Ticos sí, chicos no

Quem é a seleção pequena do Grupo D? A pergunta fica muito mais difícil de ser respondida após o jogo do Castelão. Porque a Costa Rica não teve nada de franco-atiradora: foi ela sempre a protagonista, a que tomou a iniciativa, a que tocou melhor a bola e foi mais incisiva. O Uruguai, especialmente no segundo tempo, não viu a cor da bola. Levou 3 a 1 dos Ticos, teve jogador expulso no fim por perder a cabeça e poderia ter sofrido mais gols.

A derrota celeste não se explica só pelo adversário, claro. O Uruguai teve sua pior atuação em Copas das últimas décadas. Simplesmente nenhum setor funcionou. Tabarez apostou na mesma formação das eliminatórias, um 4-4-2 com dois meias abertos. Pela esquerda, com Rodríguez, Cáceres e Cavani combinando, algumas jogadas até saíam. A transição, porém, era extremamente lenta. Diante de uma equipe que tem no sistema defensivo seu ponto forte, como a Costa Rica, fica difícil marcar gols. Ainda mais que Suárez estava de fora.

O Uruguai marcou seu gol numa bola parada em seu único momento de relativa dominação da partida, ocupando o campo adversário. No entanto, em momento algum jogou bem. A Costa Rica teve personalidade: vendo que o bicho não era tão feio, foi aos poucos se soltando. E se o primeiro tempo foi equilibrado por baixo, o segundo teve nível bem mais elevado por causa do time da América Central.

O empate se ensaiava em bolas alçadas na área. Lugano, Godín e Muslera bateram a cabeça a tarde toda. Pouco antes de Campbell empatar, o goleiro uruguaio já havia feito uma defesa difícil em tentativa pelo alto de Duarte. E o 1 a 1 foi um golaço: cruzamento pegando a zaga desprevenida e fora do lugar, tiro fulminante, na veia de Campbell. O Uruguai nem teve tempo de assimilar: aos 12, sofria o segundo gol, de Duarte, em um impedimento tão milimétrico que cabe absolver o bandeira. Gol em tese irregular, mas justíssimo, refletindo o momento do jogo.

Suárez, pelo jeito, não tinha mesmo condições de jogo. Afinal, precisando ganhar o jogo em tese menos complicado da chave, não entrou em campo com o time perdendo. Tabarez mexeu mal, mas não tinha muito o que fazer. Seu banco era Forlán, que estava em campo. Colocou Lodeiro, que entrou muito mal e Álvaro González. Faltou qualidade para mudar o que ocorria. Houve uma ou outra chegada perigosa a partir de Cavani e Rodríguez, mas Tabarez sacou Cebolla em favor do limitado Abel Hernández. Era a pá de cal em qualquer pretensão de empate, esta mexida equivocada do Maestro.

A Costa Rica flanava em campo. No seu 3-6-1 enganosamente defensivo, levava perigo sempre que tinha a bola no pé, pois se defendia de forma organizada e pegava um time nervoso, diante de um cenário inesperado, e completamente desorganizado. O gol que definiu a parada, de Ureña, poderia ter ocorrido bem antes. Veio em lançamento precioso do ótimo Campbell às costas de Godín. O predestinado reserva ainda contou com uma saída absolutamente mal feita de Muslera, que saiu do gol para abrir o ângulo do atacante, em vez de fechá-lo. A tarde iluminada dos Ticos foi também para se esquecer da Celeste.

O resultado não só complica a vida do Uruguai no Grupo D, como reverte toda a lógica da chave da morte. Ganhar da Costa Rica era o básico para os três favoritos, e buscar pontos nos confrontos diretos seria o complemento. Agora, a seleção de Jorge Luis Pinto passa, necessariamente, a ser uma candidata forte à classificação. Ganhou do Uruguai, então porque não poderia tirar pontos de Inglaterra ou Itália? A sorte de ingleses e italianos é a de entrarem mais precavidos diante dos costa-riquenhos.

Quanto ao Uruguai, a situação fica delicadíssima, dramática. Precisará arrancar ao menos 4 pontos contra as duas potências europeias e torcer por um perde-ganha nos demais jogos - até mesmo ganhando as duas que restam não teria classificação assegurada. A volta de Suárez, mais que um alento, é uma necessidade de sobrevivência. Ainda assim, a derrota de hoje não se explica apenas pela ausência de Luisito. Será preciso jogar muito mais para fazer um enfrentamento minimamente decente contra Inglaterra e Itália. Hoje, contra a Costa Rica, esteve longe disso.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo D - 1ª rodada
14/junho/2014
URUGUAI 1 x COSTA RICA 3
Local: Castelão, Fortaleza (BRA)
Árbitro: Felix Brych (ALE)
Público: 58.679
Gols: Cavani (pênalti) 23 do 1º; Campbell 8, Duarte 11 e Ureña 38 do 2º
Cartão amarelo: Lugano, Cáceres e Gargano
Expulsão: Maxi Pereira 48 do 2º
URUGUAI: Muslera (4), Maxi Pereira (3,5), Lugano (4,5), Godín (5) e Cáceres (5); Arévalo (4,5), Gargano (4,5) (González, 14 do 2º - 5), Stuani (4,5) e Rodríguez (5,5) (Hernández, 30 do 2º - 4,5); Forlán (5) (Lodeiro, 14 do 2º - 4,5) e Cavani (6). Técnico: Óscar Tabarez
COSTA RICA: Navas (6,5), Duarte (7), González (6,5) e Umaña (6); Gamboa (5,5), Borges (6,5), Tejeda (6,5) (Cubero, 28 do 2º - 5,5), Ruiz (7) (Ureña, 37 do 2º - 6,5), Bolaños (7) (Barrantes, 43 do 2º - sem nota) e Díaz (5,5); Campbell (8). Técnico: Jorge Luis Pinto

Comentários

Chico disse…
Após fiasco, Celeste é eliminada com duas rodadas de antecedência.

Lugano totalmente perdido na marcação, Rodríguez não criou nada, forlán um fracasso e Abel Hernández foi horrível.
Vicente Fonseca disse…
Ficou complicado mesmo. Acho que o Uruguai tem chances contra a Inglaterra, por exemplo, mas pra passar a Itália teria que perder pontos nos seus dois jogos ainda. Muito difícil.