A eliminada é a estrela
A Costa Rica se despediu hoje da Copa do Mundo sem a vaga nas semifinais, mas com muita coisa a comemorar. Enfrentou Uruguai, Itália, Inglaterra e Holanda, quatro das melhores seleções do mundo, e não perdeu para nenhuma delas. Nestes jogos, só tomou um golzinho, e de pênalti. Foi a única que não perdeu para os holandeses. Caiu de pé, no detalhe dos pênaltis, momento onde brilhou a estrela de Louis van Gaal, um técnico tão arrogante quanto corajoso e autoconfiante, e que mostrou hoje ser o melhor treinador desta Copa do Mundo.
É curioso, no mínimo, elogiar o técnico holandês em um jogo no qual sua equipe teve imensas dificuldades diante de uma equipe tecnicamente inferior. Se diante do México a ideia de deixar a bola com o adversário quase causou a eliminação, hoje a proposta foi clara: atacar a Costa Rica e lhe impedir de jogar. Jorge Luis Pinto, sabendo disso, posicionou seu time todo, à exceção de Campbell, atrás da linha da bola. Com nove jogadores defendendo, mais o goleiro Navas, o 3-4-3 holandês foi estéril durante todo o primeiro tempo. A marcação era implacável. Os alas costarriquenhos bloqueavam os europeus, enquanto cada ponta laranja era marcado por um volante e um zagueiro na sobra. A bola raramente chegava em Van Persie, mas quando chegava lá estava González, um gigante.
Depois de 45 minutos de pouco jogo e muita anulação de espaços, a Costa Rica passou a arriscar um pouco mais na segunda etapa. Dos 10 aos 20 minutos, a equipe centro-americana equilibrou o jogo, chegou a ter um pênalti sonegado pela arbitragem. A Holanda, porém, adiantou-se novamente e passou a insistir nas duas únicas armas que dispunha para furar a fechadíssima defesa adversária: as jogadas individuais de Robben e as bolas paradas. O ponteiro conseguia, no máximo, cavar faltas. Nelas, ou Navas defendia, ou a zaga cortava ou a trave salvava. Quando nada disso acontecia, Tejeda estava lá, em cima da linha, para evitar a derrota aos 46 do segundo tempo.
Mas por que, precisando da vitória, Van Gaal manteve os três zagueiros, se o seu time mal era atacado? O motivo é simples: com o trio defensivo atrás, a Costa Rica não tinha como contra-atacar. Quando Ruiz ou Bolaños tentavam acionar Ureña na frente, sempre havia alguém na sobra impedindo a jogada ofensiva costarriquenha, e logo a bola voltava para o controle holandês. Os três zagueiros, sinônimo de retranca para muita gente, ajudavam a Holanda a encurralar a Costa Rica. Por isso a aparente contradição.
Isso ficou evidente no segundo tempo da prorrogação, quando Van Gaal retirou Martins Indi para colocar Huntelaar. A Holanda ganhou uma opção ofensiva na área, mas perdeu a sobra e permitiu contragolpes perigosos da Costa Rica. Foi exatamente assim que Ureña fintou a marcação, sem o zagueiro da sobra, e obrigou Cillessen a fazer uma grande defesa, aos 11 do segundo da prorrogação. Os holandeses tiveram mais chances, mas também correram mais riscos.
Nenhum risco, porém, foi maior do que o que correu Van Gaal a trocar Cillessen por Krul a um minuto do fim do jogo, apenas para tê-lo na decisão por pênaltis. O titular nem quis olhar na cara do treinador após o apito final, e a pressão sobre o (segundo) reserva triplicou. Mas Van Gaal provou estar certo duas vezes: a primeira, quando manteve os três zagueiros quase que até o final do jogo, por mais que isso parecesse um resguardo excessivo; a segunda, ao apostar em um goleiro que provocou os adversários, pegou duas cobranças e acertou o canto de outras três. Classificou a Holanda para as semifinais.
