A Copa dos nervos

Esta é a Copa dos nervos. Todas são assim, na verdade, mas em 2014 a questão psicológica parece estar se exacerbando, sendo sobrevalorizada até. Não gosto muito de entrar por esse caminho nas análises dos jogos e dos torneios, pois não psicólogo, não tenho formação para dar opinião com responsabilidade em relação a um assunto o qual não estudei a fundo, como tantos profissionais competentes que existem por aí. Mas uma coisa é fato: numa hora como essa, absolutamente decisiva, a questão de cabeça pesa, e bastante. Chegamos aos últimos oito jogos da Copa do Mundo, momento que todo jogador de alto nível sonha estar vivendo por quatro longos anos.

A conversa de Felipão com seis jornalistas na Granja Comary foi mais um desabafo do que qualquer outra coisa. Até ele e Parreira, tão experientes que são, parecem estar sentindo o peso deste momento - um pouco menos que os atletas, mas estão. Por que não estaria se sentindo pressionado, então, Thiago Silva? Há quem o defenda e quem o condene por não ter incentivado os companheiros na hora da decisão de pênaltis contra o Chile e, principalmente, por ter pedido para não cobrar uma das cinco penalidades.

Pessoalmente, penso que há duas questões, uma a favor e outra contra o zagueiro. A favor está o fato de que reconhecer fraquezas é fundamental num trabalho em equipe. Thiago não se sentiu preparado? Ótimo, então pede para não bater e não prejudica o grupo. É até uma forma de doação, de pedir discrição em vez dos holofotes, num momento psicologicamente desfavorável para ele. Reconhecer as próprias limitações é um mérito e tanto para qualquer profissional. E nada disso, por sinal, tem lhe prejudicado o desempenho em campo, que é muito bom até agora na Copa.

Porém, por outro lado, o episódio revela claramente que não é ele o capitão da seleção brasileira. O próprio Felipão admitiu aos jornalistas com quem conversou que Thiago Silva tem pavor de ficar marcado como o capitão que perdeu a Copa no Brasil, principalmente porque já perdeu a Olimpíada de Londres em 2012. Não seria melhor mudar o dono da braçadeira? Faria bem ao time e ao próprio Thiago. Talvez esteja na hora de Thiago Silva dar a mesma demonstração de humildade que deu na hora dos pênaltis e passar a capitania a David Luiz ou Júlio César, que tiveram uma presença de espírito maior naquele momento tão delicado.

Seja como for, o fato é que o Brasil deixou claro em campo e no papo de Felipão que se sente, sim, pressionado, e muito. Ao contrário da Colômbia, que joga um futebol leve, mas longe de ser irresponsável como em outras épocas. Será uma adversária duríssima hoje à tarde, no Castelão. É claro que as circunstâncias da partida podem mudar tudo. Se o Brasil faz um gol cedo, talvez isso tudo se reverta a seu favor - embora, contra o Chile, isso não tenha ocorrido. Mas a chance de eliminação é real, e não tão pequena assim. Será uma tarde para nervos, na Copa mais eletrizante dos últimos tempos.

No Maracanã, não será diferente. A tradicional frieza alemã, porém, normalmente se sobressai em duelos equilibrados. A França vem jogando mais, mas também teve seus problemas de Nigéria. A Alemanha, por outro lado, não costuma ganhar torneios nos quais começa jogando muito. Nesta Copa, ela só massacrou Portugal. De resto, vitórias suficientes, até cambaleantes. E é sempre bom lembrar que os alemães, em mata-matas, jogam praticamente pelo empate. Afinal, nunca perderam sequer uma decisão por pênaltis em Copas do Mundo - nas 16 cobranças que fizeram nelas, acertaram 15. Um aproveitamento e tanto.

Na Copa dos nervos, Alemanha e Colômbia saem à frente. Na Copa da bola, Brasil e França têm chances praticamente idênticas às de seus dois rivais da vez.

Comentários