Nada mais celeste
Foi com sofrimento, claro. Não poderia ser diferente, afinal, o Uruguai estreou perdendo para a zebra Costa Rica e tinha a necessidade de vencer Inglaterra e Itália para seguir vivo na Copa do Mundo. E não há nada mais celeste neste mundo do que ser surpreendido por uma seleção na qual ninguém aposta e se engrandecer perante dois campeões mundiais. O Uruguai cumpriu sua biografia nesta fase de grupos da Copa, e chega fortíssimo às oitavas de final para o provável duelo sul-americano com a Colômbia, no mesmo Maracanã que o viu bicampeão do mundo, 64 anos atrás.
Quem via a escalação uruguaia via também os mesmos 11 jogadores que derrotaram os ingleses. A formação colocada por Maestro Tabárez, no entanto, era bem diferente. Seu time espelhou o de Cesare Prandelli: Cáceres, de lateral direito no Itaquerão, virou hoje zagueiro pela esquerda no 3-5-2 de Natal. No meio, dois alas, Arévalo como único volante e Cristian Rodríguez e Nicolás Lodeiro como meias que subiam e desciam o tempo todo. Mas não funcionou, pois Lodeiro mais marcava que subia, e obrigava Cavani a voltar demais, deixando Suárez isolado na frente.
A proposta defensiva não deu a resposta esperada, mas tinha um objetivo: o Uruguai é um time mais reativo que propositivo, e esta formação tinha o objetivo de esperar a Itália. Este time italiano joga mais do que os anteriores, que mais esperavam que saíam para o jogo. Então, mesmo precisando só empatar, a Itália saiu para o jogo, mas foi controlada. Não teve sequer uma chance de gol no primeiro tempo. Balotelli esteve mal, Immobile não formou nunca uma dupla com ele, e Pirlo, mesmo recuado como gosta, não conseguiu acioná-lo. Verratti fazia ótima partida saindo de trás, e até Chiellini se aventurava à frente quando a Celeste recuava. O Uruguai marcou bem, não foi acossado, mas faltava agressividade. As poucas chegadas perigosas foram da Celeste, e vinham nas raras vezes em que Lodeiro, Rodríguez, Cavani e Suárez se aproximavam.
Para o segundo tempo, Prandelli tomou uma medida ousada, mas correta: retirou Balotelli, que estava prontinho para ser expulso e estava mal tecnicamente, colocando Parolo. Pelo lado uruguaio, a troca foi de Lodeiro por Maxi Pereira. Cáceres saiu da lateral direita e foi para a esquerda, e Álvaro Pereira passou ao meio-campo. O jogo seguia, porém, muito igual. Rodríguez quase marcou em bola sensacional enfiada por Suárez a ele por sobre a zaga, mas o tiro saiu torto, aos 13. No minuto seguinte, porém, veio o lance que mudou o jogo: a expulsão de Marchisio - correta, pois foi de sola por cima da bola.
Com um a mais, enfim chegava a hora de o Uruguai ir para a pressão. Prandelli colocou Cassano no ataque para maior retenção de bola, pouco depois de Tabárez colocar Stuani no lugar de Álvaro Pereira. Faltava criatividade à Celeste, sempre o grande problema desta seleção, mas com paciência algumas chances eram criadas. Mesmo com quase nenhum espaço, Suárez conseguiu aproveitar uma sobra de bola na entrada da área, invadiu livre, mas Buffon fez milagre. A má partida de Cavani dificultava a vida de Luisito. E a Itália seguia se enchendo de defensores. Saiu Verratti, entrou Thiago Motta, para fortalecer a frente da área e dar mais bola aérea defensiva.
De nada adiantou. Em lance parecidíssimo com o que deu o gol do título espanhol deste ano ao Atlético de Madrid, Godín subiu soberano em escanteio do lado direito batido por Gastón Ramírez e fez o heroico gol da classificação. Um tento merecido para aquele que já era, desde o primeiro tempo, o melhor jogador da partida. Godín foi perfeito nos desarmes, por cima e por baixo, e ainda fez o gol da classificação. O jovem Giménez, a seu lado, e Cáceres, do outro, foram igualmente perfeitos. Ajudaram a Celeste a segurar a vantagem nos 15 minutos finais.
