zúñiga. A boa partida de Hulk, aliás, explicita a excelente postura de marcação do Brasil no primeiro tempo, pois trata-se justamente de um atacante que ajuda a roubar a bola para criar perigo. Ainda assim, com pelo sete situações claras de gol contra uma dos colombianos, o Brasil foi para o intervalo ganhando por apenas 1 a 0. Pouco pelo que o jogo apresentava e pouquíssimo para ter um segundo tempo tranquilo.
José Pekerman voltou do intervalo com Ramos no lugar de Ibarbo. Uma troca de seis por meia dúzia, que não corrigiu dois erros seus de escalação. O primeiro, ter retirado do time Jackson Martínez, que deu resposta superior a Teo Gutiérrez e infinitamente melhor que a de Ibarbo, que até marca mais a saída de bola rival, mas é tecnicamente limitado. Outro foi o de colocar o meia Guarín como segundo volante. Primeiro, porque não é da função; segundo, porque não entrou bem em nenhum jogo antes da decisão com o Brasil.
Mesmo sem melhorar, a Colômbia fez um começo de segundo tempo equilibrado. Era de certa forma previsível que a equipe de Felipão perdesse um tanto da volúpia ofensiva, mas a atenção defensiva seguiu a mesma. James se movimentava mais, dando trabalho dobrado a Fernandinho, mas os laterais recuaram para ajudar no combate a Guardado e Ramos, e a dupla de zaga brasileira esteve absolutamente impecável. Yepes fez um gol bem anulado pela arbitragem, um grande susto, mas antes disso a Colômbia não tinha criado grandes problemas. O 2 a 0, no golaço de falta de David Luiz, praticamente matava o jogo.
Não matou porque o Brasil relaxou e se desorganizou. Desconcentrou-se com a vantagem, passou a dar espaços e permitiu o desconto adversário num erro de passe de Maicon, seu único pecado no jogo todo, que originou o contra-ataque do pênalti convertido por Rodríguez. Felipão tratou de preencher o vazio do meio-campo, colocou Hernanes e Ramires, valorizou um pouco mais a bola e não correu mais grandes riscos até o final, apesar de a posse de bola colombiana no campo de ataque ser naturalmente assustadora em uma quarta de final de Copa do Mundo.
Foi sem dúvida o melhor jogo do Brasil na Copa 2014. Mesmo sem Neymar em grande jornada, a Seleção apresentou um futebol coletivo, de pegada, com organização. Jogou bem com e sem a bola, teve meio-campo (finalmente!), criou oportunidades, teve destaques individuais como os dois zagueiros e Fernandinho e mereceu bater a melhor Colômbia de todos os tempos. Diante da poderosa Alemanha, terá no mínimo de repetir o nível de atuação do primeiro tempo para ter chances de chegar à final. Será um jogo diferente: os alemães gostam da bola, de valorizá-la. Terça será dia para marcação-pressão de novo, só que sem direito a perder gols como no primeiro tempo, ou dar espaços no meio como no segundo. E terá de ser dia de Neymar, se é que ele terá condições clínicas de jogo.
Em tempo:
- Thiago Silva reagiu bem às críticas, as justas e as nem tanto: foi o melhor jogador em campo, marcando o primeiro gol brasileiro e sendo perfeito tecnicamente, mesmo em situações complicadas, como contragolpes colombianos onde o Brasil teve inferioridade numérica. Seu segundo amarelo, porém, foi absolutamente infantil. Impedir o goleiro colombiano de repor a bola lhe tira da semifinal contra os alemães. Valeu à pena?
- Jogadores brasileiros consolando um inconsolável James Rodríguez é uma das imagens da Copa. O craque colombiano, porém, não tem razão de reclamar da arbitragem, como fez.
- Felipão elogiou muito a dupla Fernandinho-Paulinho. Luiz Gustavo estará perdendo seu lugar no time?