Não há favoritos para a semifinal. A Holanda jogará, na prática, fora de casa; a Argentina, por sua vez, não terá Di María, seu segundo melhor jogador. A Copa do Mundo das surpresas chega ao seu final com quatro equipes acostumadas a ser protagonistas em suas semifinais. Nos mata-matas, até agora, só deu a lógica. De agora em diante, é tudo cachorro grande.
Quanto à Costa Rica, entrou para a história como uma das maiores zebras de todos os tempos. Uma seleção que pegou quatro gigantes do futebol mundial e não perdeu para nenhuma delas. Aliás, não perdeu nada, só ganhou - a torcida brasileira, o reconhecimento do seu povo e o respeito e simpatia do mundo todo. A estrela de hoje não foi a classificada, mas sim a eliminada. Por tudo o que jogou na Copa, porém, a Holanda mereceu a vaga.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Quartas de Final
5/julho/2014
HOLANDA 0 x COSTA RICA 0
Local: Fonte Nova, Salvador (BRA)
Árbitro: Ravshan Irmatov (UZB)
Público: 51.179
Decisão por pênaltis: Holanda 4 (Van Persie, Robben, Sneijder e Kuyt) x Costa Rica 3 (Borges, González e Bolaños)
Cartão amarelo: Martins Indi, Huntelaar, Umaña, Díaz, González e Acosta
HOLANDA: Cillessen (7) (Krul, 15 do 2º da prorrogação - 8), De Vrij (6), Vlaar (6,5) e Martins Indi (6) (Huntelaar, intervalo da prorrogação - 5); Kuyt (6,5), Wijnaldum (6,5), Sneijder (6,5) e Blind (6); Robben (7,5), Van Persie (5) e Depay (6) (Lens, 30 do 2º - 6,5). Técnico: Louis van Gaal
Pênaltis: Van Persie (gol), Robben (gol), Sneijder (gol) e Kuyt (gol)
COSTA RICA: Navas (8), Acosta (6,5), González (8) e Umaña (6); Gamboa (6) (Myrie, 33 do 2º - 5,5), Tejeda (6,5) (Cubero, 6 do 1º da prorrogação - 5,5), Borges (6,5), Ruiz (5,5), Bolaños (6) e Díaz (5); Campbell (5,5) (Ureña, 20 do 2º - 6,5). Técnico: Jorge Luis Pinto
Pênaltis: Borges (gol), Ruiz (defendido), González (gol), Bolaños (gol) e Umaña (defendido).
É curioso, no mínimo, elogiar o técnico holandês em um jogo no qual sua equipe teve imensas dificuldades diante de uma equipe tecnicamente inferior. Se diante do México a ideia de deixar a bola com o adversário quase causou a eliminação, hoje a proposta foi clara: atacar a Costa Rica e lhe impedir de jogar. Jorge Luis Pinto, sabendo disso, posicionou seu time todo, à exceção de Campbell, atrás da linha da bola. Com nove jogadores defendendo, mais o goleiro Navas, o 3-4-3 holandês foi estéril durante todo o primeiro tempo. A marcação era implacável. Os alas costarriquenhos bloqueavam os europeus, enquanto cada ponta laranja era marcado por um volante e um zagueiro na sobra. A bola raramente chegava em Van Persie, mas quando chegava lá estava González, um gigante.
Depois de 45 minutos de pouco jogo e muita anulação de espaços, a Costa Rica passou a arriscar um pouco mais na segunda etapa. Dos 10 aos 20 minutos, a equipe centro-americana equilibrou o jogo, chegou a ter um pênalti sonegado pela arbitragem. A Holanda, porém, adiantou-se novamente e passou a insistir nas duas únicas armas que dispunha para furar a fechadíssima defesa adversária: as jogadas individuais de Robben e as bolas paradas. O ponteiro conseguia, no máximo, cavar faltas. Nelas, ou Navas defendia, ou a zaga cortava ou a trave salvava. Quando nada disso acontecia, Tejeda estava lá, em cima da linha, para evitar a derrota aos 46 do segundo tempo.
