Un crack y nada más

A Argentina oscilou diante da Bósnia. Jogou mal no primeiro tempo, no 3-5-2, e melhorou no segundo, no 4-4-2. Hoje, diante do Irã, o desempenho foi regular o jogo todo: ruim do primeiro ao último minuto. A escalação preferida de Lionel Messi não funcionou e, se não fosse o próprio craque desequilibrar num lance isolado no final, estaríamos comentando um fiasco histórico da seleção. O próprio Alejandro Sabella reconheceu a partida ruim de sua equipe, enaltecendo o fato de ter Messi, que foi o que lhe deu a vitória.

Se Carlos Queiroz já havia montado uma retranca com Portugal em 2010 e na estreia iraniana nesta Copa, diante da Argentina a estratégia não poderia ser diferente. No primeiro tempo, a equipe asiática mal passava do meio de campo. A ordem era fechar todos os espaços possíveis e sair só muito na boa. E a proposta era bem executada: em raras oportunidades os talentosos argentinos levavam vantagem na vitória pessoal. No primeiro tempo, teve seis chances de gol, contra uma do Irã, na bola parada.

Mas muito da dificuldade da partida e do placar apertado se deve também a problemas sérios no time de Sabella. Contra um Irã que veio tão fechado e se dedicou tanto a anular o adversário, a Argentina não teve capacidade alguma de surpreender. Os laterais raramente se infiltravam, os volantes nunca se projetavam, Messi parecia passivo diante da marcação. Higuaín, por sua vez, esteve mal posicionado, aberto demais pela direita em vários momentos, ficando longe da zona de conclusão.

Se o primeiro tempo foi o do ataque contra defesa, no segundo não se pode dizer o mesmo. É claro que a Argentina é quem propôs o jogo e teve mais posse de bola, mas o Irã foi melhor em boa parte da etapa final. E melhor não só no sentido de ter sua proposta de jogo se sobrepujando à argentina, mas também em criar oportunidades mais claras e perigosas de gol. Cada vez mais nervosa, a Argentina errava passes e abria clarões que eram muito bem aproveitados pelos iranianos. Dejagah foi um terror pela ponta direita, e Reza Ghoochannejhad, pelo meio, teve chances claras de marcar. Não fossem grandes defesas de Romero, provavelmente o Mineirão teria visto a maior zebra da história das Copas, superando inclusive à que viu o seu vizinho Independência, em 1950, com a histórica vitória dos Estados Unidos sobre a Inglaterra.

O crescimento iraniano, inclusive, impediu Sabella de abrir mais a Argentina. No primeiro tempo, a equipe prescindia de uma dupla de volantes à frente da zaga, já que o Irã quase não atacava. No segundo, com o time persa gostando do jogo, seria um risco retirar Mascherano ou Gago. As substituições foram de seis por meia dúzia: Palacio e Lavezzi não foram superiores aos apagados Agüero e Higuaín. Só Messi, tão apagado durante os 90 minutos, seria capaz de salvar, e foi o que ocorreu, já nos acréscimos.

A vitória é importantíssima não apenas porque preserva a Argentina de um vexame, mas porque praticamente lhe dá a liderança do Grupo F. Sendo a primeira colocada de sua chave, a equipe platina entra num emparceiramento de mata-mata bem mais suave, onde só a Holanda deve ser rival à altura (isso se for a líder de sua chave e não perder para o Chile). Mas há muita coisa para ser arrumada. A sorte é que o caminho albiceleste é o mais tranquilo da Copa, parecido neste sentido com o Brasil de 2002, que também começou o Mundial com problemas e foi corrigindo em meio à competição, contando com a fragilidade dos rivais que apareciam pelo caminho.

Quanto ao Irã, o golaço de Messi foi um castigo imerecido. A seleção asiática não apenas teve sua proposta de jogo se saindo bem mais sucedida, como, pela dedicação apresentada e pelas ótimas chances criadas no segundo tempo, poderia ter obtido um resultado ao menos de igualdade. O fato de Romero ter tido mais defesas difíceis a fazer do que Haghighi é extremamente sintomático. Mas a qualidade técnica, como vimos, ainda é um fator decisivo neste esporte tão surpreendente.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo F - 2ª rodada
21/junho/2014
ARGENTINA 1 x IRÃ 0
Local: Mineirão, Belo Horizonte (BRA)
Árbitro: Milorad Mazic (SER)
Público: 57.698
Gol: Messi 45 do 2º
Cartão amarelo: Nekounam e Shojaei
ARGENTINA: Romero (7), Zabaleta (5), Fernández (5), Garay (6) e Rojo (6,5); Mascherano (6,5), Gago (5,5) e Di María (5,5) (Biglia, 48 do 2º - sem nota); Messi (6,5), Higuaín (4,5) (Palacio, 31 do 2º - 4,5) e Agüero (5) (Lavezzi, 31 do 2º - 6). Técnico: Alejandro Sabella
IRÃ: Haghighi (6,5), Hosseini (5,5), Sadeghi (6,5), Montazeri (7) e Pooladi (6); Teymourian (5,5), Nekounam (6), Dejagah (7) (Jahanbakhsh, 39 do 2º - sem nota), Shojaei (6) (Heydari, 31 do 2º - 5,5) e Hajsafi (5,5) (Reza Haghighi, 42 do 2º - sem nota); Ghoochannejhad (6,5). Técnico: Carlos Queiroz

Comentários

Vine disse…
E o suposto pênalti não dado para o Irã?
Vicente Fonseca disse…
Olha, é um lance MUITO discutível. Num primeiro momento achei pênalti, por outro ângulo fiquei com a impressão que foi contato normal. Ainda não cheguei a uma conclusão definitiva, mas pra não ficar em cima do muro eu não marcaria nada no lance.