O Uruguai cresce demais com a classificação, e mostra que, zebra na estreia à parte, tem uma das seleções mais fortes da Copa, capaz de bater campeões como Inglaterra e Itália quando preciso. Hoje, foi praticamente um mata-mata vencido pela Celeste, contra um dos times mais fortes do Mundial. Sim, a Itália de Prandelli deu azar no sorteio, como todos do Grupo D. Fez uma ótima estreia diante dos ingleses, cansou contra a Costa Rica e hoje sucumbiu à inferioridade numérica, a uma camisa pesadíssima e à impressionante raça charrua. Ainda assim, o ideal seria Cesare Prandelli seguir comandando a seleção, ou ter sua filosofia continuada, sem terra arrasada. Ao contrário de 2010, a Itália não deu fiasco em 2014, deu azar. Tem uma seleção talentosa e de futuro.
Em tempo:
- Suárez deu sorte de Marco Rodríguez não ter visto sua mordida em Chiellini - e o italiano de não ter sua cotovelada notada no mesmo lance. Se o Comitê Disciplinar da FIFA mantiver seu histórico, punirá o centroavante com suspensão. Seria um desfalque e tanto para pegar a Colômbia.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo D - 3ª rodada
24/junho/2014
URUGUAI 1 x ITÁLIA 0
Local: Arena das Dunas, Natal (BRA)
Árbitro: Marco Rodríguez (MEX)
Público: 39.706
Gol: Godín 35 do 2º
Cartão amarelo: Muslera, Arévalo, De Sciglio e Balotelli
Expulsão: Marchisio 13 do 2º
URUGUAI: Muslera (6), Giménez (7), Godín (8) e Cáceres (7); González (6), Arévalo (6), Lodeiro (5,5) (Maxi Pereira, intervalo - 5,5), Rodríguez (6,5) (Ramírez, 32 do 2º - 6,5) e Álvaro Pereira (6) (Stuani, 17 do 2º - 5,5); Cavani (5) e Suárez (6,5). Técnico: Óscar Tabárez
ITÁLIA: Buffon (7), Barzagli (6), Bonucci (6) e Chiellini (6,5); Darmian (5), Verratti (7) (Thiago Motta, 29 do 2º - 5), Marchisio (4), Pirlo (6) e De Sciglio (5); Immobile (4,5) (Cassano, 25 do 2º - 5) e Balotelli (5) (Parolo, intervalo - 5). Técnico: Cesare Prandelli
Quem via a escalação uruguaia via também os mesmos 11 jogadores que derrotaram os ingleses. A formação colocada por Maestro Tabárez, no entanto, era bem diferente. Seu time espelhou o de Cesare Prandelli: Cáceres, de lateral direito no Itaquerão, virou hoje zagueiro pela esquerda no 3-5-2 de Natal. No meio, dois alas, Arévalo como único volante e Cristian Rodríguez e Nicolás Lodeiro como meias que subiam e desciam o tempo todo. Mas não funcionou, pois Lodeiro mais marcava que subia, e obrigava Cavani a voltar demais, deixando Suárez isolado na frente.
A proposta defensiva não deu a resposta esperada, mas tinha um objetivo: o Uruguai é um time mais reativo que propositivo, e esta formação tinha o objetivo de esperar a Itália. Este time italiano joga mais do que os anteriores, que mais esperavam que saíam para o jogo. Então, mesmo precisando só empatar, a Itália saiu para o jogo, mas foi controlada. Não teve sequer uma chance de gol no primeiro tempo. Balotelli esteve mal, Immobile não formou nunca uma dupla com ele, e Pirlo, mesmo recuado como gosta, não conseguiu acioná-lo. Verratti fazia ótima partida saindo de trás, e até Chiellini se aventurava à frente quando a Celeste recuava. O Uruguai marcou bem, não foi acossado, mas faltava agressividade. As poucas chegadas perigosas foram da Celeste, e vinham nas raras vezes em que Lodeiro, Rodríguez, Cavani e Suárez se aproximavam.