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Quartas de Final
4/julho/2014
BRASIL 2 x COLÔMBIA 1
Local: Castelão, Fortaleza (BRA)
Árbitro: Carlos Velasco (ESP)
Público: 60.342
Gols: Thiago Silva 6 do 1º; David Luiz 23 e Rodríguez (pênalti) 34 do 2º
Cartão amarelo: Júlio César, Thiago Silva, Yepes e Rodríguez
BRASIL: Júlio César (6), Maicon (7), David Luiz (8), Thiago Silva (8) e Marcelo (6); Fernandinho (7,5), Paulinho (6,5) (Hernanes, 40 do 2º - sem nota), Oscar (5,5) e Neymar (5,5) (Henrique, 42 do 2º - sem nota); Hulk (6,5) (Ramires, 37 do 2º - sem nota) e Fred (4,5). Técnico: Luiz Felipe
COLÔMBIA: Ospina (6), Zúñiga (6), Zapata (7), Yepes (7,5) e Armero (5,5); Sánchez (5,5), Guarín (5), Cuadrado (6,5) (Quintero, 34 do 2º - sem nota) e Rodríguez (6); Ibarbo (4) (Ramos, intervalo - 5,5) e Gutiérrez (4,5) (Bacca, 24 do 2º - 5,5). Técnico: José Pekerman
Previa-se o tradicional 4-3-3 do Brasil, mas Felipão, na verdade, montou o Brasil como em parte da estreia, diante da Croácia: Oscar atuou aberto pela direita, e Neymar pela esquerda, como meia, um pouco atrás de Hulk. Os articuladores abertos exigiam, porém, participação intensa dos volantes. Pois Fernandinho e Paulinho não só marcaram muito, como também preencheram esse meio com o vigor que se exige dos volantes modernos. Paulinho, por sinal, finalmente lembrou em parte aquele jogador da época do Corinthians, com boas arrancadas de trás e chegadas surpreendentes à frente. É importante ressaltar, no entanto, que a formação não fez Oscar melhorar, nem colocou Fred no jogo e tampouco fez de Neymar um destaque, mas coletivamente funcionou e preencheu o meio, que era o principal problema brasileiro desde a estreia na Copa.
O Brasil fez seu gol cedo, 6 minutos, mas desta vez, ao contrário do empate com o Chile, a equipe não recuou com a vantagem. A configuração tática dava opções pela esquerda, com Neymar e Hulk, pelo meio, com os volantes, e pela direita, com Oscar e principalmente Maicon, um verdadeiro trator no apoio. A equipe marcava a Colômbia sob pressão, ficava com a bola e a trabalhava bem no meio, valorizando-a, e ao mesmo tempo mantendo os colombianos longe de criar perigo. Quando os rivais tinham a bola, Cuadrado dava certo trabalho a Marcelo. James Rodríguez não: Fernandinho engoliu o 10 colombiano no primeiro tempo. É bom ressaltar que sair em desvantagem no começo também foi ótimo porque atrapalhou totalmente os planos de Pekerman. A Colômbia, mesmo em seu grupo mediano da primeira vez, nem sempre tomou a iniciativa, e diante do Brasil certamente estava armada para contra-atacar. Ter de tomar a iniciativa logo de cara não estava no roteiro.
Se houve um pecado brasileiro nos 45 iniciais foi o de não matar o jogo. Chances foram criadas, especialmente pela esquerda, com ótimas participações de Hulk, que infernizava Zúñiga. A boa partida de Hulk, aliás, explicita a excelente postura de marcação do Brasil no primeiro tempo, pois trata-se justamente de um atacante que ajuda a roubar a bola para criar perigo. Ainda assim, com pelo sete situações claras de gol contra uma dos colombianos, o Brasil foi para o intervalo ganhando por apenas 1 a 0. Pouco pelo que o jogo apresentava e pouquíssimo para ter um segundo tempo tranquilo.
José Pekerman voltou do intervalo com Ramos no lugar de Ibarbo. Uma troca de seis por meia dúzia, que não corrigiu dois erros seus de escalação. O primeiro, ter retirado do time Jackson Martínez, que deu resposta superior a Teo Gutiérrez e infinitamente melhor que a de Ibarbo, que até marca mais a saída de bola rival, mas é tecnicamente limitado. Outro foi o de colocar o meia Guarín como segundo volante. Primeiro, porque não é da função; segundo, porque não entrou bem em nenhum jogo antes da decisão com o Brasil.