Mas por que, precisando da vitória, Van Gaal manteve os três zagueiros, se o seu time mal era atacado? O motivo é simples: com o trio defensivo atrás, a Costa Rica não tinha como contra-atacar. Quando Ruiz ou Bolaños tentavam acionar Ureña na frente, sempre havia alguém na sobra impedindo a jogada ofensiva costarriquenha, e logo a bola voltava para o controle holandês. Os três zagueiros, sinônimo de retranca para muita gente, ajudavam a Holanda a encurralar a Costa Rica. Por isso a aparente contradição.
Isso ficou evidente no segundo tempo da prorrogação, quando Van Gaal retirou Martins Indi para colocar Huntelaar. A Holanda ganhou uma opção ofensiva na área, mas perdeu a sobra e permitiu contragolpes perigosos da Costa Rica. Foi exatamente assim que Ureña fintou a marcação, sem o zagueiro da sobra, e obrigou Cillessen a fazer uma grande defesa, aos 11 do segundo da prorrogação. Os holandeses tiveram mais chances, mas também correram mais riscos.
Nenhum risco, porém, foi maior do que o que correu Van Gaal a trocar Cillessen por Krul a um minuto do fim do jogo, apenas para tê-lo na decisão por pênaltis. O titular nem quis olhar na cara do treinador após o apito final, e a pressão sobre o (segundo) reserva triplicou. Mas Van Gaal provou estar certo duas vezes: a primeira, quando manteve os três zagueiros quase que até o final do jogo, por mais que isso parecesse um resguardo excessivo; a segunda, ao apostar em um goleiro que provocou os adversários, pegou duas cobranças e acertou o canto de outras três. Classificou a Holanda para as semifinais.
Não há favoritos para a semifinal. A Holanda jogará, na prática, fora de casa; a Argentina, por sua vez, não terá Di María, seu segundo melhor jogador. A Copa do Mundo das surpresas chega ao seu final com quatro equipes acostumadas a ser protagonistas em suas semifinais. Nos mata-matas, até agora, só deu a lógica. De agora em diante, é tudo cachorro grande.
Quanto à Costa Rica, entrou para a história como uma das maiores zebras de todos os tempos. Uma seleção que pegou quatro gigantes do futebol mundial e não perdeu para nenhuma delas. Aliás, não perdeu nada, só ganhou - a torcida brasileira, o reconhecimento do seu povo e o respeito e simpatia do mundo todo. A estrela de hoje não foi a classificada, mas sim a eliminada. Por tudo o que jogou na Copa, porém, a Holanda mereceu a vaga.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Quartas de Final
5/julho/2014
HOLANDA 0 x COSTA RICA 0
Local: Fonte Nova, Salvador (BRA)
Árbitro: Ravshan Irmatov (UZB)
Público: 51.179
Decisão por pênaltis: Holanda 4 (Van Persie, Robben, Sneijder e Kuyt) x Costa Rica 3 (Borges, González e Bolaños)
Cartão amarelo: Martins Indi, Huntelaar, Umaña, Díaz, González e Acosta
HOLANDA: Cillessen (7) (Krul, 15 do 2º da prorrogação - 8), De Vrij (6), Vlaar (6,5) e Martins Indi (6) (Huntelaar, intervalo da prorrogação - 5); Kuyt (6,5), Wijnaldum (6,5), Sneijder (6,5) e Blind (6); Robben (7,5), Van Persie (5) e Depay (6) (Lens, 30 do 2º - 6,5). Técnico: Louis van Gaal
Pênaltis: Van Persie (gol), Robben (gol), Sneijder (gol) e Kuyt (gol)
COSTA RICA: Navas (8), Acosta (6,5), González (8) e Umaña (6); Gamboa (6) (Myrie, 33 do 2º - 5,5), Tejeda (6,5) (Cubero, 6 do 1º da prorrogação - 5,5), Borges (6,5), Ruiz (5,5), Bolaños (6) e Díaz (5); Campbell (5,5) (Ureña, 20 do 2º - 6,5). Técnico: Jorge Luis Pinto
Pênaltis: Borges (gol), Ruiz (defendido), González (gol), Bolaños (gol) e Umaña (defendido).
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