Para o segundo tempo, Prandelli tomou uma medida ousada, mas correta: retirou Balotelli, que estava prontinho para ser expulso e estava mal tecnicamente, colocando Parolo. Pelo lado uruguaio, a troca foi de Lodeiro por Maxi Pereira. Cáceres saiu da lateral direita e foi para a esquerda, e Álvaro Pereira passou ao meio-campo. O jogo seguia, porém, muito igual. Rodríguez quase marcou em bola sensacional enfiada por Suárez a ele por sobre a zaga, mas o tiro saiu torto, aos 13. No minuto seguinte, porém, veio o lance que mudou o jogo: a expulsão de Marchisio - correta, pois foi de sola por cima da bola.
Com um a mais, enfim chegava a hora de o Uruguai ir para a pressão. Prandelli colocou Cassano no ataque para maior retenção de bola, pouco depois de Tabárez colocar Stuani no lugar de Álvaro Pereira. Faltava criatividade à Celeste, sempre o grande problema desta seleção, mas com paciência algumas chances eram criadas. Mesmo com quase nenhum espaço, Suárez conseguiu aproveitar uma sobra de bola na entrada da área, invadiu livre, mas Buffon fez milagre. A má partida de Cavani dificultava a vida de Luisito. E a Itália seguia se enchendo de defensores. Saiu Verratti, entrou Thiago Motta, para fortalecer a frente da área e dar mais bola aérea defensiva.
De nada adiantou. Em lance parecidíssimo com o que deu o gol do título espanhol deste ano ao Atlético de Madrid, Godín subiu soberano em escanteio do lado direito batido por Gastón Ramírez e fez o heroico gol da classificação. Um tento merecido para aquele que já era, desde o primeiro tempo, o melhor jogador da partida. Godín foi perfeito nos desarmes, por cima e por baixo, e ainda fez o gol da classificação. O jovem Giménez, a seu lado, e Cáceres, do outro, foram igualmente perfeitos. Ajudaram a Celeste a segurar a vantagem nos 15 minutos finais.
O Uruguai cresce demais com a classificação, e mostra que, zebra na estreia à parte, tem uma das seleções mais fortes da Copa, capaz de bater campeões como Inglaterra e Itália quando preciso. Hoje, foi praticamente um mata-mata vencido pela Celeste, contra um dos times mais fortes do Mundial. Sim, a Itália de Prandelli deu azar no sorteio, como todos do Grupo D. Fez uma ótima estreia diante dos ingleses, cansou contra a Costa Rica e hoje sucumbiu à inferioridade numérica, a uma camisa pesadíssima e à impressionante raça charrua. Ainda assim, o ideal seria Cesare Prandelli seguir comandando a seleção, ou ter sua filosofia continuada, sem terra arrasada. Ao contrário de 2010, a Itália não deu fiasco em 2014, deu azar. Tem uma seleção talentosa e de futuro.
Em tempo:
- Suárez deu sorte de Marco Rodríguez não ter visto sua mordida em Chiellini - e o italiano de não ter sua cotovelada notada no mesmo lance. Se o Comitê Disciplinar da FIFA mantiver seu histórico, punirá o centroavante com suspensão. Seria um desfalque e tanto para pegar a Colômbia.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo D - 3ª rodada
24/junho/2014
URUGUAI 1 x ITÁLIA 0
Local: Arena das Dunas, Natal (BRA)
Árbitro: Marco Rodríguez (MEX)
Público: 39.706
Gol: Godín 35 do 2º
Cartão amarelo: Muslera, Arévalo, De Sciglio e Balotelli
Expulsão: Marchisio 13 do 2º
URUGUAI: Muslera (6), Giménez (7), Godín (8) e Cáceres (7); González (6), Arévalo (6), Lodeiro (5,5) (Maxi Pereira, intervalo - 5,5), Rodríguez (6,5) (Ramírez, 32 do 2º - 6,5) e Álvaro Pereira (6) (Stuani, 17 do 2º - 5,5); Cavani (5) e Suárez (6,5). Técnico: Óscar Tabárez
ITÁLIA: Buffon (7), Barzagli (6), Bonucci (6) e Chiellini (6,5); Darmian (5), Verratti (7) (Thiago Motta, 29 do 2º - 5), Marchisio (4), Pirlo (6) e De Sciglio (5); Immobile (4,5) (Cassano, 25 do 2º - 5) e Balotelli (5) (Parolo, intervalo - 5). Técnico: Cesare Prandelli
Comentários
Por que Cassano foi reserva? Balotelli foi um grande fracasso. Lamentável a saída de Pirlo da Copa do Mundo.