Mesmo sem melhorar, a Colômbia fez um começo de segundo tempo equilibrado. Era de certa forma previsível que a equipe de Felipão perdesse um tanto da volúpia ofensiva, mas a atenção defensiva seguiu a mesma. James se movimentava mais, dando trabalho dobrado a Fernandinho, mas os laterais recuaram para ajudar no combate a Guardado e Ramos, e a dupla de zaga brasileira esteve absolutamente impecável. Yepes fez um gol bem anulado pela arbitragem, um grande susto, mas antes disso a Colômbia não tinha criado grandes problemas. O 2 a 0, no golaço de falta de David Luiz, praticamente matava o jogo.
Não matou porque o Brasil relaxou e se desorganizou. Desconcentrou-se com a vantagem, passou a dar espaços e permitiu o desconto adversário num erro de passe de Maicon, seu único pecado no jogo todo, que originou o contra-ataque do pênalti convertido por Rodríguez. Felipão tratou de preencher o vazio do meio-campo, colocou Hernanes e Ramires, valorizou um pouco mais a bola e não correu mais grandes riscos até o final, apesar de a posse de bola colombiana no campo de ataque ser naturalmente assustadora em uma quarta de final de Copa do Mundo.
Foi sem dúvida o melhor jogo do Brasil na Copa 2014. Mesmo sem Neymar em grande jornada, a Seleção apresentou um futebol coletivo, de pegada, com organização. Jogou bem com e sem a bola, teve meio-campo (finalmente!), criou oportunidades, teve destaques individuais como os dois zagueiros e Fernandinho e mereceu bater a melhor Colômbia de todos os tempos. Diante da poderosa Alemanha, terá no mínimo de repetir o nível de atuação do primeiro tempo para ter chances de chegar à final. Será um jogo diferente: os alemães gostam da bola, de valorizá-la. Terça será dia para marcação-pressão de novo, só que sem direito a perder gols como no primeiro tempo, ou dar espaços no meio como no segundo. E terá de ser dia de Neymar, se é que ele terá condições clínicas de jogo.
Em tempo:
- Thiago Silva reagiu bem às críticas, as justas e as nem tanto: foi o melhor jogador em campo, marcando o primeiro gol brasileiro e sendo perfeito tecnicamente, mesmo em situações complicadas, como contragolpes colombianos onde o Brasil teve inferioridade numérica. Seu segundo amarelo, porém, foi absolutamente infantil. Impedir o goleiro colombiano de repor a bola lhe tira da semifinal contra os alemães. Valeu à pena?
- Jogadores brasileiros consolando um inconsolável James Rodríguez é uma das imagens da Copa. O craque colombiano, porém, não tem razão de reclamar da arbitragem, como fez.
- Felipão elogiou muito a dupla Fernandinho-Paulinho. Luiz Gustavo estará perdendo seu lugar no time?
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Quartas de Final
4/julho/2014
BRASIL 2 x COLÔMBIA 1
Local: Castelão, Fortaleza (BRA)
Árbitro: Carlos Velasco (ESP)
Público: 60.342
Gols: Thiago Silva 6 do 1º; David Luiz 23 e Rodríguez (pênalti) 34 do 2º
Cartão amarelo: Júlio César, Thiago Silva, Yepes e Rodríguez
BRASIL: Júlio César (6), Maicon (7), David Luiz (8), Thiago Silva (8) e Marcelo (6); Fernandinho (7,5), Paulinho (6,5) (Hernanes, 40 do 2º - sem nota), Oscar (5,5) e Neymar (5,5) (Henrique, 42 do 2º - sem nota); Hulk (6,5) (Ramires, 37 do 2º - sem nota) e Fred (4,5). Técnico: Luiz Felipe
COLÔMBIA: Ospina (6), Zúñiga (6), Zapata (7), Yepes (7,5) e Armero (5,5); Sánchez (5,5), Guarín (5), Cuadrado (6,5) (Quintero, 34 do 2º - sem nota) e Rodríguez (6); Ibarbo (4) (Ramos, intervalo - 5,5) e Gutiérrez (4,5) (Bacca, 24 do 2º - 5,5). Técnico: José Pekerman
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