Virada à moda antiga

Após a ótima vitória da Colômbia sobre a Grécia, a partida entre Costa do Marfim e Japão ganhou ares de decisão da segunda vaga do Grupo C da Copa. Não apenas porque quem vencesse sairia com 3 pontos na frente do concorrente, mas porque obrigaria o perdedor a derrotar os favoritos colombianos na sequência do Mundial. Neste caso, a vitória marfinense é duplamente importante. O confronto da próxima rodada, contra a equipe de Pekerman, pode valer a liderança da chave.

O resultado em Recife foi merecido. A Costa do Marfim foi mais time quase sempre, e não apenas porque saiu perdendo cedo e teve a obrigação prematura de já sair correndo atrás do placar. Antes de sofrer o golaço marcado pelo ótimo Honda, o time africano já tinha dominação territorial sobre o Japão. Isso que não teve meias de ofício: Lamouchi apostou em um meio de muita força, com Tioté e Die marcando atrás de Yaya Touré, que não é articulador, mas atuou mais adiantado.

Faltavam, porém, chegadas de mais contundência para ameaçar o gol de Kawashima. A Costa do Marfim era atabalhoada na hora de construir seus ataques. O Japão se defendia com eficiência, mas atacava pouquíssimo, e aí esteve seu maior pecado. Se a recomposição defensiva nipônica era rápida, porque não pensar em usar essa velocidade também para contragolpear? Isso jamais ocorreu. Os marfinenses, por sua vez, usavam menos do que deviam a bola aérea. Sabida e histórica dificuldade da normalmente baixa seleção japonesa, esta jogada vinha a calhar para um time com força física e altura muito superiores às do adversário.

O jogo começou a mudar quando o veterano Drogba deixou o banco. Apesar da idade mais avançada, o centroavante possui uma técnica superior, e sua presença desarticulou a retaguarda japonesa, que não estava preparada para encarar quatro atacantes. A tática ousada marfinense só foi possível porque o Japão não saía de trás e arriscava pouquíssimo. Não faria sentido, portanto, não colocar mais gente próxima do gol para tentar o empate.

Mais do que o empate, veio a virada. Em dois minutos, a Costa do Marfim resolveu explorar o jogo aéreo através de dois cruzamentos precisos do lateral direito Aurier e chegou aos 2 a 1. Zaccheroni até mexeu em sua equipe, mas sempre trocando seis por meia dúzia, sem qualquer ousadia maior. Sem ter como se retrancar, já que tinha quatro atacantes em campo, a Costa do Marfim seguiu dominando o jogo até o final. Esteve bem mais perto de marcar o terceiro que de sofrer o empate. Foi o triunfo de um time moderno, mas que chegou lá através de um esquema bastante antigo.

Em tempo:
- Em 8 jogos até aqui, a Copa do Mundo já registrou 28 gols, média de 3,50 por partida. Não baixa de jeito nenhum. Felizmente, nem o nível técnico.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo C - 1ª rodada
14/junho/2014
COSTA DO MARFIM 2 x JAPÃO 1
Local: Arena Pernambuco, São Lourenço da Mata (PE)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Público: 40.267
Gols: Honda 15 do 1º; Bony 18 e Gervinho 20 do 2º
Cartão amarelo: Bamba, Zokora, Morishige e Yoshida
COSTA DO MARFIM: Barry (5,5), Aurier (7), Zokora (6), Bamba (6) e Boka (6) (Djakpa, 29 do 2º - 5,5); Tioté (5,5), Die (5,5) (Drogba, 16 do 2º - 6,5) e Yaya Touré (6); Kalou (5,5), Bony (6) (Ya Konan, 32 do 2º - sem nota) e Gervinho (6,5). Técnico: Sabri Lamouchi
JAPÃO: Kawashima (5), Uchida (5,5), Yoshida (5,5), Morishige (4,5) e Nagatomo (5); Yamaguchi (5), Hasebe (6) (Endo, 8 do 2º - 5), Okazaki (5,5) e Kagawa (5) (Kakitani, 22 do 2º - 5); Honda (6,5) e Osako (4,5) (Okubo, 22 do 2º - 5). Técnico: Alberto Zaccheroni

Comentários

Franke disse…
Não vi o jogo, então não posso comentar.

Mas foi mais uma virada. Nessa Copa, até agora, foram em oito jogos e quatro viradas: Brasil sobre Croácia, Holanda sobre Espanha, Costa Rica sobre Uruguai e Costa do Marfim sobre Japão.

Talvez seja por isso que os jogos estejam tão bons de ver, afinal poucas coisas sãos mais legais no futebol que viradas.
Vicente Fonseca disse…
É verdade. Outra questão é o alto número de gols no começo do primeiro tempo. Gols no início acendem qualquer jogo.

Até agora, em 2014, 5 dos 28 gols aconteceram até os 15 minutos de jogo, 17,9% do total. Em 2010, só 14 dos 144 gols da Copa foram do 1º ao 15º minuto: 9,7% do total, quase a metade.
Franke disse…
Quanto mais cedo o primeiro gol, maior a chance de virada!
Franke disse…
E em termos metafísicos, pra mim a vitória da Holanda fez muito bem à Copa. Mostrou, pelo menos simbolicamente, que o campeão caiu, e a que a Copa está aberta.
Vicente Fonseca disse…
Sem dúvida. Nesta semana que está começando, teremos ao menos duas verdadeiras decisões: Espanha x Chile, Uruguai x Inglaterra. Dos cinco campeões mundiais que já entraram em campo, simplesmente três estão na berlinda.